quarta-feira, 28 de maio de 2008

Por Alessandro Atanes

Até 1º de junho ocorre em no Sesc Pompéia o intercâmbio Entre La Habana e São Paulo, em que quatro artistas do Taller Experimental de Gráfica da capital de Cuba promovem um workshop para a produção de um álbum de xilogravuras. São eles Julio César Peña Peralta, Luis Lara Calaña, Orlando Montalvan e Raimundo Respall.

A atividade começou nesta terça-feira, 27, com uma palestra de Respall, também escritor, sobre Alejo Carpentier, autor de O concerto barroco e criador do conceito de real maravilhoso, que também é motivo de uma exposição coletiva do grupo. Mas um dia antes, na segunda-feira, eles estiveram em Santos, no atelier do gravurista Fabrício Lopez, no Valongo. Ali, Respall falou com a Revista Pausa sobre Carpentier.

Apesar da proximidade com a expressão mais conhecida realismo fantástico, que marcou a literatura latina-americana a partir dos anos 60, o real maravilhoso de Carpentier, explica Respall, não se refere a mulheres que se elevam, a casas destruídas por formigas, a homens centenários, só para ficar em exemplos do Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez.

O real maravilhoso do autor cubano é menos fantasioso e se refere principalmente às características físicas das terras e do povo latino-americano, cuja realidade, se comparada com Europa, por exemplo, contém o maravilhoso.

E aí lembro das aulas do professor Júlio Pimentel de História e Literatura na América Latina nas quais dizia que maravilhoso não é só algo admirável, mas também o que causa estranhamento, diferença, é o que nos move, nos choca, nos tira do chão.

Um exemplo está no próprio O concerto barroco, em que uma orquestra comandada por Antonio Vivaldi se encontra com um grupo de tambores caribenhos levados para o velho continente por um rico mexicano:

"Preso o frenético allegro das setenta mulheres, que sabiam suas partes de memória de tanto tê-las ensaiado, Antonio Vivaldi arremeteu na sinfonia com fabuloso ímpeto, em jogo concertante, enquanto Domênico Scarlatti - pois era ele - largou-se a fazer vertiginosas escalas no clavecímbalo, tanto que Jorge Federico Haendel se entregava a deslumbrantes variações que atropelavam todas as normas do baixo contínuo".

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