sexta-feira, 22 de maio de 2015

Obra de Tim Tadder

Por Manoel Herzog


Em Cuba passei vários dias a comer lagostas, lagostins e camarões gigantescos. A despeito de meus princípios naturistas, e de ter visto na ilha um absoluto respeito ao meio-ambiente, coisa que não é própria do capitalismo, não tive pena dos pobres frutos do mar, devorei-os, sacrifiquei minha ideologia em prol da satisfação de um gozo de nouveau-riche. Sabe-se lá quando vou poder comer lagosta de novo. Era lagosta com pão no desayuno, lagosta de prato principal, e mousse de lagosta de postre. Confesso, admito e não me arrependo.

Considerando que Cuba é exemplo de preservação dos recursos naturais, pois não há carros poluindo nem bois sendo dizimados indiscriminadamente nem consumo desnecessário, ao quinto dia acabou-me batendo sincera dúvida sobre porque tamanho genocício de crustáceos. Esclareceu-me mi querido amigo Sér-rio, dono do quiosque onde consumi litros de rum com camarões.

Cuba tem por programa de Estado dar cabo, levar à extinção os malditos crustáceos. Sabe-se, de nossas pesquisas no instigante campo da zoologia, que os crustáceos são criaturas caracterizadas por possuírem o intestino em lugar do cérebro. Por tal razão devem ser eliminadas. Ponderei con Sér-rio que o oceano é infinito e infinitos os seus animais, nem o Estado nem a iniciativa privada jamais darão cabo de toda uma espécie. Contei-lhe que há em minha timeline do facebook uma infinidade de criaturas com intestino no lugar do cérebro e que, por mais me esforce em desfazimentos de amizades e bloqueios, rebrotam com impressionante vigor, falando toda sorte de merda. A Natureza é autorrenovável.

Sér-rio, um cubano patriota, acredita que o governo irá sim dizimar os crustáceos. Paciência. Perguntei-lhe a razão de tamanho ódio ideológico aos pobres seres e, atônito, fiquei sabendo que os danadinhos, por conta própria, de coisas que tiraram de suas próprias cabeças, fizeram um panelazo na Plaza de la Revolución, por onde mesclaram duas frases muito ditas por seus colegas crustáceos brasileiros: "Fora Dilma" e "Toca Raul". Criaram seu próprio mote (deve haver uma organização internacional de crustáceos). Gritavam "Fora Raul" e batiam panelas e tiravam a roupa e pediam a volta dos militares de Fulgencio Batista e tudo o que mais se produzia de sua massa cerebral. Sér-rio tenía la razón.

Muerte a las langostas.


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