domingo, 25 de maio de 2008

Abaixo, "A linguagem", texto lido por Marcelo Ariel na mesa-redonda sobre literatura na Virada Cultural em Santos, em 18 de maio, publicado também no blog do autor Ou o Pensamento Contínuo:

Marcelo_Ariel

"A linguagem foi criada para fixar a vida, mas ela não consegue fazer isso, ela apenas cava a aura da vida, sua aura de acontecimento puro imune a eventos e outras simulações, embora cave fundo e incessantemente, a linguagem jamais encontra um centro ou essência da vida para fixá-la em seu corpo de signos e sons. Por isso não acredito na linguagem como um lugar que será um dia visitado pela vida ou seja pela essência do acontecimento, mas apenas como uma ponte utilizada pelos que se afastaram muito dela por dentro para tentar atravessá-la
e vê-la ao mesmo tempo, enquanto outros se afastaram muito dela por fora, para tentar atravessá-la e controlá-la ao mesmo tempo.
Ambos fracassam, seja lá o que fizermos sempre estaremos nos afastando da vida por dentro ou por fora e estamos todos em cima dessa ponte erguida aqui sobre o rio morto das coisas-mercadoria, de um lado os escravos-fantasmagorizados por seu próprio reflexo nas águas do rio morto das coisas mercadoria se encontram conosco, nós os enfeitiçados e domados pela mistificação da linguagem, os escravos presos na ponte, que para nós é um local de observação, nos movemos por dentro através da ponte, os fantasmagorizados passam por nós e nós ficamos ali até que o silêncio e a morte unem as duas margens do rio, cancelando a ponte e finalmente fixando a vida em algo" .

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