Alessandro Atanes, para o PortoGente
Escrevi uma vez sobre como no conto Emma Zunz, de Jorge Luis Borges, o plano de vingança elaborado pela protagonista faz com que ela se prostitua na zona portuária de Buenos Aires com o objetivo de, por meio da humilhação a que se expõe, garantir a veracidade necessária para que seu álibi – legítima defesa contra um ataque sexual – seja aceito pela polícia.
No caso acima, o ambiente do submundo portuário (prostituição, marginalidade, crime) empresta à narrativa, tanto a de Borges como a de Emma, as condições necessárias para a ambientação da vingança.
Coisa parecida ocorre no conto Vasto Mundo, de Maria Valéria Rezende, que esteve na segunda edição da Tarrafa Literária. Santista de nascimento, ela usa o porto de Santos para identificar um dos personagens com o universo das manifestações operárias. Pedro de Antonino, sapateiro natural de Farinhada, no Nordeste, roda o mundo e, na volta, as histórias que conta de suas andanças o transformam em um contraponto ao poder de Assis Tenório, coronel local, conflito que ganha contornos mais definidos durante a festa/ritual pastoril que divide a cidade entre as cores azul (Tenório) e encarnado (Antonino). Assim conhecemos o sapateiro:
É o Porto de Santos – com sua história ligada às manifestações operárias que se difundiram por todo o Brasil na primeira metade do século XX – que empresta ao personagem Antonino uma aura “encarnada” capaz de fazer com que ele, ainda que simbolicamente durante as festividades, exerça o papel de contraponto ao poder oligárquico de Farinhada, proporcionando à história a tensão necessária para seu desenvolvimento.
Referência
Maria Valéria Rezende. Vasto Mundo. In: Vasto Mundo. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2001.
Clique aqui para ler artigo de Alfredo Monte, crítico de A Tribuna, sobre o livro de Maria Valéria Rezende
Escrevi uma vez sobre como no conto Emma Zunz, de Jorge Luis Borges, o plano de vingança elaborado pela protagonista faz com que ela se prostitua na zona portuária de Buenos Aires com o objetivo de, por meio da humilhação a que se expõe, garantir a veracidade necessária para que seu álibi – legítima defesa contra um ataque sexual – seja aceito pela polícia.
No caso acima, o ambiente do submundo portuário (prostituição, marginalidade, crime) empresta à narrativa, tanto a de Borges como a de Emma, as condições necessárias para a ambientação da vingança.
Coisa parecida ocorre no conto Vasto Mundo, de Maria Valéria Rezende, que esteve na segunda edição da Tarrafa Literária. Santista de nascimento, ela usa o porto de Santos para identificar um dos personagens com o universo das manifestações operárias. Pedro de Antonino, sapateiro natural de Farinhada, no Nordeste, roda o mundo e, na volta, as histórias que conta de suas andanças o transformam em um contraponto ao poder de Assis Tenório, coronel local, conflito que ganha contornos mais definidos durante a festa/ritual pastoril que divide a cidade entre as cores azul (Tenório) e encarnado (Antonino). Assim conhecemos o sapateiro:
Aos catorze anos, já feito homem, grande e forte como um garrote, ganhou o mundo e, atraído pelo cheiro da maresia, foi-se para o lado do sol nascente. Arribou no porto de Cabedelo e embarcou no primeiro cargueiro que partia, sem saber para onde. Por muitos mares navegou, viu belezas e misérias inimagináveis, aprendeu retalhos de todas as línguas, aqueles que lhe serviam para viver e amar em qualquer lugar do mundo, até que o velho barco adernou e encalhou irremediavelmente junto à costa do sul. Farto de mar, Pedro reencontrou o gosto da terra firma e meteu-se de estivador no porto de Santos. Ali, em longas conversas com os homens mais velhos, encostados à sacas de café, à sombra dos grandes navios, descobriu a revolução que haveria de vir, a redenção dos desgraçados de toda sorte que pelo mundo vira.
É o Porto de Santos – com sua história ligada às manifestações operárias que se difundiram por todo o Brasil na primeira metade do século XX – que empresta ao personagem Antonino uma aura “encarnada” capaz de fazer com que ele, ainda que simbolicamente durante as festividades, exerça o papel de contraponto ao poder oligárquico de Farinhada, proporcionando à história a tensão necessária para seu desenvolvimento.
Referência
Maria Valéria Rezende. Vasto Mundo. In: Vasto Mundo. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2001.
Clique aqui para ler artigo de Alfredo Monte, crítico de A Tribuna, sobre o livro de Maria Valéria Rezende
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