segunda-feira, 3 de abril de 2017

Por Flávio Viegas Amoreira

Cadeia Velha durante o Festival Mirada de 2016
Triste chegar a Santos e deparar com primeiro indício de nossa importância histórica fechado , sem uso, com primeiros sinais de deterioração no seu entorno recém reformado. A Cadeia Velha só tem uma função primordial: ser espaço de vida cultural, efervescência criativa, sediar as oficinas culturais que deitam raízes entre centenas de jovens sedentos de Arte. Uma meticulosa restauração que demandou 10 milhões de reais pelo Estado restituiu pujança e funcionalidade para esse Patrimônio Histórico da brasilidade. Durante três meses o solar foi sede de oficinas literárias, apresentações de teatro, dança, arte de vanguarda! envolvendo todas comunidades do Litoral até a decisão de fechamento trazendo sombras para nossa cultura.

A Cadeia Velha representa cadinho arquitetônico e cartão de visitas do Centro Velho: 170 anos a contemplam testemunha da Abolição, República, resistência libertária de toda gente santense onde ainda ecoam brados de liberdade da fibra paulista! A Praça dos Andradas tem tudo para ser nossa Praça Roosevelt onde se faz melhor teatro da Paulicéia: honrando Pagu, Plínio Marcos e Gilberto Mendes vários grupos de teatro e coletivos de criação audiovisual agitam aquele logradouro, não bastasse a presença contígua do Guarany!

A crise econômica não pode ser pretexto para desmonte cultural : as oficinas culturais expressam vida, conhecimento, espírito compartilhado;- muito triste imaginar que ocupada por uma obscura autarquia a Cadeia Velha vá permanecer de portas cerradas a noite e finais de semana: ainda creio na sensibilidade da Municipalidade para reverter descaso do Estado para com nossa ancestralidade e tradição de fomento intelectual. Inconcebível tanto empenho de restauro ser agora negado aqueles que são razão de ser duma comunidade: os seus poetas, atores, músicos, os artistas exilados em sua própria terra. Como dizia Sartre: "Todo silêncio é reacionário" e agradeço profundamente apoio desse jornal [o texto foi originalmente publicado em A Tribuna] a nossa causa de resgate do velho casarão imperial ao uso criativo das celas que imantam toda nossas tradições humanistas.

Não nos calaremos sob argumentos economicistas quando nenhum processo é mais desgastante para um patrimônio que sua sub-utilização: a melhor economia para a Cadeia Velha é ser recheada como inteligência, movimento incessante e cultivo através da Arte. É tendência mundial aproveitamento 24 horas de edifícios tombados: por quê só fruímos beleza arquitetônica em viagens ao Velho Mundo? Chegada hora de Santos olhar seu futuro linkado aos 500 anos de ocupação diante o mar e farol da nacionalidade. Salve, Salvem a Cadeia Velha! para Arte e Vida!

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