Obra de Maxim Grunin |
Por Érica Fernanda Justino
ALIANÇA
Odes ecoam pelas frestas do tempo
decantando emoções
solidificando sentimentos.
O impossível repouso dos espíritos
que vagueiam labirintos fechados.
Dando asas as árvores
que raízes fixaram
em chão fértil
regado à lágrimas
desabrochando a desgraça
incerta do que é amar.
***
ABRE-SE A CORTINA DO AVESSO
O postigo do meu corpo de reentrâncias invisíveis
revela um fremir de fogo que lança centelhas
como lâminas afiadas.
Quisera acordar e abrir sua janela,
já não podia.
Quisera fazer a boca sorrir com lábios crentes,
já não podia.
Quisera a graça do cheiro que o entorno trazia em tarde de crepúsculo
já não podia.
E não podia nada mais do queria.
Pendia o pescoço que em arco
denunciava-lhe a gênese de seu castigo.
Como guarnição, abria-lhe o apetite de um riso menor.
Judiadamente as pontas dos dedos
resvalam as páginas que exalam
canela, cravo, lírio, cheiro que refuga inexorável
o coração indócil de carne que sonha plangente em quietude.
E clama.
Anjo da terra, me leva no teu abraço.
***
ÂNSIAS
O poente resplandece
sensações, emoções
dormentes
que despertam
como crepitar do sal no fogo
meu reduto te tornaste
doce baluarte em dias frios
nos quentes também
de solo opimo
com cheiro irresistível de anonáceas
ubíquo te faz
a mim
só resta
ser ancila
rajá
que me governa
que me engole
edaz
não em mim
mas eu em ti
sem gnoses
sem lastros ou rastros
mas purificada
uma mulher nova
uma ninfa
em mar de sargaços
com noite
e clarão de lua.
Sua.
***
APOCALIPSE
Quando a lua nascer por trás de uma montanha alta
seu brilho inundará toda a terra
será um brilho ofuscante
muitos terão suas pupilas queimadas
odiarão a claridade
com um despeito intenso
de seu brilho inebriante.
Outros urraram como lobos
enfeitiçados pelo seu poder.
Ela espalhará sobre a terra
o que lhe for pedido
nesse único dia de êxtase.
Eu humildemente lhe rogarei
coragem.
Sinto nesses poemas a forma da mão de quem escreve.
ResponderExcluirMarivaldo.