1) O que é poesia para você?
Poesia é o tesão da inteligência, é o orgasmo que provoca a recuperação da alma. Poesia é algo que me salva do afogamento ou do incêndio. Lembro que desde quando comecei a escrever e fazia isso com certa frequência (sem trema, agora, mas tremendo ao acaso...rs), o ato de produzir era imperativo...porque não podia dormir, era como estar engasgada de nuvem, tropeçando no sol das palavras que se acenderiam se eu pegasse o caderninho...somente se vomitasse os versos que atravessavam meu sono. Depois, gozava de espelhamento e a leveza deixa-me em outro movimento eufórico e em seguida mais brando, até a singeleza. Tem sido assim, desde sempre. Posteriormente vieram os estudos, o aprofundamento, a academia e os “papas” do lirismo insistentemente desmentindo o que sinto de antes: de que poesia é o blábláblá do trabalho (sim de parto), da transpiração (ora, o orgasmo). Nada disso me pega porque leio poemas que não me transformam, mas são apadrinhados pelo cânone, então, fodam-se as teorias e os intelectualismos poéticos. Quero comover-me. Para mim, poesia é uma morte, por isso, uma salvação... um resgate da gente, um perdoar-se.
2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?
Deve perseguir a espontaneidade... técnicas para impressionar leitor não valem de nada... é necessário que a poesia incendeie... é imprescindível provocar dores, espasmos, estupefações.
O segredo é sempre caminhar ainda mais pra dentro... escrever de olhos fechados para o mundo, construir imagens impossíveis e que representem os sentimentos que impulsionaram o ato... não levar preocupações para o poema... não se importar com escolas e oficinas, obedecer o que caminha bem dentro e que nunca ninguém leu ainda... respeitar as palavras, não as escravizar, sobretudo, respeitar os assuntos de cada um.
3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que destas escolhas?
Engraçado isso, mas a poesia primeira veio de Clarice Lispector... desesperei quando li Água viva, lá estava tudo o que procurava há tempos. O maior de todos é Drummond, por tudo que me atormenta ainda hoje, o que mais vem me tocando é “Tarde de maio”. Brecht mudou muita coisa em mim com Poemas de um manual para habitantes das cidades. Bem, para não ficar muita extensa a lista, cito os 3 últimos poetas que me atordoaram, Marcelo Ariel (a água-primeira), Léo Mackellene (o silêncio da árvore) e Fabiano Calixto - Sangüínea (agora com trema e tudo...rs), destaco “versos de circunstância”.
beijo no ventre dos versos
Beatriz Bajo (São Paulo/SP, 1980). Poeta, escritora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista
Nota: Este questionário foi originalmente pensado para ser publicado no site Cronópios, pedi para a B.B. me enviar e movido pelas poderosas forças do afeto o publicamos antes na Revista Pausa, onde estamos fazendo uma pequena e modesta cartografia da literatura brasileira contemporânea, pequena e modesta porque não tem a pretensão de eleger cânones, também a publicamos no Teatrofantasma...
Marcelo Ariel
adoro entrevistas.
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