Márcia Costa
Nas palavras do escritor Marcelo Ariel, encontramos uma interessante definição para o trabalho de Sérgio dos Anjos: “sua pintura evoca um silêncio orgânico através da contemplação – a busca de uma energia pacífica e religiosa que descansa nas coisas. Essa evocação é também a busca por uma correspondência entre a vida interior e o mundo exterior. Por isso, na maioria de seus quadros, símbolos da interioridade do corpo, se encontram exteriorizados na natureza. Este, porém não é um olhar que tenta capturar ou domar estes símbolos ao aproximá-los de sua interioridade, é um olhar que tenta ser pacificado pela contemplação dessa exterioridade cada vez mais interiorizada pela urgente percepção do mundo como a morada da harmonia”.
As telas de Sérgio dos Anjos são preenchidas por algo mais do que imagens de árvores, florestas e letras. O artista, conforme bem apontou Ariel, é movido por uma "nostalgia do Éden, aquilo que antigos textos de Alquimia chamam de 'Infância da Alma' ". Ariel prefere simplesmente chamar de Sagrado-escondido-no-mundo-do-visível. "Sérgio, como outros bons artistas antes dele, tenta traçar um mapa para esse Sagrado, porque nós há tempos o perdemos de vista ou nos esquecemos dele no meio da velocidade vertiginosa dos nossos dias cada vez mais curtos".
No dia 28 de abril (domingo), às 19h30, durante a abertura da exposição de Sérgio dos Anjos (que irá até o dia 9 de maio) no restaurante La Quiche Dorée (Av. Epitácio Pessoa, 210, Santos), o público terá uma boa oportunidade para saber mais sobre este artista, durante uma conversa sobre arte.
Nesta entrevista, adiantamos um pouco sobre sua vida-obra:
Conte como foi o seu envolvimento com as artes plásticas:
Sempre desenhei, isto sempre foi e é uma constante, e sempre fui curioso com relação a este mundo, sempre lendo a respeito de arte ou artistas. Tive aulas com Sergio Dantas Miranda, artista plástico daqui de Santos, e foi um período bastante enriquecedor. Depois fui fazer Educação Artística na Unisanta, em 88.
Quais técnicas você utiliza?
Geralmente pintura com tinta acrílica. E desenhos, muitos desenhos. Fiz alguns trabalhos usando tinta óleo. Gosto da tradição da pintura que utiliza o suporte bidimensional para se expressar. Fiz algumas experiências com esculturas e outras técnicas, mas não teve jeito, eu gosto da superfície plana para desenhar e pintar.
Quais os temas predominantes?
Venho pesquisando e produzindo algo que envolve árvores, florestas, e letras.
Que nomes da pintura o inspiram? Outras formas de arte também? Quais?
Vários faróis, De Kooning, Miró, Iberê Camargo e Siron Franco. Durante o processo de aprendizagem e a maturação do trabalho. Muitos artistas ou situações fazem com que você fique mais atento a certos aspectos da tua produção e pesquisa. A música sempre me acompanha fazendo trilha sonora e produzindo ótimas reflexões.
Como é o seu processo de produção?
Muitas vezes de forma aleatória, sempre começo com uma idéia, ou uma reflexão a respeito de uma imagem que queira registrar ou algo assim. Mas durante o processo isto muda muito. A idéia continua ali, mas o registro desta idéia se modifica até que a imagem apareça. Picasso falava que não sabia aonde estava indo, mas sabia quando chegava. É por aí que eu me movo.
Que espaço a arte ocupa na sua vida?
A arte está sempre presente, eu não separo o espaço da arte com o da minha vida porque ela é minha vida. Cada reflexão sobre qualquer aspecto da existência é analisada e isso se reflete no meu trabalho. Mas espero que isto não seja visto como um trabalho frio, cerebral ou algo assim. Pois emoção e paixão fazem parte do meu trabalho também.
Quais os projetos com relação à pintura?
Continuar pintando, desenhando e desenvolvendo as séries que me propus realizar.
O que significa a arte pra você?
Difícil dizer. Mas acho que isso tem a ver com uma necessidade quase física de você registrar de alguma forma o teu pensamento e visão do mundo. Saber o que te move e seguir as pistas deixadas pelos outros mestres e artistas.
Com relação ao mercado de arte e a situação dos artistas-plásticos em Santos e região, não existe mercado.
Um pequeno apanhado da trajetória de Sérgio dos Anjos:
1989
- Menção Honrosa da XVII EXPO-FARPS-Unisanta na modalidade Gravura.
1991
- Projeto e Execução de Mural no Recanto “Anderson Afonso Ramos”, solicitado pela PRODESAN – Santos.
- Participação no 15º Salão de Artes Plásticas em Ilhabela.
- Criação do Logotipo da Galeria de Arte – GARDEN – Associação dos Cirurgiões Dentistas de Santos e São Vicente.
- Participação no 1º salão de Artes Plásticas de São Bernardo do Campo.
1992
- Projeto de Mural na Praça Nagasaki – área do Mercado Municipal, solicitado pela PRODESAN – Santos.
- Projeto de Mural para o Muro da FEPASA na Av. Francisco Glicério, solicitado pela PRODESAN – Santos.
- Exposição “Arte Contemporânea Santista”, no Espaço Cultural Adriana Vasquez Fernandes – São Sebastião.
1994
- Exposição “Fragmentos”, na Sala da Memória, Biblioteca Central de Cubatão.
- Instalação Poética: “Poesia XX – Imagem e Letra”, em parceria com o poeta Marcelo Ariel – no Bar Le Farouche – Cubatão.
1995
- Instalação “A Fantasia Exata do Tempo”, parceria com o poeta Marcelo Ariel na Sala da Memória, Biblioteca Central de Cubatão.
1996
- Exposição na Agência Bancária “Banco do Brasil”, em Cubatão.
- Mostra de trabalhos no Banespa, Agência Santos.
- Exposição na Oficina Cultural Pagu, em Santos.
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