Alfredo Ruiz Chinchay,
editor da Amotape Livros, de Lima, na abertura do primeiro número da
coleção Aiapæc, a edição bilíngüe de 51 mendicantos, de
Paulo de Toledo, levado ao espanhol por Óscar Limache. Leia mais
sobre o projeto aqui.
Tradução
Alessandro Atanes
Alessandro Atanes
"O homem
possui a si mesmo na medida
que possui sua língua."
Pedro Salinas
que possui sua língua."
Pedro Salinas
Amotape
é um vocábulo tallán que significa “conselheiro ancião”. Este
termo é usado também para dar nome a um povoado localizado no
Departamento de Piura, no norte do Peru. Neste lugar, o cacique
Amoxape foi queimado vivo por ser um dos primeiros índios tallán
que se rebelou contra os espanhóis, e foi aí mesmo onde se radicou
Simón Rodríguez, mestre e guia do libertador Simón Bolívar, aos
90 anos de idade.
Encontrar uma palavra
que pudesse representar em si mesma a identidade do Peru é um
completo desafio para mim. Mais complicado ainda quando desejava
toma-la de alguma língua nativa de meu país. Grande surpresa nesta
procura foi encontrar a palavra Amotape, que está muito ligada a meu
local de nascimento, Talara.
No entanto, a
identidade peruana contém um matiz mestiço alcançado graças a
múltiplas culturas que habitaram nosso território e as diversas
nações que nos acompanham até o dia de hoje. Foi nesse momento que
decidi unir o vocábulo tallán com a palavra Livros, que representa
o presente e a razão deste selo editorial.
Sem desejar, entendi
que Amotape Libros devia ser uma editora com claro comprometimento
com o país e com o continente. É então que chego a construir o
primeiro ideal que motivaria o nome da presente coleção:
revalorizar as línguas nativas do Peru sem deixar de lado o caráter
mestiço que representa sua cultura.
Esta nova exploração
de minha identidade relacionada ao de meu país é o que me levou a
escolher a palavra Aiapæc.
Aiapæc é um vocábulo
moxica que significa “aquele que faz” ou “fazedor”. Esta
palavra também é utilizada para dar nome ao que se crê foi o deus
que os antigos habitantes da costa norte peruana adoravam. No
entanto, segundo pesquisas publicadas no recente livro de Antonio
Salas García, Etimologías mochicas (2012), pode-se observar que a
conclusão a que chegou Rafael Larco Hoyle para acreditar que esta
palavra fazia alusão a esse deus degolador não foi de todo correta.
Agora, qual palavra em
castelhano poderia acompanhar Aiapæc? A mesma que motiva o
nascimento desta editorial e da coleção: Poesía,
que vem do termo grego poiesis que significa “criação”.
Desejo deixar
demonstrado que aqui não há nada de gratuito, que as palavras que
constituem o nome do selo e da coleção foram escolhidas pensando em
um projeto de revalorização da identidade peruana através de suas
línguas e cultura ancestrais. É assim o projeto de estender pontes
entre as culturas de nossos países vizinhos e com aqueles que se
encontram em nossos continentes mediante a publicação de autores
contemporâneos e clássicos, em edições bilíngues, quando for
possível.
Desta forma, estimado
leitor, o projeto que proponho através destas páginas (e das
futuras) não é mais que um convite para empreender uma viagem ao
universo da palavra e da poesia.
Alfredo Ruiz
Chinchay
Referência
Paulo de Toledo. 51 mendicantos / 51 mendicantos. Edição bilíngue. Coleção Aiapæc. Lima, Peru: Amotape Libros, 2013.
Paulo de Toledo. 51 mendicantos / 51 mendicantos. Edição bilíngue. Coleção Aiapæc. Lima, Peru: Amotape Libros, 2013.
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