quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017


Ryan Mcginley - Kiss



Por Jean Pierre Chauvin


Já folheou o Kama Sutra? Vai lá. Espero você fazê-lo. 

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Viu o que ele diz, logo em sua epígrafe? Pois é: amor sem desejo não sobrevive. No mundinho hipócrita, careta e pseudomoralista em que infra-vivemos, a maior parte dos seres supõe que sexo é gozo. Não é. 

Pessoas que se orgulham de colocar tudo na frente, ou nas costas, de seus desejos (contabilidades, programação de viagens sempre distantes, definição prévia dos lugares que visitará ao longo de um passeio etc) costumam confundir sublimação de Eros com eficiência dos números. Não é. 

Desejo propicia Intimidade: preceito fundamental, especialmente se se trata de casais. Como digo a meus alunos, há muitos anos, a palavra “casal” não existe por acaso. Ela pressupõe acasalamento. Da mesma forma, o estado civil “solteiro” traduz outra obviedade: estar solto – ou por incapacidade em estabelecer laços, ou por falta de vontade, mesmo. É.

Já disse isso para amigas e namoradas. O que a falta de desejo (do outro) provoca em qualquer ser? A sensação de que algo não vai bem; quase culpa por aflorar mais que o outro; o sentimento de rejeição. A consequência é que o sujeito murcha, não porque falte água em si mesmo, mas no(a) parceiro(a). Não é?

Mire veja: não se trata de reclamação mequetrefe e imatura, mas de reivindicar o maior posto para o desejo. Vocês já leram o que o Leandro Karnal comenta sobre o casamento morno? Vejam lá: o beijo na testa é sintomático. O casamento foi a melhor invenção dos homens em prol da castidade. 

Você poderá pensar: “ah, que exagero”, isso só se aplica a relacionamentos com décadas de tédio e persistência. Repare bem nos casais à sua volta. Repasse a sua história afetiva com outras pessoas. Não precisa fazer alarde disso, nem consultar terapeutas. Precisou haver casamento para que o beijo à testa se instaurasse como novo regime? Não.

Diante de assimetrias sociais, supomos compensar parte da carência socioeconômica com a inclusão do próximo. Mas as incompatibilidades pessoais não se resolvem com cartão de crédito. Não se trata de nos acharmos melhores ou piores que os outros; mas de reconhecer que estamos (ou somos) diferentes. É.

Se essas diferenças impedem a sensação de maior plenitude possível, a suposta necessidade de companhia pode ser colocada em xeque. É complexo que um(a) parceiro(a) exija máxima parceria de alguém que não deseja. Pois é.

Em tempo: não se trata de cobrar doses de sexo; mas de cultivar o desejo e impedir que a avalanche dos cálculos, programas e planos sufoque o combustível dos afetos. Estes precisam ser maiores e mais contagiantes que a pilha de restos, não?

(19.II.2017 d.C.)

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