ZONA DE LEITURA - DOIS POEMAS DE CARMEN PICOS

Muse - Conrad Rosset

Por Carmen Picos


Borderline

Suspensa por um fiapo,
vivia na borda da linha
sem dedal.
Arteira de primeira,
tecia uma meia verdade
que a ameaçava com
um furo acidental.
Perdeu o salto agulha
da garça ao pousar.
O alinho, as bainhas da saia,
fios de cabelo.
Agora, cerceada
em camisa de força
perdeu as mãos de artesã.



Omega 3 (original)

No te atrevas a ofrecerme lisura a mi piel muerta y de escamas que necesito tu porosidad,
cuando me vienes tierno me ablandas y me mezclas demás.
Tú eres solar, yo sólo tengo un lunar.
Estamos en la buhardilla, los dos ahumados para la posteridad.
Acuérdate de mi sed, del miedo de estar a tu aire, deste aliento añejo,
de mi memoria diabética sin edulcorar.
Enciénde el último cigarro, me quiero morir en tu brazo de gancho haciendo boquita de pez.


Ômega 3 (tradução Manoel Herzog)

Não te atrevas a oferecer- me lisura à minha pele morta e de escamas que necessito tua porosidade,
quando me vens terno me abrandas e te mesclas demais.
Tú és solar, eu somente tenho um luar.
Lembra-te de minha sede, do medo de estar ao teu ar, deste hálito velho, de minha memória diabética sem adoçar.
Ascende teu último cigarro, quero morrer em teu braço de anzol fazendo boquinha de peixe.



Minibiografia

Nasci uma Carmen qualquer, imigrei, marinheira que sou, e me tornei mais Miranda que Picos.
Psicolóloga de língua e alma bipartida, quebro a cabeça em castelos de areia devidamente traduzidos.
Quando era menina, meus pais me gratificaram com um prêmio jabuti que perdi na mudança. Ele não sabia nadar.