domingo, 26 de fevereiro de 2012

Márcia Costa

“Experimento aquilo que no momento meu corpo exige falar, aquilo que meu corpo quer dividir, transformar”.
 
O jardim da casa da bisavó, onde viveu sua infância, serve de base de pesquisa para o novo espetáculo que Ariadne Fernandes Filipe prepara em parceria com o pianista Tarso Ramos. Trata-se de um duo, onde música e dança se completam. Uma oportunidade para degustar o talento dessa bailarina de apenas 34 anos que trouxe de volta para Santos a sua arte.

A menina que começou a dançar aos 6 anos de idade para aprimorar seu desenvolvimento físico, sugestão de um ortopedista, deixou Santos quando moça para estudar em uma das melhores escolas brasileiras, o Colégio de Dança do Ceará. Foi lá, em Fortaleza, que conheceu o bailarino Edvan Monteiro, com quem criou a Cia Etra de dança – foram mais de 14 espetáculos de dança e várias performances. A fusão de dois talentos também deu origem a uma bela parceria amorosa.
Nessa entrevista, Ariadne conta um pouco da sua dança e do papel da arte em sua vida.

Como se formou bailarina? 
Fiz um teste ainda pequena para o Teatro Municipal, em Santos, mas não passei, e lá mesmo no local do teste minha mãe conheceu uma professora de balé e dona de academia que ofereceu uma bolsa de estudos. 
Me formei em balé pela Academia de Ballet Valderez, que em outras épocas era uma das – ou se não – a melhor academia de balé clássico de Santos. Concluídos os nove anos tradicionais de balé, dancei com outros grupos aqui em Santos mesmo.

Então fui para a universidade, pois minha mãe dizia que dançar não era meio de vida, e me vi obrigada a buscar um outro caminho. O que foi muito bom, porque ao entrar para a Unesp conheci outro universo, não artístico, o que me fez enxergar que a dança, não importasse como, fazia parte da minha vida. Entrei para um grupo de dança contemporânea da universidade e, em paralelo, fazia aulas com professores da Cia Cisne Negro de São Paulo.

Depois fiquei sabendo de um curso técnico de dança que tinha uma formação bem diversificada. Era o que eu estava procurando, só que esse curso ficava em Fortaleza e era conhecido como único no Brasil a formar bailarinos, professores e ensaiadores. Era o Colégio de Dança do Ceará. E me mudei pra lá. Nessa época, segundo semestre de 1999, meus caminhos se abriram e foi lá que sofri inúmeras transformações e influências. Fiz aulas com professores muito importantes, mas os dois professores que mais me influenciaram e transformaram a minha maneira de enxergar o corpo e a relação dele com a dança foram Flávio Sampaio e Ernesto Gadelha.

De quais experiências artísticas já participou? 
Minhas experiências artísticas mais importantes se deram em dois eventos importantes no cenário da dança hoje, a Bienal Internacional de Dança do Ceará e a Bienal Sesc de Dança de Santos. Esses dois eventos me abriram muitas portas. Conheci desde Ana Botafogo até Maguy Marin, Matilde Monier, Quasar Cia de dança, Grupo Corpo, Balé da Cidade de São Paulo, a Cia C de la B, entre outras. Foram inúmeras...

Conte um pouco sobre os trabalhos em parceria com Edvan Monteiro.
Minha parceria com o Edvan começou há 10 anos atrás, quando decidimos criar a Cia Etra de dança contemporânea. Durante esses anos criamos mais de 14 espetáculos de dança e algumas performances.
Essa parceria está, neste ano, comemorando 10 anos. Foram longos passos batalhando para fazer nossa dança, nos especializando, estudando, criando. Uma cumplicidade importante demais para ambos. Nossos caminhos também, com o amadurecimento da nossa carreira, nos levaram a criarmos trabalhos independentes da Cia Etra, que mantemos, pois ela é a menina dos nossos olhos. Mas também sentimos vontade de experimentar outras coisas, o que contribui muito para a nossa parceria.

Quais são seus projetos em Santos, atuais e futuros?
Desde que retornei à minha cidade, iniciei um trabalho de aula de balé clássico para adultos, além dos projetos da Cia Etra que são importantes. Também estamos aprofundando um novo espetáculo da Cia. Tenho um projeto independente da Cia Etra em parceria com o pianista e compositor Tarso Ramos.

Como é esse espetáculo que está produzindo com Tarso Ramos?
Bom, ele não possui um nome exato. Comecei pensando em um, mas pode ser que ao longo da pesquisa ele se transforme, então posso apenas dizer que o nome inicial no qual pensei e que tem sido o título do projeto é Monóculo.

O que posso adiantar é que será um espetáculo instalação e que conta com o apoio da Upah Soluções Culturais. Ele ainda está em um processo bem rudimentar de pesquisa, embora o Tarso já esteja bem adiantado em suas composições. Mas é como falei, é uma parceria, então um depende sempre do outro para que esse projeto possa acontecer.

Estamos agora em um processo de nos conhecermos, eu a música, e ele a dança. É tudo muito novo para o Tarso, visto que ele nunca trabalhou com uma bailarina, e é novo pra mim esse diálogo com a música, porque não quero que seja um trabalho onde as pessoas vejam o pianista que toca para a bailarina, porque, senão, a gente grava um CD e coloca para tocar. E não é essa a intenção, é um duo, onde a música deve completar a dança e a dança a música, esse está sendo nosso maior desafio.

Posso adiantar que a base da pesquisa é o jardim da casa da minha bisavó onde vivi minha infância. Do resto, estamos num processo de busca. Pretendemos estrear ainda esse ano.

Como são as aulas de dança que você tem ministrado?
Eu dou aula de balé clássico para adultos. É um projeto antigo que comecei a pôr em prática quando morava em Fortaleza. Resolvi trazer a ideia pra cá, dei um curso de três meses em 2010 no Sesc Santos. Esse meu projeto foca o aluno que não sabe dançar balé e que sempre teve muita vontade de aprender.
Eu estruturei um método baseado em tudo que aprendi de balé e reconfigurei para um corpo mais maduro e iniciante, sempre buscando atender às necessidades do aluno e, acima de tudo, fazer com que o aluno sinta prazer em dançar, que ele se sinta feliz de poder dizer que faz balé clássico, não importando a idade.

Estou agora oferecendo aula particular de balé. Quem estiver interessado pode me ligar no telefone 9134-7418 ou mandar um e-mail para ariffilipe@yahoo.com.br para agendar o dia e quanto tempo de aula deseja, então vou até a casa da pessoa e dou essa aula particular. As aulas também podem ser dadas em turma ou em grupos pequenos. Muita gente tem me pedido aula particular, pois prefere assim.

O que é arte pra você?
 
Essa pergunta para mim é bem simples, a arte para mim é um modo de vida. Eu acredito que ela é transformadora, é capaz de atingir grandes massas e pode ser formadora de opiniões. O papel da arte pode ser qualquer um,  livre de pudores, moralismo ou censura.

Acho que o bom artista é aquele que sabe ser generoso com sua arte no sentido de doar o seu maior drama ou sua maior alegria sem medo de ser ridículo, de estar certo ou errado, de ser criticado, porque criticas sempre vão existir mesmo. Acho que a arte deve entrar na vida das pessoas como um pequeno sopro e plantar ali uma semente, ou pode simplesmente atravessar e não deixar marcas, mas ser só uma passagem.
Ser artista é ser livre, é ter em si algo com que compartilhar, é não ter medo do certo, porque eu acredito que não existe o certo, existe a arte, e ponto.

Como é a dança que você pratica?
A dança que eu pratico é um pouco de tudo que acabei de falar sobre o que é a arte para mim. Não tenho algo como uma aula definida, eu experimento aquilo que no momento meu corpo exige falar, aquilo que meu corpo quer dividir, transformar.

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