quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Jean Genet

Por Flávio Viegas Amoreira
"sinais da fresta / as manchas de gosma
lanternas sob acortinados
salgueiros ao pé da telharia
tiros fuzil / latidos / espelho
o papel consumido por um tinteiro de prata
solilóquio com as paredes / pedras de alvenaria nacarada
lama de sapatos / rastros de solitude
fumaça sarrenta / escárnio entre os ponteiros
as retas sobressaem ao ziguezagueio
o alvo muda
de aparador badulaques de Colette
fora do lugar uma puta ancestral
estende os braços
indifinidamente imita o gozo
reescreve o script
'não posso senhorita: a vagina da-me nojo
só é esse o ponto...'
quando cessa o expediente das redes e veleiros
a brisa normanda
repousa
contraluz
dissipando ais...
escrita parcelar
corpúsculos
é foda parnasiana tudo igual ao mesmo nefelibata
todo encontra em casa uma ilha
sempinterno
a filha d’Odisseu reclusa
o pente de Afrodite
guarda espojos que a mente sensitiva
se existida causa
a mão do postigo acode
do Sol contorno indefinido
ventania o peito estira das platibandas
é o Bósforo da alma o cú estreito
dessemelhando as coisas encarnadas
que suspiro arrefecido exangue
a carranca dum feto ocluso
desnatura a bárbara cona
ao ventre atendo movimento
metalógica guarida o Porto
étimo sonido do abjeto gozozo
a lembrança não airada
duma casa esparramada sobre as ondas
os olhos se enredam
verdejante Douro da minha fala o rio atlântico
da linga enrabando a foz do rabo ali disposto
a imagem maquilada atônita
não aspiro pó nem arcos de triunfo
nem que seja santa a buceta
'perdão senhorita : o ponto é que ela
a vagina não mo apetece
por bem tuas ancas escorro
as ancas guardando recôndito luxo."

flavioamoreira@uol.com.br

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