quinta-feira, 26 de abril de 2012

Alessandro Atanes
Jornalista, mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Servidor público de Cubatão, atua na assessoria de imprensa da prefeitura do município


Em um texto sobre propagandas de banco, terminei a última coluna defendendo o acento diferencial em “pára” (que o editor de texto adaptado à reforma ortográfica sublinha com uma linha ondulada vermelha). O poeta Ademir Demarchi usa a palavra com acento no poema Alguém morre para:

os semáforos se fecham
para
o trânsito
circular
e se misturar
em outras direções
alguém morre pára
alguém morre para:
Esse poema está em Abismos, livro que faz parte do volume Pirão de Sereia (Realejo Livros, 2012, com recursos do Fundo de Cultura de Santos), lançado em 7 de abril, com a reunião de 30 anos de poesia divididos em 17 poemários.

No prólogo de Preceitos de Dúvida, outro dos livros, o autor os apresenta como “nada líricos”, que “talvez funcionem como a tentativa de uma saída ao lugar-comum”, uma busca constante em sua obra. Faz parte de sua escrita e de sua crítica evitar práticas disseminadas como a submissão (termo meu) à primeira pessoa do discurso, como nos versos “eu / como uma oração monótona”.

E assim, evitando o lugar-comum, Demarchi percorre grandes temas da poesia como a morte, a metafísica (ainda que pela sua impossibilidade) e o próprio fazer poético, como nestes versos de Pensar / Doer, de Considerações a respeito, outro dos livros:
eis esculpido o poema
como estátua de mármore
enfim pleno de viço e graça
a sugar-te os seios
a secar-te as taças
Epílogo
Em outro poema de Abismo, há um verso de Ademir Demarchi que, creio, vale bem por uma máxima de seu trabalho.
... um desempenho entre cru e encantatório...
Ainda vou meter bastante colher nesse pirão.

Referência:
Ademir Demarchi. Pirão de Sereia. Santos: Realejo Livros, 2012.






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