terça-feira, 18 de setembro de 2012

Ciro Hamen, para o site Ó Minha Santos


Baseado no romance O Caderno Grande, da escritora húngara Agota Kristof (morta em 2011), a peça chilena Gêmeos, apresentada no Brasil dentro do Festival Mirada, no SESC Santos, é um deleite visual do começo ao fim. Utilizando apenas uma estrutura de madeira no meio do palco, como as de teatro de fantoches, o grupo teatral impressiona com o leque de possibilidades proporcionado em um espaço tão pequeno.

Com uma maquiagem muito bem feita e o gestual mecanizado, os atores se transformam em bonecos, o que dá o tom de conto de fadas ao espetáculo. Os gêmeos, do título, são dois garotos deixados pela mãe com a avó materna, depois que o pai sai para lutar no front da guerra. Os meninos são maltratados pela velha e começam a desenvolver mecanismos de defesa para lidar com os abusos. Passam a trabalhar arduamente e enfrentam até frio e fome na vila onde são conhecidos como "idiotas". A guerra começa a engrossar conforme a peça vai chegando ao seu fim, aos moldes de A Noviça Rebelde.

Apesar do tema pesado, há bastante humor, o que deixa as quase duas horas de peça bastante prazeirosas, mesmo com a tristeza acentuada pela trilha sonora. É também cinematográfico o espetáculo, usando muita linguagem de cinema, explícita no nome da companhia que apresenta o espetáculo: Compañía Teatro Cinema. A música é algo que às vezes fica bem próximo de Angelo Badalamenti, compositor dos filmes de David Lynch.

Mesmo no meio da crueldade, é possível se maravilhar com os coloridos de Gêmeos. Tudo muito lúdico e poético, lembrando bastante os antigos Contos de Fadas, exibidos no Brasil pela TV Cultura. É interessante ver o ponto de vista chileno sobre um assunto tão espinhoso como a guerra. Os nascidos no Chile parecem ter uma visão mais delicada sobre o horror da guerra, ainda mais depois de uma ditadura que ainda está bem viva na memória deles, e também sobre a deterioração da humanidade.

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