segunda-feira, 30 de março de 2009


Andréa del Fuego é uma moça que guarda a incandescência e a docilidade no trato com palavras. Nasceu em São Paulo, em 1975, e tem nos prestigiado com a trilogia de contos Minto enquanto posso, Nego tudo e Engano seu (projeto contemplado com a bolsa de incentivo à criação literária da Secretaria do Estado de São Paulo), um romance juvenil Sociedade da Caveira de Cristal e um volume de crônicas Quase caio. Além disso, ilumina as antologias Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, 30 Mulheres que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira, Capitu mandou flores, entre outras. Lançou nesse mês Nego fogo pela Dulcinéia Catadora e mantém o blogue http://www.delfuego.zip.net/

A gente faz perguntas e ela responde num riscar de fósforo, com a mesma gentileza e leveza de seus cachinhos de idéia. Vale à pena conferir!
O fato de o livro de contos Nego tudo ter sido esgotado foi crucial à escolha do título: Nego fogo? Sua escrita é a da negação, como os negativos de fotos? Haja vista que os outros livros também possuem essa conotação Minto enquanto posso e Engano seu.

BB: Por que negando pela segunda vez?
Andréa del Fuego: Sim, um título saiu do outro já que é quase o mesmo livro. Minha escrita não tem um projeto por trás que a oriente, mas tem uma constância, uma vontade de seguir, melhorar, avançar, sair do lugar.

Como foi o encontro de Del Fuego e a Dulcinéia Catadora? Conte-nos sobre esse último lançamento.
Coleciono os livros da Dulcinéia, tenho quase todos. Um dia resolvi mandar alguns contos para a Lúcia, a editora, pois adoraria fazer parte da cartonera. A Dulcinéia Catadora é uma proposta arejada de publicação que, inclusive, está em muitos países da América Latina. O lançamento também é mais uma celebração de amigos na mesa de bar.

Quais as grandes diferenças entre teus livros? Ou há uma espécie de sequência?
Há os três primeiros livros de contos e há dois juvenis. A diferença entre eles se dá pela própria ocasião da produção de cada um. A cada livro se inicia um processo que se refere a ele e nunca ao próximo. O que serviu para um não servirá para o outro. É sempre do zero que surge um novo livro, não tenho a sensação de estar escrevendo o mesmo livro em cada título, mas possivelmente há um tema, um personagem ou um ruído recorrente.

Como foi essa vereda à escritura ao público juvenil (um romance e um livro de crônicas). Existe uma real distinção entre esse público e o adulto? Você concorda com essa categorização?
Se há uma distinção entre público adulto e juvenil é essa: o público juvenil é muito mais exigente, é um leitor que se lembra do título do livro e do personagem, nunca do nome do autor. É um leitor que não contextualiza como o público adulto, o livro se encerra nele. Tem sido interessante escrever juvenil, é um terreno enganosamente macio.

Fale-nos desse encurtamento do conto e o esfacelamento dos gêneros com a prosa poética. Você escreve pensando nisso? Como vê sua produção literária nesse contexto?
Não penso nessa transformação, nem no gênero. O que me levou, na prática, a escrever um conto curto ou curtíssimo foi a experiência com o blog. Comunicar-se em uma pílula, em segundos. Essa portabilidade do conto, para falar na palavra da vez, a portabilidade. A possibilidade de mudar de operadora mantendo o mesmo número, ou seja, mudar o veículo (livro-internet) sem perder a literatura. Esse exercício acabou em dois livros (Nego tudo e Engano seu) e só. Ao escrever romance nada disso serve mais, é o zero outra vez. Estou agora em pleno zero, começando um romance.

A internet contribui ao esvaziamento dos conteúdos ou é uma ferramenta promissora à produção artística?
Quanto à desvalorização do texto, tão “banalmente” exposto na rede, dou como exemplo um caso própria. Thays Lourenço, uma leitora do meu blog, produziu artesanalmente um livro com uma série que publiquei no blog. Ela enxergou o livro na tela. Ou seja, acho que a literatura carrega o livro, e não o livro carrega a literatura. A literatura pode ser exposta de inúmeras formas, inúmeras vezes e sempre terá a aura de um livro que é o seu veículo original. Outra coisa, estamos numa época fascinante de produção e publicação, e isso não deixa o leitor e o escritor menos capazes do rigor.

Tua arte caminha para...
... caminha para frente, escrevo com a experiência pessoal que se coloca disponível no processo criativo. Sobre essa experiência e memória vem a invenção. O estofo emocional e intelectual de cada personagem não sai do nada, sai do autor. Quanto mais o autor avança, maiores serão seus personagens. Quero caminhar para o futuro, como escritora, ainda que isso não se reflita nos livros e eles sejam lidos como lixo do tempo.

Conte-nos sobre os próximos projetos e os desejos ardentes.
Deve ser publicado esse ano, pelo Ministério da Educação, uma novela com o título provisório de O cobrador. A publicação é o prêmio do concurso Literatura Para Todos que ganhei em 2008. O livro será distribuído em bibliotecas das escolas estaduais, municipais e federais do país. Tenho um romance adulto inédito, Os Malaquias, que deve sair no segundo semestre e vem outro infantil chamado Irmãs de Pelúcia. Estou escrevendo outro romance adulto, e claro, mantendo o blog.

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