sábado, 14 de setembro de 2013



Alfredo Ruiz Chinchay, editor da Amotape Livros, de Lima, na abertura do primeiro número da coleção Aiapæc, a edição bilíngüe de 51 mendicantos, de Paulo de Toledo, levado ao espanhol por Óscar Limache. Leia mais sobre o projeto aqui.

Tradução
Alessandro Atanes

"O homem possui a si mesmo na medida
que possui sua língua."
Pedro Salinas

Amotape é um vocábulo tallán que significa “conselheiro ancião”. Este termo é usado também para dar nome a um povoado localizado no Departamento de Piura, no norte do Peru. Neste lugar, o cacique Amoxape foi queimado vivo por ser um dos primeiros índios tallán que se rebelou contra os espanhóis, e foi aí mesmo onde se radicou Simón Rodríguez, mestre e guia do libertador Simón Bolívar, aos 90 anos de idade.

Encontrar uma palavra que pudesse representar em si mesma a identidade do Peru é um completo desafio para mim. Mais complicado ainda quando desejava toma-la de alguma língua nativa de meu país. Grande surpresa nesta procura foi encontrar a palavra Amotape, que está muito ligada a meu local de nascimento, Talara.

No entanto, a identidade peruana contém um matiz mestiço alcançado graças a múltiplas culturas que habitaram nosso território e as diversas nações que nos acompanham até o dia de hoje. Foi nesse momento que decidi unir o vocábulo tallán com a palavra Livros, que representa o presente e a razão deste selo editorial.

Sem desejar, entendi que Amotape Libros devia ser uma editora com claro comprometimento com o país e com o continente. É então que chego a construir o primeiro ideal que motivaria o nome da presente coleção: revalorizar as línguas nativas do Peru sem deixar de lado o caráter mestiço que representa sua cultura.

Esta nova exploração de minha identidade relacionada ao de meu país é o que me levou a escolher a palavra Aiapæc.

Aiapæc é um vocábulo moxica que significa “aquele que faz” ou “fazedor”. Esta palavra também é utilizada para dar nome ao que se crê foi o deus que os antigos habitantes da costa norte peruana adoravam. No entanto, segundo pesquisas publicadas no recente livro de Antonio Salas García, Etimologías mochicas (2012), pode-se observar que a conclusão a que chegou Rafael Larco Hoyle para acreditar que esta palavra fazia alusão a esse deus degolador não foi de todo correta.

Agora, qual palavra em castelhano poderia acompanhar Aiapæc? A mesma que motiva o nascimento desta editorial e da coleção: Poesía, que vem do termo grego poiesis que significa “criação”.

Desejo deixar demonstrado que aqui não há nada de gratuito, que as palavras que constituem o nome do selo e da coleção foram escolhidas pensando em um projeto de revalorização da identidade peruana através de suas línguas e cultura ancestrais. É assim o projeto de estender pontes entre as culturas de nossos países vizinhos e com aqueles que se encontram em nossos continentes mediante a publicação de autores contemporâneos e clássicos, em edições bilíngues, quando for possível.

Desta forma, estimado leitor, o projeto que proponho através destas páginas (e das futuras) não é mais que um convite para empreender uma viagem ao universo da palavra e da poesia.

Alfredo Ruiz Chinchay

Referência
Paulo de Toledo. 51 mendicantos / 51 mendicantos. Edição bilíngue. Coleção Aiapæc. Lima, Peru: Amotape Libros, 2013.

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