sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Everybody's Checkin' it Out, de  Layne Cook


Por Suzana Pires


A moça da padaria espera, teclando seu celular, na escada de entrada do prédio listrado de preto e branco.


Seu Beto dorme sentado em frente à loja fechada, espera, como todos os dias, as sobras de alimentos dos funcionários, para tratar os cães que ele acolhe com todo carinho depois de abandonados pelos seus donos. Estes, enquanto seu Beto dorme, circulam em volta passeando calmamente sem, porém, se afastarem muito de seu dono.


No carro, destes que nem se consegue decorar o nome, estacionado em lugar proibido, um jovem de boa aparência tecla seu telefone com cara de abobado e totalmente alheio ao mundo ao seu redor.

Angela conta para Rosa sobre o almoço de domingo, onde compareceram apenas dois dos convidados, e revela para a amiga que fizeram muitas piadas e riram muito dos convidados ausentes, despedem-se.


A senhora idosa, de cabelos totalmente alvos, deixa cair um envelope de remédio ao tirar da bolsa a chave da casa de madeira, a mais antiga da rua, que deve datar de, pelo menos, cinqüenta anos atrás.


Rogério, o artista, passa na calçada totalmente absorto, com olhar de galáxias e uma leve expressão de dor, devem ser contrações da nova obra que nasce. Sem perceberem-se, a moça sempre apressada cruza por ele, tropeça mais não cai e nem tira os olhos da tela.


Os malabaristas da sinaleira correm para aproveitar o intervalo do fluxo, não olho a performance, não se pode ver tudo nesta vida.


Luiz, o homem alegre do cão branco, está menos sorridente hoje, mas seu cão branco segue barulhento e astuto. Detém-se um segundo para cumprimentar Dona Geni, a mulher do cão sujo, ela tem TOC, todos sabem, pois lava as paredes externas da casa uma vez por semana, mas o seu cão, nenhum banho mensal sequer. Necessita materializar fora de si a sujeira que carrega na alma, pobre.


Um grande aglomerado de gente... revela a poucos passos uma moça deitada sobre o asfalto, o capacete rosa ainda está na sua cabeça e a pequena moto caída ao seu lado.  A polícia já está presente protegendo o corpo do trânsito implacável, não há sangue, há esperança.


O pôr do sol desentoca o casal que recolhe objetos recicláveis nas redondezas. Na semana passada ela mancava, já melhorou.


O distribuidor de revistas atravessa a rua sem olhar para os lados.


Os amigos de happy hour fazem barulho na esquina, nada que incomode Julio, o zelador que varre a calçada sempre no fim do dia.


O sol vai se por mais tarde hoje, primeiro dia do horário de verão. O inverno se foi e a primavera aponta na alvorada, e mais um dia termina neste lado do planeta azul.



Sobre a autora


Suzana Pires é repórter fotográfica por profissão. Fotógrafa ensaísta/documentarista e ativista política e ambiental.

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