quarta-feira, 6 de janeiro de 2016




Por Flávio Viegas Amoreira


Toda grande vida dum artista é narrativa do seu povo: ninguém expressou tanto o experimento, a criatividade e os limites da musicalidade brasileira quanto Gilberto Mendes: ele foi precursor de todas inventividades sonoras desse lado do Atlântico: um DJ clássico. Canto coral, baladas a partir de poemas, introdução dodecafônica e concreta no país que recém perdia Villa Lobos, - Mendes implodiu o bom mocismo nas estruturas sinfônicas e ao lado dos poetas concretistas deu-nos uma monumental plataforma sinestésica e imagética: antecipou a internet na Arte sem nem imaginar casamento da Web com Arte: foi nosso Bill Gates atonal e tranZmoderno. O que surpreende é que ao lado do cosmopolitismo do musicólogo que morou em Wisconsin e Texas lecionando, do compositor interpretado nas melhores salas de concerto desde Viena, Paris e Moscou e do jovem maestro estudando na fonte da Neue Musik na Alemanha havia o santista radicalmente comprometido com o mar de sua terra! Gilberto Mendes ao lado de Vicente de Carvalho e Plínio Marcos forma a tríade de santenses universais: criaram obras monumentais, deixaram gerações de admiradores influenciados por seu gênio e eternizam-se não provincianamente: deitam raízes eternas na cultura nacional! Não podemos imaginar que os mitos estão mortos nem supor que nossa cidade não vem gestando outros valores de inovação! O maior legado desse mestre plural, artesão e agitador é perpetuação de nossa capacidade de sacudir o marasmo e  vibrar com novos ´meninos da Vila´: na música erudita, na literatura, no teatro: Santos precisa sempre estar altura do seu maestro soberano que tanto a cantou! Jamais o esqueceremos, Mendes!



Flávio Viegas Amoreira é escritor e poeta 

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