Foto: Márcia Costa |
Por Juremir Machado
Somos milhões de uns. Somos também milhões de outros. Uns
dançam. Outros bailam. Uns assobiam. Outros chupam cana. Uns fazem. Outros
acontecem. Uns criam. Outros editam. Uns vão para a cadeia por indícios. Outros
ficam no Senado com fartura de provas. Uns vão em cana. Outros vão para as
Minas e Energia. Uns são derrubados graças a pretextos tirados de velhas e
sujas cartolas. Outros são empossados de fraque e estola por terem conspirado
pregando moral de cueca. Uns vão para casa com votos. Outros vão para o
Planalto sem o aval das urnas. Uns têm foro privilegiado. Outros têm o fórum e
os tribunais à disposição para ser condenados. Uns traficam recursos públicos.
Outros têm embargos negados. Uns fazem a lei. Outros mudam as leis que não
podem fazer. Uns fazem programas. Outros têm programa. Uns compram no mercado.
Outros se vendem.
Somos milhões de uns. Somos milhões de outros. Uns exploram
os outros. Uns ganham mesmo quando perdem. Outros são expulsos do jogo para que
não ganhem. Uns votam por convicção. Outros decidem por colegialidade. Uns
votam princípios. Outros se escondem nos casos concretos tratados como
abstração. Uns dizem o que a massa pode ver. Outros só veem o que não lhes é
escondido. Uns caem e são odiados pelo melhor que fizeram. Outros sobem e são
tolerados para reinstalar o pior. Uns a gente derruba. Outros a gente não deixa
voltar. Uns batem panelas quando interessa. Outros tapam os ouvidos para não
explodir. Uns fecham a janela e cozinham quando a coisa ferve no lado de fora.
Outros não têm panela para colocar no fogo. Uns elogiam a coerência da rosa em
horário nobre e nacional. Outros revelam a sua incoerência anterior sem
conseguir agendamento na mídia global. Uns perseguem. Outros são perseguidos.
Uns perseguem e depois acusam o perseguido de vitimização. Uns mamam. Outros
secam. Uns calam. Outros se ralam.
Uns são pegos na Lava Jato. Outros partem livres nos seus
jatos. Uns delatam. Outros têm algum recato. Uns pagam e inflam o pato. Outros
são jogados no mesmo balaio de gatos. Uns dizem que apenas relatam. Outros
recebem a versão dos fatos. Uns transitam sem julgamento. Outros não merecem
que se espere o trânsito em julgado. Uns odeiam os outros. Uns têm
auxílio-moradia e camarotes. Outros não têm casa para morar nem apoio para
sonhar com um teto. De uns se fala. Para outros não se acha lugar na pauta. Uns
são malas. Outros são mulas. Uns vivem na corte suprema. Outros morrem antes da
primeira instância. Uns recorrem ao latim para enrolar os que se defendem no
português. Outros projetam aprender inglês na esperança de um futuro melhor.
Uns juram que não mentem, no máximo omitem. Outros querem apenas saber a
verdade. Uns rasgam a Constituição em nome da legalidade e do combate à
impunidade. Outros são assassinados a tiros por denunciar condenações sumárias
à morte e esculachos da sorte e de autoridades.
Somos milhões de uns. Somos milhões de outros. Uns são
poucos e podem muito. Outros são muitos e podem pouco. Uns vivem e gozam.
Outros resistem e provam o pão que a justiça messiânica amassou. Quem se
interessa por isso?
Sensacional. Sensível e inteligente. Muito obrigado, Juremir. Um abraço fraterno. Jean Pierre Chauvin
ResponderExcluir