segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Por Flávio Viegas Amoreira

Cartaz do poeta Vladimir Maiakovsky: “Ucranianos e russos gritam – Não haverá senhor sobre o trabalhador, Milorde!”
Novembro de 1917: da Rússia o mundo foi abalado em seus alicerces de conformismo com a
ordem burguesa. A Revolução de Lênin e Trotsky foi segundo grande questionamento de
privilégios e da opressão de classes: anunciava-se o sonho socialista real com a supressão da
monarquia, do feudalismo tardio, do capitalismo incipiente e a saída de Rússia da I Guerra
Mundial. Seria a concretização da utopia igualitária e a redenção do proletariado em nome da
justiça social e da liberdade radicalizadas.

Cem anos depois refletimos que o sonho impulsionou reformas em todo planeta: as democracias liberais perceberam que se não mudassem o efeito Moscou seria repetido planetariamente e o bolchevismos seria implementado globalmente por efeito dominó revolucionário. Mudança não seria mais considerada subversão: no Brasil mesmo os reflexos foram sentidos com a Revolução de 30 e
as reformas sociais de Vargas. Nossa cidade foi das mais influenciadas pela esperança
comunista sendo chamada mesmo "Moscouzinho" ou Barcelona Brasileira.

Sem ortodoxia e paixões precisamos reconhecer valor desse sonho tornado pesadelo: a Rússia teve um avanço estratosférico como nação e economia. De reino atrasado incluiu milhões de camponeses e operários a modernidade, venceu o nazismo, implementou um projeto educacional, cultural
e científico inigualáveis chegando ao apogeu nas artes, esportes e até conquista do espaço!

Quase tudo ruiu em nome do centralismo autoritário, a opressão assassina de Stalin e a
ineficiência do Estado em não suprir desejos da sociedade e a autonomia dos indivíduos. O
capitalismo ocidental soube regenerar-se com a social-democracia, as conquistas trabalhistas
e as ilusões de consumo. Não esqueçamos que a China ainda é nominalmente comunista,
fruto direto do experimento soviético: capitalismo de Estado que vem dominando nosso
século pelas bordas do Oriente.

Se a aurora comunista desfez-se em pesadelo totalitária a vontade visceral por mais igualdade não adormece: ainda convivemos com bilhões de esfaimados e analfabetos na era digital. Sem sectarismo ideológico é preciso ter perspectiva histórica para reconhecer quanto a Rússia deve ao novembro de 1917 pesando o preço pago para alcançar. O que aprendemos basicamente foi que as revoluções surgem para mudar o mundo, zerar as diferenças e instaurar a utopia não levando em conta que quem as faz são os homens com suas mazelas e imperfeições. A grande revolução deve partir do ser em sua
essência e prática cotidiana: sem mudar a vida não mudamos o mundo.

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