quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009



Por Flávio Viegas Amoreira, dedicado a Eduardo Barrox, fotógrafo, poeta e editor do Jornal da Praça, agitador cultural de Sampa falecido em 10 de fevereiro de 2009

Roubaram-nos Eduardo Barrox
a morte não se fez indefesa nessa noite de verão
em qualquer canto da Praça Benedito Calixto
novos anjos tortos choram por um poeta que desconhecerá o triste futuro
roubaram-nos Eduardo Barrox!

as lentes calam as vulvas desabridas recolhem-se em cálice de amargor
serenas vulvas paulicentas entoando Jimmy Page e Caetano
a ladeira que levava loucos bêbados pela Teodoro Sampaio insone
agora diz uma brisa que os ares se tornam amargos sem sua enorme doçura
seios da aurora
eixos de ancas desnudas
escritores embriagados deitam-se sobre seus amantes que desconhecem
a voz da ausência torturante
roubauram-nos Eduardo Barrox

e não mais descerei a Oscar Freire com meus olhos marginais
não beberei do mesmo cálice de Roberto Piva
as objetivas tornam-se cegas miragens sem alvorecer
pelos lados da Vila Madalena causticante será a dor dessa
inapresença
não deitarei versos pelo vale de pinheiros
nunca mais a bonomia dum sorriso
o afeto meigo dum beatnik nunca mais
nesse mundo que enjeita os que se encantam de louco lirismo
nunca mais gritos nessa alcova aberta na Paulicéia
roubaram-nos Eduardo Barrox e com ele a possibilidade de dizer
o cotidiano mágico das verdades passageiras
um homem recosta-se num banco
alguém toma um ônibus na Cardeal Arcoverde
estilhaços ecoam sem qualquer zumbido aparente
o estrelhado não cintila no molde dum bardo
o céu calou-se
a penumbra nos convoca anunciar a tristeza
irremediável tristeza dos que partem cedo por excesso de saudade

3 comentários:

  1. Como sempre fazia, mas andava em débito, as vezes digitava “Eduardo Barrox” (que conheço desde os tempos de “Almeida Barros... ou Barros Almeida” – eu brincava com ele.) no Google para ver o que ele andava fazendo.
    Edú foi meu professor em 86 e 87, na Escola Panamericana de Artes e dela para cá nunca perdemos o contato. Nem mesmo por minhas andanças, nem pelas dele. Adorava todas as casas, stúdios e apartamentos por onde ele passou. E a matriz para onde ele sempre voltou que fora “ursa maior”, brechó, estúdio, refúgio.
    Estivemos pela última vez pessoalmente há uns 4 anos atrás. Num sarau na casa dele. Era sim o Edú muito polêmico, para dizer o mínimo. E eu amava essa figura de um jeito que as vezes ele questionava. Explicava que podia não concordar com tudo nele, mas o amor era isso, amar o pacote completo, as coisas lindas dele e as coisas que eu questionava.
    Fiquei tão chocada com a notícia! A última vez que nos falamos por telefone ele me disse que queria voltar para França. Olha só!
    Edú, sempre te amei. Te encontro lá do outro lado, provavelmente em um sarau.
    Amor, Má.

    Márcia Borlenghi
    WWW.interfacedg.com.br
    marrcia@interfacedg,com.br

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  2. My God!!!Quando conheci Eduardo...tive certeza que vivemos outras vidas juntos e muitas outras vidas...foi um flax back....mas,eu lia tudo em seu olhar...aquele olhar de àguia....que pessoa linda!!Jurei que não ia chorar e não vou!!!Isso só pode ter sido um acidente de percurso...te adoro seu gato felino!Até breve!!!

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  3. Que poema maravilhoso. Edu, está comigo todos os dias. aqui assim. quando eu pergunto e ele não responde vou no google fuçar e ele aparece. hoje em forma de poema. aí reencontro a Márcia borlenghi que foi a primeira pessoa que publicou alguma coisa sobre mim logo que soube que eu vinha pelas mãos dele...e aqui assim ele continua entre nós. sempre dia após o outro outro após o dia. com todo amor. rebecca

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