Por Marcelo Ariel
Uma poesia afinada com as idéias do psicanalista e poeta Donald Winnicott , os escritos de Lucila de Jesus conseguem alcançar um equilíbrio intenso entre poemas que ligam o espanto com a beleza do mundo e o ponto e a linha de um silêncio que se interioriza, impossível separar aqui as imagens do mundo e a narrativa da vida, só havia encontrado esse tipo de abordagem antes em Anne Sexton, Hildegard Von Bingen e nos diários de Anna Akhmatóva, mas Lucila abre mão das imagens míticas em nome de códigos de linguagem capazes de ofuscar os limites entre exterior e interior, Lucila em alguns poemas se utiliza de uma coloquialidade que construída de dentro do corpo se harmoniza com o lugar das imagens míticas, essa fala do corpo se converte ela mesma, em linha de força do poema, que para ela continua através da luz e da cor em seus trabalhos de pintura e fotografia,o equilíbrio entre as fotos e os poemas anuncia a existência de um profundo e misteriosíssimo diálogo entre o silencioso lugar do mundo e o lugar do corpo, diálogo esse capaz de pacificar e ao mesmo tempo borrar as fronteiras entre a linha que parece separar o fora e o dentro e a linguagem escrita/falada, esse ponto oscilante da expressão, essa pequena estrela que o sol do silêncio alimenta. Uma poética que em sua abordagem da simplicidade do sagrado, me instigou a modificar minha visão do mundo e o meu próprio fazer poético.
Uma poesia afinada com as idéias do psicanalista e poeta Donald Winnicott , os escritos de Lucila de Jesus conseguem alcançar um equilíbrio intenso entre poemas que ligam o espanto com a beleza do mundo e o ponto e a linha de um silêncio que se interioriza, impossível separar aqui as imagens do mundo e a narrativa da vida, só havia encontrado esse tipo de abordagem antes em Anne Sexton, Hildegard Von Bingen e nos diários de Anna Akhmatóva, mas Lucila abre mão das imagens míticas em nome de códigos de linguagem capazes de ofuscar os limites entre exterior e interior, Lucila em alguns poemas se utiliza de uma coloquialidade que construída de dentro do corpo se harmoniza com o lugar das imagens míticas, essa fala do corpo se converte ela mesma, em linha de força do poema, que para ela continua através da luz e da cor em seus trabalhos de pintura e fotografia,o equilíbrio entre as fotos e os poemas anuncia a existência de um profundo e misteriosíssimo diálogo entre o silencioso lugar do mundo e o lugar do corpo, diálogo esse capaz de pacificar e ao mesmo tempo borrar as fronteiras entre a linha que parece separar o fora e o dentro e a linguagem escrita/falada, esse ponto oscilante da expressão, essa pequena estrela que o sol do silêncio alimenta. Uma poética que em sua abordagem da simplicidade do sagrado, me instigou a modificar minha visão do mundo e o meu próprio fazer poético.
Hilética
Tudo o que sei
sei sem saber.
Não aprendi,
só encontrei.
É que nasci
com os tendões
hiperextendidos.
muscular
- Você está diferente...
- É que estou morando dentro do meu corpo.
- E onde morava antes?
- Entre a distensão e a distorção.
Eu também tomo conta do mundo
Segurei a menina para que não pisasse na formiga
levava o triplo de si nas costas
alimento para todo formigueiro
a carga escorregava
a pequenina se entortava para equilibrar.
Ando devagar na faixa de pedestres
para em silêncio acompanhar a senhora
em suas lentas e frágeis pisadas
até o outro lado da rua
se ela escorregar eu escoro.
Os velhos e
as formigas
são invisíveis.
Eu,
que sobrevivi,
fiquei metida. contorno
Tocar a coisa dói.
Toda vez que conto um segredo perco a pele.
É terrível.
As veias ficam expostas
a qualquer contato mais bruto
vazam,
transbordam.
Nessa hora é urgente um abraço.
O corpo do outro recolhe o derramamento
coloca tudo no lugar e
milagre,
faz a pele regenerar.
Da Natureza II
Então eu,
e o ar
o compacto
pequeno e insignificante,
no incerto
espaço
o corpo começa nas fácias do crânio,
termina na planta dos pés
e ondula o infinito
Ensaio
Sem a mulher, o homem não pode ser chamado de homem.
Sem o homem, a mulher não pode ser chamada de mulher.
Hildegard Von Bingen
Exaustos,
mas descansavam juntos
o homem comprido,
a cabeça entre os seios
da mulher macia
-sabe, me sinto como um músico estreante numa orquestra em que você é a maestra...
o moço não lembrava
que toda mulher
rege
mas também descansa
gera
mas também chora
canta
mas também dorme
e que o abraço
é o lugar
onde escutamos a grande música. portal
Entre dentro
e fora
a dobradiça
do sonho
rústica
e quebrada
Liso
Deslizam
fugidios
córregos de desejo
entre os poros.
O beijo jorra
em cachoeira
contra o muro
no escuro.
O amor ansiado
é negro
branco
e amarelo.
Escorre,
na sombra
do dia. vocação
É preciso caminhar com leveza sobre a terra.
A. Naess
Espezinhada como formiga
assistindo o mundo
colapsar
devo decidir
trabalhar
para a continuidade
ou
desaparecer
no incompossível
Jesus e a verdade
Carvalho e a firmeza-permanenteHidelgard e a terra
Rosa e o credo
aceito;
a mulher
em mesmidade
é devoção.zelo
Luz lunar
guardava
e no leito das raízes
encontrei o presente.
Lenta e docemente
tiro as fitas
o papel de seda
e dentro da caixa
envolto em plástico bolha,
fragilíssimo
coração.
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