quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015


Uma Denise sou eu 

por Maria Cláudia

Não sou uma entendedora de literatura, mas uma fruidora somente. Deste lugar, sempre achei que o bom livro traz o leitor para dentro do texto de modo a confundir momentaneamente os níveis de realidade. É quando dizemos que entramos no livro.
Uma Denise faz algo diverso. Deste livro não se pode sair. Quando forma e conteúdo se unificam em volutas labirínticas e se tenta sair, esbarra-se sempre em mais uma instância de realidade. O novo e o eterno-drama-humano-desde-sempre se conjugam e se misturam assim como as personagens, o autor desdobrado e o leitor.

Alguns homens e outras tantas mulheres interrogam a cada passo: quem? E a resposta surpreendente vem em forma de vertigens e lágrimas: era eu o tempo todo!

O inescapável oráculo da sibila desnuda nosso drama original e ao mesmo tempo o inescapável futuro como imperativo: erre!

Não se passa impunemente por Uma Denise. Não sem tomar consciência do errar delirante da realidade cotidiana e sua reverberação na proto-realidade que expondo a insuportabilidade do ser, oferece o milagre de novamente viver. Milagre literário do ser, não-ser e vir-a-ser, concomitantes e errantes.  

O que fazer com Uma Denise? Odiar ou lhe dedicar uma eterna ternura?


Maria Cláudia é graduada em filosofia pela UFMG, mestre em História das Ciências e da Saúde pela FIOCRUZ/RJ, formada em psicanálise pelo Campo Lacaniano de Belo Horizonte e doutora em História da Arte pela UFMG. É professora de Filosofia e História da Arte no curso de Turismo da FIH/UFVJM. (Nos intervalos gosta de ler)




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