Inicio aqui uma
série de entrevistas sobre as relações
entre a vida e a arte, entrevistando artistas brasileiros, Clarice Lispector,
Nélson Rodrigues em uma época que hoje podemos chamar de ‘ vivencial’ e ‘
mítica’ se dedicaram a esse difícil
gênero literário chamado ‘entrevista’, ambos tentaram ir além da
biografia com questões que focavam o
impessoal da vivência do entrevistado
com uma simplicidade que hoje nos parece espantosa. Para abrir esta série
começo com a atriz Maria Yuma
Maria Yuma – Marcelo Ariel, poeta
profundo, questionador... Vamos lá...
Marcelo
Ariel: Acredito que a arte é apenas um dos raios do Sol da vida e que suas
fontes se originam em lugares paradisíacos dentro desta camada profunda
da vida do espírito, chamada infância, fale um pouco sobre sua infância,
Maria e sobre os indícios de uma sensibilidade artística nela, onde vc nasceu e
como estas lembranças da sua infância são pensadas hoje por você?
Maria
Yuma: A palavra no pensamento, a imagem na memória e o
Sol aquece e ilumina a menina que sou sob árvores frondosas, riachos
translúcidos, pedras escorregadias, bichos domésticos, trabalhos braçais,
afetos sisudos, comida no tacho, pés descalços, ladainhas e festas no adro da
Igreja. Chorava para não ficar de anjinho nos eventos apesar da afirmativa de
ter nascido depois da reza. A arte como imposição de mãe, professora rural. A menina que temia olhares, vestida de papel
crepom cor de rosa ou azul, recitava de cor, trovas ou poemas recepcionando
autoridades em visitas escolares. Dotando-a de forte poder de concentração,
respiração, voz e excesso de autocrítica, décadas depois travestida em deboche
e crítica social ao tornar-se comediante
profissional.
Marcelo
Ariel:Como foi sua formação intelectual,quais
são os livros ,filmes e pessoas que
abriram para você, uma visão do mundo?
Maria
Yuma: O que sou, resulta da admiração a alguns professores
humanistas ou inquietos no curso ginasial. Alguns eram verdadeiros filósofos
outros, guerreiros em luta contra a passividade mental, falta de criatividade e
ignorância. Verdadeiros desbravadores num cipoal de carências referências, pois
a industrialização empregava adolescentes, tratados como adultos de diferentes
sotaques, culturas e costumes. A leitura não era hábito adquirido, era necessidade
escolar. Não havia preocupação com formação intelectual, o conhecimento foi
acontecendo por necessidade interna de crescimento espiritual, de mudança de
rumo, de destino. Tudo ao acaso, sem orientação. A não formação impedia acesso
à Faculdade, então vieram os cursos técnicos, neles, o teatro amador e a
descoberta de uma Escola de Arte Dramática, na qual fui inserida mais por
reconhecimento da luta pró-crescimento pessoal do que por dotes artísticos, a
partir daí sim, a apresentação aos gênios da literatura clássica e da
dramaturgia universal. O meio trouxe
discussões artísticas em todos os níveis e daí também, o hábito de ver filmes,
espetáculos, exposições que estivessem ao alcance. A pessoa que mais incentiva o
gosto pelo erudito foi Dr. Alfredo Mesquita, o fundador da EAD. Os filmes eram
indicados por Timochenco Wehbi, Lucia de Carvalho Mello, que me apresentou
também a obra do primeiro dramaturgo non-sense brasileiro: José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Qorpo Santo (Triunfo, 19
de abril 1829 — Porto Alegre, 1 de maio de 1883) ausente nas bibliografias
teatrais. Outros eventos intelectuais importantes me eram presenteados por
David Leroy e outros artistas com quem trabalhei ou convivi. Pude assistir a
muitos dos espetáculos do Teatro de Arena e do Teatro Oficina firmando a
dramaturgia brasileira, especialmente em São Paulo.
Marcelo
Ariel:Na sua opinião qual o papel espiritual da arte e do artista no mundo
contemporâneo,você como Fernando Pessoa e outros artistas é adepta da Ordem Rosacruz , fale um pouco sobre o
significado da espiritualidade dentro de sua concepção de arte?
Maria
Yuma: Quem busca arte ou a Ordem Rosacruz procura resposta para questões muito
comuns do tipo: “quem sou eu? De onde vim, para onde vou? Qual é o propósito da
vida? Creio que a arte deve expressar a necessidade de elevação cultural,
intelectual e espiritual do ser humano em qualquer tempo.
Marcelo
Ariel: Não poderia nessa entrevista deixar de falar de seus trabalhos no
teatro, quais foram as peças mais importantes e por quê?
Maria
Yuma: Tudo o que fiz, até aonde errei demais, foi-me de
grande importância pelo aprendizado, quase nada sei, estou sempre aprendendo. Entrei no teatro profissional fazendo pequenos
papéis em elencos de grandes atrizes e atores: Regina Duarte, Sergio Mamberti,
Eva Wilma, John Herbert, Carlos Silveira, Serafim Gonzales, Liliam Lemertz, Juca de Oliveira, Jorge
Cerruti, Paulo Cesar Grande, Osmar Prado, Francisco Milani, Lélia Abramo ,
Celia Olga Benvenutti, Teca Pereira e muitos outros. Fui dirigida por Roberto
Lage, Antunes Filho, Iacov Hillel, Miriam Muniz, Silvio Zylber, Alfredo
Mesquita, Paulo Hesse, Jorge Fernando, Fauzi Arap, Chico de Assis e outros,
tanto no teatro quanto em teleteatros na TV Cultura e alguns capítulos de
novela no SBT e no seriado “JOANA” idealizado por Regina Duarte e exibido na
extinta TV MANCHETE. Com a peça “ESPERANDO GODOT” excursionamos por todo o Brasil,
estreando em Brasília e de lá para o Teatro Amazonas de onde seguimos por todas
as capitais. Após apresentações no Rio Grande do Sul voltamos para São Paulo
onde tínhamos temporada na agenda do Teatro FAAP. A peça “UM ET NO SÍTIO DO
PICA-PAU AMARELO”, de Aziz Bajur, no TBC me deu troféu INACEM pela criação de
Emília e obtive também indicação ao prêmio de revelação de diretor numa
remontagem do infantil ‘A PRAÇA DE RETALHOS’, de Carlos Meceni. No cinema
minhas experiências se resumiram a curtas-metragens de estudantes quando eu
concluía o curso na EAD em 1970, então anexada a Escola de Comunicações e Artes
da USP. Na atualidade com Grupo Profissional de Teatro de Cubatão pesquisamos obras
de autores nacionais para futuras montagens. Entre eles estão: Dias Gomes, Benê
Rodrigues, Timochenco Wehbi, Isaac Gondim Filho e autores locais.
Parabens, Tia Yuma.
ResponderExcluirObrigada Pedro.
ExcluirObrigada Marcelo Ariel pela possibilidade de rever-me. Abraços e parabéns pelo teu trabalho cada vez mais denso!
ResponderExcluirParabens, estou muito feliz pela senhora . Beijos
ResponderExcluirObrigada querida. Obrigada!
ExcluirLindo trabalho, parabens Yuma.
ResponderExcluirÓtima entrevista !!!
ResponderExcluirQue rica vida, desde a infância !!!
Está imersa no início, no fervilhar do melhor de nossa Arte, comeu, bebeu e serviu os melhores pratos.
Que venham outros nacos dessas finas iguarias.
Yuma no palco. Já !!!
Parabéns por esta bela entrevista! Atriz Maria Yuma.Você é um ser abençoado, tenho orgulho de poder compartilhar com você nossa vida como Rosacruz. Gostei de ler fatos importantes de sua carreira Artística como comediante. Porisso de sua irreverência... rsrsrs Os méritos expostos são realmente seus; com erros e acertos como todos nós. Belo depoimento da vida espiritual que você prática na Ordem Rosacruz que faz parte do seu cotidiano.Parabéns pela Coragem!!! Obrigada por você existir!!! Mil Beijos!!! Celina Maria " Tudo vale a pena quando a alma não é pequena." Fernando Pessoa.
ResponderExcluirOra Hilma, por quem sois : É ótima a sua entrevista. Babei . (qu inveja!)-Que domínio de exposição de idéias e de informação. Seu depoimento é brilhante. Pelo menos, eu acho assim. Gostei e, particularmente, agradeço a menção do meu nomezinho.Você sempre segura,honesta e se revelando para nós e, por que não dizer, para a humanidade . rs rs rs
ResponderExcluirPARABÉNS !Depois vou repassar para os que eu puder que são citados no seu texto.
(Quando se é íntimo de alguém, nem sempre se percebe a grandeza do outro).- VALEU !SALVA DE PALMAS E UM GRANDE BEIJO DO AMIGO, Paulo Hesse
Sempre grandiosa, mesmo quando adornada de simplicidade, parabéns grande mestra pelo depoimento sincero. Te admiro imensamente.
ResponderExcluirPaulo Nunes de Faria.
Parabéns Dona Ilma excelente entrevista.
ResponderExcluirBeijo.
Que surpresa agradável, Ilma! Transparência, sensibilidade e um profundo conhecimento da vivência humana e de como lidar com as agruras da vida, saber até onde ir e a hora de parar para repensar o caminho e ir em busca de outras descobertas íntimas, tão necessárias para nossa alma. Vá em frente, parabéns pela entrevista densa e rica e que você possa se gratificar cada vez mais com suas escolhas. Fiquei muito contente de ter podido participar um pouquinho deste momento, com a foto. Beijo grande,
ResponderExcluirCoemara.
Querida Yuma parabéns pela belissima entrevista!!!! Você foi uma luz no inicio da minha carreira em 1976 quando fui seu aluno de História do Teatro na Contemporânea Escola de Artes!!! Você é uma referência constante de talento, inteligência, profissionalismo e intelectualidade que levarei comigo para a vida toda...atuação antológica em "Esperando Godot"!!!!Beijos, sucesso e nos veremos em breve!!!!Beijos do Paulo Hesse...
ResponderExcluirAchei interessante a sua entrevista. Para uma mulher de signo de peixes que não gosta muito de se expor é curioso. Muito bom! Eduardo zá...
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