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Bauman, que também escreveu sobre o culto à celebridade, se converteu em uma delas |
Com que comunidade se identificam os europeus? A local, a nacional ou a internacional? As crenças entre eles são compartidas ou rechaçadas? Se antes o desafio dos países era a independência, hoje é a interdependência global, disse o pensador polonês. “Não se pode cerrar fronteiras, estamos condenados a conviver no mesmo planeta e a viver com diferenças”.
O autor analisa que o divórcio entre poder e política gerou duas pressões contraditórias. Não existe poder sem política e vice e versa. “Mas o mercado é quem manda em nível internacional”. Sem contar com o poder político para fazer transformações importantes, as pessoas vão às ruas se manifestar. “A Europa é um laboratório para isso”, acredita. “Temos que dialogar com o diferente. A outra alternativa são as balas”.
Ele lembrou que a Comunidade Europeia impõe aos membros restrições para protegê-los do mercado. Por outro lado, europeus sentem-se pertencentes à humanidade, circulam na Europa. Podem trabalhar em vários países, mas costumam valorizar a sua comunidade local ou nacional mais do que a internacional.
A Europa abriga gentes distintas no tempo e no espaço. “Houve uma evolução das identidades ao longo do tempo. Antes pertencíamos ao lugar onde nascemos, pois nos movíamos pouco no espaço – à exceção dos
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Debates sobre identidade europeia ocorrem em Barcelona este mês |
Mas a diversidade tem preço. “Constantemente enfrentamos a diferença entre seres distintos, opiniões que não gostamos. Isso nos causa problemas, mas também nos traz grandes oportunidades”, disse. “A diferença entre as pessoas nunca desaparecerá. A confrontação das perspectivas é contexto para estimular a criatividade. A parte negativa é que as opiniões que não nos agradam mexem conosco, abalam nosso direito, nossa sabedoria. Há quem queira praticamente forçar o outro a enxergar que ele tem razão”. A este problema relacionou o fenômeno da “eco câmera”, como um espaço onde os sons que ouvimos são ecos de nossa voz.
Cooperação e solidariedade, insistiu, são condições para um futuro habitável e para a solução de um dos grandes problemas da Europa, como o desemprego, que em 2006 alcançava índices de 9%, e agora já está em 12%. O problema, segundo ele, é que hoje os trabalhadores dependem do patrão, embora este não dependa dos trabalhadores.
Bauman foi buscar em Richard Sennett, sociólogo e historiador norte-americano, propostas para sugerir a cooperação informal e espontânea como a melhor forma de vivenciar a diferença. Explicou que o diálogo deve ser baseado em três pontos. O primeiro é o informal: “não se começa uma conversa com lista de regras, senão vira monólogo. É preciso estar aberto. Não se entra preocupado em ter razão e em mostrar que os outros são imbecis, mas o contrário: se participa como professor, pois se tem o que falar, se tem experiências a compartilhar. Ao mesmo tempo, se participa como aluno, discípulo, com sensibilidade para aprender. É preciso assumir o risco da derrota, se não, não é diálogo. O outro item é o cooperativo, pois não há perdedores nem ganhadores, todo mundo acaba enriquecendo. A sabedoria e o conhecimento dos demais enriquecem a todos”.
Terminada a conferência, Bauman não ficou para uma conversa informal com seus leitores, ansiosos por um contato mais próximo ou um autógrafo seu. Provavelmente este intelectual que cruzou as fronteiras do século XX e XXI, objeto de discussão em bares, universidades e espaços artísticos já esteja cansado de equilibrar-se entre ser o pensador e o ser midiático que posa para fotos de Iphones.
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A fila formada no Centro Cultural do Mercado El Born para ver o intelectual midiático |
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