sexta-feira, 13 de abril de 2012

Márcia Costa

  

A união do piano, do violino, da viola erudita e do baixo acústico produz o som único do Quatro Quartos. Ao ouvir a música do grupo, fechamos os olhos e nos deixamos levar por uma sensação de transe. Onde quer que se apresentem, estes quatro jovens vêm impressionando e emocionando plateias

Por isso, mais do que ler sobre o Quatro Quartos é preciso ouvi-lo:

 

Ao ouvi-los fica fácil entender como em tão pouco tempo juntos eles conseguiram enriquecer a música erudita contemporânea. Eles se influenciam por músicos israelenses, americanos, camaroneses, por grupos pequenos, pelas grandes orquestras. Toda a qualidade musical que os seus ouvidos atentos ousam captar (principalmente a diversidade cultural da internet) pode se transformar em material de pesquisa e se converter em arte. Isso vale para a música popular, o rock inglês, a música produzida para o cinema.

A marca mais forte do Quatro Quartos é a influência europeia, graças à formação dos músicos, que sempre tocaram música clássica em orquestras da Baixada Santista. E provavelmente foi isso que a princípio os uniu. Mas o grupo foi bem além disso.

Essa história começou quando jovens músicos (o mais velho deles tem pouco mais de 30 anos) se encontraram em 2011 e decidiram fazer a sua música juntos. Todo esse talento foi reunido pelo pianista Tarso Ramos, que nos fala nesta entrevista.

Como foi o início do Quatro Quartos?
O grupo surgiu no inverno de 2011. Sempre tive vontade de ter o meu grupo para tocar as minhas composições e algumas músicas de cinema, que eu tanto amo. Então, quando conheci os músicos, fiz logo o convite e eles aceitaram sem hesitar.

No início era Tarso Ramos em quarteto, mas depois foram surgindo boas composições de outros integrantes, assim como foram também opinando e modificando para melhor as minhas músicas, e achamos que deveríamos dar um nome ao grupo.

Quem faz o Quatro Quartos?
Tarso Ramos:
pianista e compositor. Minhas maiores referências musicais são as trilhas sonoras do cinema europeu e americano. Compositores como Henry Mancini, John Williams, Nino Rota, Ennio Morricone e Nicola Piovani sempre fizeram parte do meu repertório desde criança. Como pianista aprendi muito ouvindo Oscar Peterson, Erroll Garner e Bill Evans, e com os mais novos Keith Jarrett, Egberto Gismonti e atualmente Brad Mehldau.

Mas durante minha vida de estudante sempre busquei entender a música, compreender como eram feitas aquelas maravilhas que os grandes compositores faziam, e direcionei minha vida musical mais para a composição do que propriamente para o estudo técnico do piano. Isso também foi bom porque me liberou de estudar oito horas por dia (risos). Eu queria jogar futebol na praia com meus amigos também!

Robson Peres: violista e professor de música. Faz parte do BEC, a Banda Escola de Cubatão, onde faz aulas individuais de viola. Além de tocar no Quatro Quartos, faz trabalhos paralelos no sexteto do Jean Piaget, Sinfônica Jovem Unisantos e na Orquestra do Porto de Santos. Uma grande referência que teve para fazer esse tipo de som instrumental é o quarteto Apocalyptica!  Ele garante que um dia ainda alcança o nível técnico desses caras.

Bruno Davoglio: contrabaixista acústico e/ou elétrico. Fez o curso técnico de música do Conservatório Souza Lima. Toca na Orquestra Jovem da Unisantos, Orquestra do Porto e no Sexteto do Jean Piaget. Também atua na noite como músico free-lancer. Suas influências são mais voltadas pra música popular em geral (samba, jazz, Bossa Nova, Bebop/Hardbop, choro, fusion, entre outros.

Leonardo Mallet: iniciou os estudos musicais aos 14 anos, no curso de violão erudito do Teatro Municipal de Santos, com Antônio Manzione. Em 2003 passou a estudar violino com a professora Renata Jaffé no Instituto Pão de Açúcar. Formado, uniu-se à orquestra do instituto sob regência de Daniel Misiuk. Em 2007 iniciou os estudos com Marley Chamorro.

Junto com Robson Peres, foi integrante do grupo Tercina. Hoje, além do Quatro Quartos, Leonardo atua na Orquestra Jean Piaget e leciona música no projeto Escola Total na Escola Padre Waldemar Valle Martins, da Prefeitura de Santos.

Como é a música do Quatro Quartos? Como ela se caracteriza? Como ela é produzida?

A nossa música é caracterizada pelo minimalismo, pela consonância harmônica e melódica e pela repetição, o que acaba por provocar uma sensação de transe no ouvinte. É uma música mais caracterizada pela atmosfera sonora do que pela melodia.

Creio que temos um pouco de brasilidade natural, devido ao fato de tocarmos instrumentos acústicos, introduzimos o improviso e, no caso do piano, temos um instrumento percussivo, e até temos uma obra com traços bem brasileiros e alguns arranjos para outras músicas com características latino-americanas. Os integrantes do Quatro Quartos ouvem muita música, o que é excelente para o resultado do nosso trabalho. Gostamos de fazer música bem feita!

Nosso processo de pesquisa é feito em grupo. Um de nós traz uma composição, já com o arranjo escrito, e todos começam a opinar, trazer novos elementos, até que fique ao gosto dos quatro. Todos os nossos ensaios são feitos na frente de um computador conectado ao YouTube. Assim, sempre que alguém quer mostrar algum músico ou grupo, paramos o ensaio e ouvimos músicos israelenses, americanos, camaroneses, grupos pequenos, grandes orquestras. Tudo que for bom, estamos abertos para sermos influenciados.

O Bruno é o cara que mais tem cultura nesse sentido, e ouve muita música instrumental: jazz, soul, música brasileira, e ele sempre traz algum instrumentista de algum lugar inusitado do planeta para nos mostrar. Creio que a levada de baixo do Quatro Quartos acaba se tornando uma marca bem forte, aquele groove da música popular que misturamos com a música erudita contemporânea

Bruno, Leonardo, Robson e Tarso Ramos
Quais são as referências musicais do grupo?
O Quatro Quartos é um grupo com características não usuais, a começar pela formação: piano, violino, viola erudita e baixo acústico. Principalmente se estamos falando em Brasil, país no qual a formação mais utilizada em grupos instrumentais é de piano, guitarra, baixo e bateria.

Por isso nossa sonoridade soa tão original. Justamente por termos as cordas, nossa música sofreu influência europeia devido à formação dos músicos, que sempre tocaram música clássica em orquestras da Baixada Santista.

Mas nossas composições vão além, buscamos influências também na música contemporânea europeia com Max Richter, Michael Nyman, Ennio Morricone e na música norte-americana, com compositores como Philip Glass, John Adams, Steve Reich e Nico Muhly. O rock inglês também faz parte da escola musical do grupo, e Radiohead e The Beatles fazem parte do nosso repertório.

Mas nunca imitamos. Nossa música é nova, é original. Influências todos os músicos têm, mas o difícil é fazer algo novo com todas as informações que adquirimos na vida. E o Quatro Quartos consegue!

Quais as músicas produzidas pelo grupo até agora?
São muitas, não dá para falar sobre todas. Mas vou contar a história da minha composição Para Daniela.

Um dos compositores que mais admiro e ouço muito em casa é o estoniano Arvo Part. E minha esposa Daniela se acostumou a ouvir suas músicas comigo, sempre tranquilas, que nos levam a outra dimensão. A música dele que a Dani mais gosta chama-se Spiegel in Spiegel, na qual Part faz uma espécie de mantra com a escala de Fá Maior. Eu roubei a ideia dele para homenagear a Dani e fiz o que se pode chamar de um estudo com a mesma escala de Fá Maior.

 As pessoas se emocionam muito durante as apresentações do grupo. Por que vocês acham que isso acontece?
Acreditamos que a música é a arte mais direta que existe, ela toca fundo devido à frequência sonora que invade o nosso corpo e mexe com nossas células. Mas nossa música emociona porque fazemos com que ela seja digestível, de fácil compreensão e consonante, o que causa um equilíbrio no ouvinte, uma sensação de segurança e de prazer.

Não temos uma atitude de combate, não pretendemos gerar angústia, então, basta fechar os olhos e se deixar levar pelos acordes, pela atmosfera sonora...

O que a música erudita ou clássica provoca no imaginário das pessoas? Ela ainda tem a força que tinha quando surgiu?
A música erudita sempre terá força suficiente para impactar o homem. Mas acredito muito na modernização das linguagens, e é por isso que tenho lutado. No período em que estive à frente da Orquestra Jovem Jean Piaget, tive o cuidado que elaborar um repertório moderno, com muita música de cinema, com compositores como John Williams, Alexandre Desplat, Hans Zimmer, que fazem uma música erudita, mas com uma linguagem muito mais atual, que tem mais a ver com o nosso tempo.

Creio que, evoluindo junto com a sociedade, com o homem, a música erudita sempre será a mais forte de todas, a que toca o ser humano na sua mais profunda verdade.

Quais são os projetos atuais e futuros do grupo?
Além de estarmos sempre compondo e ensaiando nossas músicas, melhorando-as, no momento também estamos preparando um concerto em homenagem ao grande compositor e maestro italiano Ennio Morricone, que foi muito importante na formação da plateia de concerto no século XX. Sua música nos trouxe de volta a consonância e o prazer em ouvir música.

Queremos fazer essa homenagem de forma precisa, tocando a música de Morricone assim como ele a escreveu, pois é importante que todos conheçam a obra deste que é um dos maiores compositores da história da música.

Qual a próxima apresentação do grupo?

O Quatro Quartos tem um show no dia 15 de abril no SESC-Santos, às 18 horas, onde apresentaremos todas as nossas composições.

Para finalizar: o que é música?
Se me permitem, vou usar uma frase de Ludwig Van Beethoven: “A música é uma revelação mais profunda do que qualquer filosofia”.



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