Por Márcia Costa (texto e fotos)
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Vanderley Mendonça, um habitante da poesia |
Ali, a nata de artistas pré-modernistas reunia-se
em torno da amante normalista Miss Cyclone, dos amigos e escritores boêmios. Do
convívio de gente como Monteiro Lobato, Menotti del Picchia e Guilherme de
Almeida, formularam-se os germes da Semana de Arte Moderna de 1922. O livro “O Perfeito
Cozinheiro das Almas deste Mundo...” traz depoimentos dos frequentadores do
lugar mais literário da época.
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Nas paredes da festa, as provocações da arte |
No salão extenso
com clima da “belle époque” paulistana, a turbulência estética dá o tom dessa
Garçonière do século XXI. A sensualidade da arte se expande pelos cômodos do
prédio, tomados por performances de literatura, teatro, música, enquanto as
paredes do lugar são impregnadas pelas marcas das artes visuais. No salão
charmoso, sofás e cadeiras acomodam a gente que se esparrama, se joga na arte e na
boemia. Pé direito alto, janelas amplas à moda dos antigos edifícios
parisienses do século XX e uma bela sacada que dá vista para o Vale do
Anhangabaú, eis o clima que convida a um tipo especial de embriaguez. “- É a hora de vos
embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos!
Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!”, repetiria, alegre, Baudelaire.
Cem anos depois
da inauguração do Cabaret Voltaire, em Zurique, Luciano e Vanderley inauguraram essa Garçonière com um toque de “tempero Dadá”, como eles definem. Uma festa que atrai artistas e amadores da arte, gente que se deixa levar pelo irrequieto espírito
modernista.
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Picanha de Chernobill Rock e Blues, em ensaio no Estúdio Lâmina, no salão da Garçonière |
A festa reflete
uma vocação de Vanderley Mendonça (ele foi o criador do Clube do Hussardos) pra
criar círculos culturais e juntar gente que quer fazer arte. Já morou em três países (só em Barcelona
foram 10 anos), é um dos poucos tradutores de poesia catalã do Brasil, tem
carreira e pesquisa em design, é jornalista, editor dos selos Demônio Negro e
Edith e ganhador do Jabuti pelo seu trabalho como editor (categoria poesia). Estudou
design gráfico e pré-impressão pelo RIT (Rochester Institut of Technology, EUA)
e Design Tipográfico na Hochschule fuer Grafik und Buchkunst, Leipzig (Escola
Superior de Artes Gráficas e Editoriais). Traduziu, entre outros livros, Poesia
Vista, antologia bilíngue do poeta catalão Joan Brossa (Ateliê, 2005), Crimes
Exemplares, de Max Aub (Amauta, 2003), Nunca aos Domingos, de Francisco
Hinojosa (Amauta, 2005) e Greguerías, de Ramón Gómez de La Serna (Selo Demônio
Negro, 2010). É autor do livro Iluminuras, pela Editora Patuá (2013). Eis,
portanto, um articulador nato que passeia tranquilamente pelo universo das
letras e da poesia.
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Vandereley e a arte irreverente que impregna o salão: os melhores anfitriões |
Se as redes
sociais digitais promovem a facilidade dos encontros à distância, ainda é num tête à tête coletivo que a arte acontece na sua maior potência, emanando da energia que fervilha do contato dos corpos, do olhar. É no círculo social, na mesa
de bar, que a arte é pensada e acontece, “no olho a olho”, lembra Vanderley.
Olhemos e sintamos, pois, La Garçonière. Abaixo, a programação da terceira
edição, que acontece hoje à noite, nessa celebração "bacán" de arte, música e poesia.
PROGRAMAÇÃO
Das 20 h às 24 h
ABERTURA DE
EXPOSIÇÃO:
'BLOC BOOK'
POESIA E
LEITURAS:
• Stefanni
Marion lê “Meus documentos”, de Alejandro Zambra, e “Crônicas de motel” de Sam
Shepard.
• Tatiana Lima
Faria e Idalia Morejón Arnaiz recebem o poeta cubano Omar Pérez, que lança
Cubanologia (Malha Fina Cartonera)
• Jorge Ialanji
Filholini lê "Somos mais limpos pela manhã" (Selo Demônio Negro,
2016), com participação do poeta Everton Behenck, que também fará leitura de
poemas de seu novo livro "Nada mais maldito que um amor bonito".
• Nada não,
Canções de Álvaro Faleiros
• d'estado,
enviés, golpe: sousândrade, querida: leitura dentro dos ritos da delação
premiada: ecos dos prelos do nfrn d wll strt por RIVΞЯΛO
PERFORMANCES:
Oswaldakovski,
uma homenagem a Boris Schnaiderman, por Lucio Agra
Duo d' Esgrima,
com Vanderley Mendonça e Rodrigo Baldin.
MÚSICA:
• Lua Rodrigues
e Diruajo
• Kessidy Kess
LANÇAMENTOS:
• MAIAKÓVSKI,
Fotolivro de Neide Jallageas. Edição de 30 exemplares numerados e assinados;
KARTINI - Kinoruss Edições. Encadernação artesanal.
• O GUESA, de
Sousândrade. Selo Demônio Negro. Edição de Vanderley Mendonca; Prefácio de
Augusto de Campos.
• O LIVRO DA
GARÇONIÈRE, para registro e anotações dos convidados.
• CUBANOLOGIA,
de Omar Pérez. Trad. Tatiana Lima Faria e Idalia Morejón Arnaiz (Malha Fina
Cartonera)
LA GARÇONIÈRE,
curadoria de Luciano CortaRuas e Vanderley Mendonça
Estúdio Lâmina -
Avenida São João, 108 - São Paulo, SP (Esq. Rua Líbero Badaró)
Entrada: R$
15,00
Bar no local
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