segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Acervo CDA- Cosac Naif  (foto publicada pela Folha de São Paulo)

Por Jean Pierre Chauvin


O poeta circulava pela cidade
Levantara-se do banco sem alarde
Num salto chegava à Praça Quinze
De um golpe, circundou os Arcos.

E como tivesse poucos, raros amigos,
Observava os transeuntes sem conversar
Girando pelo Centro, cogitava abismado:
– Houve novo Bota-Abaixo? Ainda vive Pereira Passos?

Depois de muito vaguear, evocou Bandeira:
– Que me importa a gente, a orla, o Cristo, o horizonte?
Súbito, aprumou o passo, mirou a praia
E, em condição de estátua, tornou a se sentar.

O poeta confirmou que a vida continuava besta
E, sem disposição para ser nem versejar,
De outro impulso chegou a Pedra do Arpoador
Contemplou a praia, as águas e mergulhou no mar.

(São Paulo, 19 de novembro de 2016).






Chauvin é professor de Cultura e Literatura Brasileira na ECA, USP.

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