Por
Marcelo Ariel
Atenção, estranhem e entranhem tudo, aviso que não
utilizo a acentuação ortográfica vigente, mas uma acentuação anárquica e como
diria o Chacrinha não estou aqui para explicar, mas para confundir. Dito isto,
vamos em frente, aqui ressuscito a antiga coluna que assinava num antigo site
de cultura e pensamento que foi editado em Santos nos anos 90-00. O site
está desativado, pensando nele percebo agora que minhas colunas ali foram muito
mal escritas, era um momento em que havia no meu clone apenas uma desesperada
ansiedade de filosofar e desconstruir. Hoje, refém liberto de vários processos
de desilusão, ele escreve com mais nitidez sobre os mesmos temas, somos apenas
uma repetição da vida e irradiação onírica do pensamento de deuses inexistentes
e por isso absolutamente reais. Repetimo-nos
sempre como farsa da farsa, diz a História, e por isso ela é autêntica como um
pôr do Sol de catálogo. Aqui estamos escrevendo sobre estes temas abstratos
de tão concretos, como quem brinca de jogo de damas com peças de xadrez, de modo
cifrado, mas nítido. Dito isto, ele desafia qualquer um a saber qual é o enigma
do vazio que é no fundo o tema desta minha primeira coluna, o enigma do vazio cultural, não existe outro dentro dele,
é justamente esta ausência de Outro que o credencia a ser e estar agora em
qualquer esquina. Com a falência dos sonhos de consumo da New Classe Média
fundaremos a presença do diferente, principalmente em nós e ele e a História se
tornam uma miragem tão inofensiva quanto os Shopping Centers depois de um
Ciclone. A educação pelo Ciclone deveria ser o titulo desta nossa primeira
coluna, mas optamos por este outro nome. Atenção, o Brasil não está dividido nem
multiplicado, está subtraído, longe de sua dimensão utópica, havia gente
torcendo para a Alemanha no meio da eleição e não eram os profissionais da
revolta canalizada mas não canibalizada. Em breve ‘ O Festim Canibal e a Faixa
de Gaza para todos, não apenas para os índios
O hotel do vazio cultural se chama edital
Passo sem passar por todos os editais e o que vejo é a
resplandecente luz do vazio cultural, Patrícia Galvão contra Pagu, sobrevivendo ao projétil e ao projeto (Ver
Mário de Andrade como arquiteto do setor cultural-educacional), já nos dizia que por trás destas miragens chamadas de ‘Teatro Social’- leia-se
‘políticas de inclusão na tradução de hoje’ - viceja a exaltação da mimese
burra de uma sociedade de controle.
Nazistas sonhavam com o cheque em branco para a Cultura como a maior expressão
de uma política de controle sistemático da produção cultural, vamos ampliar
nossa visão e ver por dentro das zonas de exclusão, as aldeias enterradas de
tribos assassinadas, ou seja, processos originais de autonomia esperando para
serem ressuscitados desde Canudos no Xingu até outros lugares, como sites
libertários mais acessados e alguns apps quânticos para além do Multiverso, em toda parte os espíritos estão fazendo este ensurdecedor minuto
de silêncio.
Vamos falar de cinema, ou seja, de poesia
A
Polícia, os bandidos e os Editais estão
atirando em todas as direções e aqui e ali
aparecem sementes extraordinárias que originam plantas-catálogo de editoras como
a Patuá de São Paulo, meus fantasminhas
camaradas, louvemos e cantemos a difícil
Independência paradoxal dos editores-poetas como Eduardo Lacerda e Vanderley
Mendonça, que sejam louvados pelos silêncios dos silêncios das Nuvens. Quando chegarem os editais para os
livros de luz estaremos longe. Os Irmãos Dardenne não querem mais filmar um
documentário sobre Lula da Silva, agora que ele ganha uma aura trágica, Sokurov
não quer mais fazer o filme sobre Getúlio Vargas, agora que ele se torna a
referência para o PMDB Pós-moderno, ou seja para o PT. A dica de filme do mês é
A DANÇA DA REALIDADE de Alejandro Jodorowski, disponível para ver em streaming
na rede.
Mortos mais vivos do que os vivos, apesar da ausência
Leminski nas canções por Estrela e Téo e no
catálogo-educação da Cia das Letras, ouçam Leminskanções, é o disco do momento.
Outro disco do momento, anotem e baixem é ‘ Mestiça’ de Jurema Paes, são casos
de transfiguração do legado, coisa que o Brasil ainda não sabe fazer, mas as
Marias Bonitas da canção estão cantando a bola faz tempo. Você que está lendo
está coluna centenas de anos depois da morte do Real, preste atenção, meu amigo
ou amiga, o Google continua sem saber quem é você, leia Jiddu Krishnamurti, procure
no seu chip, você vai gostar dos discos dele. Pausa para tirar as botas de Van
Gogh do fundo do mar. Se você, meu leitor culto, disse Campos de Carvalho,
acaba de ganhar o troféu Itaú Cultural de sacação voluntária do que está
rolando desde o começo, um hibridismo feroz de Gláuber Rocha com Campos de
Carvalho.
Pensar é perigoso
Os poetas não estão fora do
mundo, nem em outro mundo...
Parece ser um péssimo senso
comum o que afirma que os poetas vivem fora da realidade, desligados dela ou
em outro mundo. Um poeta não conseguiria escrever um bom poema se vivesse fora
da matriz de todos os poemas, se vivesse fora do real, é justamente o oposto
que se dá entre os poetas. Eles vivem 'muito dentro do real', caso contrário,
como conseguiriam escrever sobre uma cadeira, um ninho de pássaros ou um
incêndio como se estivessem imersos e imantados por estas coisas. É mais fácil
levantar um muro do que escrever um bom poema. Poetas e escritores trabalham
com a solidão e não para a solidão e escrevem mais com a sensibilidade do que
com uma caneta, aliás a caneta apenas cava a sensibilidade ou o aspecto
sensível das coisas, suas camadas que podem ser digamos raspadas por uma frase
que pareça vir direto delas mesmas e não apenas do eu do poeta. Trata-se de
viver a imanência como uma obsessão. Ora uma pessoa que se deixa absorver pela
atividade de seu trabalho, um carteiro ou um médico até o ponto de se esquecer
de si, o que é terrível do ponto de vista do ser que é a lembrança de si que
permite a presença do Outro e não o esquecimento que torna o Outro um tormento,
uma oposição contínua, ora estas pessoas vivem uma espécie de imanência
negativa onde um fragmento do mundo toma o lugar de uma gama variada que se
confunde com o todo, o poeta tem uma natural inclinação para transfigurar esta
imanência negativa em uma percepção física do mundo do ser-no-mundo, do nomeno
do fenômeno, não é um escafandrista, tampouco um astronauta na calçada, é
alguém interessado no mundo e em seu acontecer, apenas isso e quem está
interessado no mundo jamais viveria fora dele.
UMA
LÁGRIMA NO ORVALHO PARA O POETA EDSON BUENO DE CAMARGO
Até a próxima coluna, que em 2015 todos os meses sejam
junho de 2014.
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