sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Ademir Demarchi

A cada campanha eleitoral parece que a coisa piora. Os nomes que esses candidatos oferecem aos eleitores... Já não é mais piada, parece mesmo que houve uma incorporação do cinismo, um cinismo tornado natural, o de ter para si os nomes mais extravagantes. Já não dá mais para saber se é ignorância quanto aos sentidos das palavras, inocência ou é cara de pau mesmo, tal a desenvoltura e orgulho com que muitos assumem essas “marcas”.

O nome de uma pessoa é como uma marca que se busca confirmar, não uma marca de um produto. Soa como um presságio para quem nomeia, um desejo do que a pessoa poderá vir a ser, como se tivesse nisso um destino. Por isso nunca é fácil escolher um nome. Há pessoas que recusam o próprio nome e o mudam ou se acomodam em apelidos ou diminutivos, geralmente definidos pelos que as cercam.

Houve um tempo em que um pseudônimo era mais importante que um nome, fato muito comum para escritores. Houve um tempo também em que, com as guerras, com a clandestinidade, para a segurança pessoal havia necessidade de um chamado “nome de guerra”, conhecido apenas por alguns. Grupos sociais renomeiam as pessoas com apelidos, mas candidatos, onde é que eles escolhem esses nomes?

Um filósofo da antiga Roma, Juvenal, já dizia que os homens ambicionam mais o renome que a virtude. Daí talvez a explicação para que candidatos se apresentem como nomes assim como “Homem Picanha”, com o bordão “a cidade está cheia de carne de segunda, agora quer Picanha”. É para rir?

Há aqueles que se definem pela profissão que os tornou conhecidos, como se a proficiência sugerisse que um indivíduo possa representar todos os outros. Nesse quesito é comum começar pela carteirada que se apresenta no adjetivo “doutor”, que a gente até aceita para um médico, mas aí logo aparecem os “doutores” advogados que nunca defenderam tese na academia mas usam o título. Os doutores, como se percebe, já vêm com um indício de soberba.

Depois podemos seguir em frente encontrando variadas profissões como Alfaiate, Enfermeiro, Rodoviário, Carteiro. Logo dá para notar que muitos já não são possuídos por uma profissão, mas por um lugar que os aprisiona e de onde querem sair para esse lugar melhor que é a Câmara: Do Laboratório, Da Ótica, Da Farmácia, Do Açougue, Da Lotérica, Da Lojinha, Do Bingo, Do Lava Rápido, Da Ambulância, Do Samu, Da Asa Delta, Do Barquinho Dourado. Nossa! Parece que todos ali da pracinha são candidatos! E se formos indo para a periferia, logo encontraremos um do Gás, o Pasteleiro, a Loira do Táxi, o dos Games, um Cantor e o Tapioca. Este, um vendedor, tal como o da Cândida, certamente de produtos de limpeza.

E há uns que podem formar todo um setor curioso: o do Ferro Velho, o Ferrugem, o do Guindaste, o Maçarico, e o Negão do Caminhão. Esse é um que se pode dizer fez-se politicamente incorreto...
Mas há um Abençoado, um Sonhador, um Doido, um Bicho Pegô, um Tiazinha, e até uma Meire Experimente que a gente fica se perguntando se ela errou querendo se dizer experiente ou está a nos sugerir que a experimentemos. Na dúvida, melhor não. E quem vota em doido? Um sonhador, vá lá, mas doido e tiazinha?

E esses que são o Boca da Viação, o Tutu e o Jabá? Que negócio é esse quando vem logo o Furtado e o Fininho? Parece notícia policial. Gente trabalhadora: o Guerreiro, o Progresso, o Colaborador, a Obreira. E que se dirá do Bananeiro?

Se todo mundo pode, por que o Bebê, apesar da pouca idade que quer sugerir, não pode? Já os marmanjos estão se protegendo no diminutivo: Gordinho, Peninha, enquanto as mulheres estão se flexionando: Cidona, Fernandona. Caramba, é outro. Podemos citar o Carabina e em seguida o Pés Velozes e nos perguntarmos se este está correndo daquele...

Há uns animais, o Bodão, o Coelho, o Mico Preto. E há os da sessão açougue: o Cabeça, o Banha, o Pescoço, o Pankeka, o Pestana, que podem se juntar com o Homem Picanha.

Corre-se o perigo da Mesa Diretora se transformar numa Mesa Digestora; põe o Perivaldo do Gás, cozinha o Bodão e o Coelho com o Banha e chama logo a Meire e ela que Experimente enquanto a gente sai de Fininho e vai comer coisa melhor lá no Bananeiro!

1 comentários:

  1. Ademir
    E aquele outro, mais esperto que os seus eleitores, ainda dizia que pior não poderia ficar. Parecia mesmo impossível, mas a realidade nossa de cada dia, aí está.

    ResponderExcluir

Os comentários ao blog serão publicados desde que sejam assinados e não tenham conteúdo ofensivo.