Uma Denise sou eu
por Maria Cláudia
Não sou uma entendedora de literatura, mas
uma fruidora somente. Deste lugar, sempre achei que o bom livro traz o leitor
para dentro do texto de modo a confundir momentaneamente os níveis de
realidade. É quando dizemos que entramos no livro.
Uma
Denise faz algo diverso. Deste livro não se pode sair. Quando
forma e conteúdo se unificam em volutas labirínticas e se tenta sair,
esbarra-se sempre em mais uma instância de realidade. O novo e o eterno-drama-humano-desde-sempre
se conjugam e se misturam assim como as personagens, o autor desdobrado e o
leitor.
Alguns homens e outras tantas mulheres
interrogam a cada passo: quem? E a resposta surpreendente vem em forma de
vertigens e lágrimas: era eu o tempo todo!
O inescapável oráculo da sibila desnuda nosso
drama original e ao mesmo tempo o inescapável futuro como imperativo: erre!
Não se passa impunemente por Uma Denise. Não sem tomar consciência do
errar delirante da realidade cotidiana e sua reverberação na proto-realidade
que expondo a insuportabilidade do ser, oferece o milagre de novamente viver.
Milagre literário do ser, não-ser e vir-a-ser, concomitantes e errantes.
Maria
Cláudia é graduada em filosofia pela UFMG, mestre em História das Ciências e da
Saúde pela FIOCRUZ/RJ, formada em psicanálise pelo Campo Lacaniano de Belo
Horizonte e doutora em História da Arte pela UFMG. É professora de Filosofia e
História da Arte no curso de Turismo da FIH/UFVJM. (Nos intervalos gosta de
ler)
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