Alessandro Atanes
Mirar, palavra em espanhol para olhar. Daí Mirada, o Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, de 2 a 7 de setembro, dez dias com 31 espetáculos de 12 países. A cidade foi escolhida pelo Sesc logo por sua identidade portuária, “espaço de encontro de diferentes povos”.
Além daquele recebido pela cidade anfitriã, deve-se notar que o Sesc teve apoio também da cidade de Buenos Aires, “convidada de honra”, conforme o Clarín. Santos e Buenos Aires, estas duas cidades portuárias, são objeto de uma série de relatos em comum. Cidades irmanadas em diários de piratas como Cavendish ou Kanivet; como destinos trocados de imigrantes europeus que desembarcam em uma das duas acreditando ou querendo estar na outra, como acontece nos romances Navios Iluminados (1937), de Ranulpho Prata, e Barcelona Brasileira (2003), de Adelto Gonçalves.
Ponto alto desta relação é o conto O Aleph, de Jorge Luis Borges, sobre este objeto dentro do qual podemos observar todos os pontos do universo. De um bairro portenho da capital argentina, onde os personagens encontram um deste no porão, a narrativa ao final se afasta para Santos, onde, conta o narrador, o cônsul britânico Richard Burton, tradutor das Mil noites e uma, teria encontrado indícios de um aleph. Mas não seria esta justamente a natureza da cidade portuária: um aleph de todos os povos e cidades do mundo?
II
Os mais de 200 artistas e não sei quantos técnicos que passarão por aqui traçarão novo capítulo da vocação cosmopolita desta cidade. Seus relatos irão se unir a uma tradição cosmopolita de um já quarentão internacional Festival de Música Nova, da herança de uma cena cultural muito intensa nos anos 50 e 60. Em seus relatos artístico-biográficos o compositor Gilberto Mendes enumera uma série de compositores, instrumentistas, intérpretes e grupos que tocaram na cidade em suas turnês pelo Brasil, lista que cresce com as informações dos autores dos textos de Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos, livro organizado pela pesquisadora Heloísa Valente.
Se acrescentarmos às artes do palco a arte da escrita, vamos lembrar de Borges, Burton (ele foi cônsul realmente aqui e traduziu o clássico árabe para o inglês), os citados Prata e Gonçalves, até Guy de Maupassant, Júlio Ribeiro, Vicente de Carvalho, Rudyard Kipling, Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Claude Lévi-Strauss, Rui Ribeiro Couto, Elizabeth Bishop, Pablo Neruda, José Vasconcelos, Jorge Amado, Patrícia Galvão, Roldão Mendes Rosa, Plínio Marcos e os contemporâneos que seguem cantando esta esquina do mundo.
Mirar, palavra em espanhol para olhar. Daí Mirada, o Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, de 2 a 7 de setembro, dez dias com 31 espetáculos de 12 países. A cidade foi escolhida pelo Sesc logo por sua identidade portuária, “espaço de encontro de diferentes povos”.
Cena de Fiesta, do grupo chileno Teatro en el Blanco
Além daquele recebido pela cidade anfitriã, deve-se notar que o Sesc teve apoio também da cidade de Buenos Aires, “convidada de honra”, conforme o Clarín. Santos e Buenos Aires, estas duas cidades portuárias, são objeto de uma série de relatos em comum. Cidades irmanadas em diários de piratas como Cavendish ou Kanivet; como destinos trocados de imigrantes europeus que desembarcam em uma das duas acreditando ou querendo estar na outra, como acontece nos romances Navios Iluminados (1937), de Ranulpho Prata, e Barcelona Brasileira (2003), de Adelto Gonçalves.
Ponto alto desta relação é o conto O Aleph, de Jorge Luis Borges, sobre este objeto dentro do qual podemos observar todos os pontos do universo. De um bairro portenho da capital argentina, onde os personagens encontram um deste no porão, a narrativa ao final se afasta para Santos, onde, conta o narrador, o cônsul britânico Richard Burton, tradutor das Mil noites e uma, teria encontrado indícios de um aleph. Mas não seria esta justamente a natureza da cidade portuária: um aleph de todos os povos e cidades do mundo?
II
Os mais de 200 artistas e não sei quantos técnicos que passarão por aqui traçarão novo capítulo da vocação cosmopolita desta cidade. Seus relatos irão se unir a uma tradição cosmopolita de um já quarentão internacional Festival de Música Nova, da herança de uma cena cultural muito intensa nos anos 50 e 60. Em seus relatos artístico-biográficos o compositor Gilberto Mendes enumera uma série de compositores, instrumentistas, intérpretes e grupos que tocaram na cidade em suas turnês pelo Brasil, lista que cresce com as informações dos autores dos textos de Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos, livro organizado pela pesquisadora Heloísa Valente.
Se acrescentarmos às artes do palco a arte da escrita, vamos lembrar de Borges, Burton (ele foi cônsul realmente aqui e traduziu o clássico árabe para o inglês), os citados Prata e Gonçalves, até Guy de Maupassant, Júlio Ribeiro, Vicente de Carvalho, Rudyard Kipling, Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Claude Lévi-Strauss, Rui Ribeiro Couto, Elizabeth Bishop, Pablo Neruda, José Vasconcelos, Jorge Amado, Patrícia Galvão, Roldão Mendes Rosa, Plínio Marcos e os contemporâneos que seguem cantando esta esquina do mundo.
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