Flávio Viegas Amoreira, para o Cronópios
Hilda Hilst, por Mora Fuentes
Repasso Hilda, nesse espaço mais importante da internet, que chamava de catacumbas de demônios dostoievskyanos: CRONÓPIOS, minha carta de 22 julho de 2000.
Hilda Hilst, mais maldita e brilhante escritora poeta brasileira: descobriram internacionalmente Clarice; espero e luto por tua re-descoberta: tua Obra é um canto de libertação. Se te fechaste antes dos 40 anos para o mundo externo, imagino que não suportaria a estupidez reinante numa sociedade insensível a Arte se chegasse aos 80 nesse outono. De Sérgio Milliet a Caio Fernando Abreu, muitos se foram ao planeta reservado aos poetas, Marduk, como dizias. Ainda Lygia Fagundes Telles te relembra e nossos dois maiores compositores brasileiros, Gilberto Mendes e teu primo Almeida Prado, que musicaram poemas imortais, também resistem na Fé laica: nossa Arte. Agora você não é mais seu corpo, é a luz do universo que tanto buscas-te: o excesso de amor pelos homens, a transgressão militante contra hipocrisia reinante, o pedido dum amor supremo e o temor da loucura por extravasar sentimento por todos os poros, tudo é agora embriaguez sideral, Hilda. Há um peso na exigência da Literatura e a vontade de viver ´com e sem´ esse imperativo gozozo de reter o instante pela observação obsessiva das coisas, que na maturidade me aproxima mais de tua angústia entre ser concha reclusa ou onda rompendo ao abismo da existência. Contigo só não habituei-me aos animais domésticos: sou por demais urbano e oceânico para me apartar do rumor das ruas e desejo de apaixonar-me em demasia.
Foste a mais bela intelectual brasileira e deixas-te todo deslumbre na palavra, que é menos tentadora e perpétua que a Beleza, mesmo sendo incansável como tu buscador dela nos rostos raros que não fatigam de serem contemplados. Não seria a Arte mesmo sublimação dessa nossa impossibilidade, Hilda? Reter ela, a indomável Beleza? Teus livros foram todos relançados, o Instituto Moreira Salles zela com apuro por teu legado e uma legião de jovens te cultua. Agora mesmo a atriz Rosaly Papadopol acaba de ser premiada pela APCA pela magistral interpretação de teus textos num teatro ali no mesmo centro de Sampa onde iluminaste com tua aflição híbrida de ser céu e terra. “Sou eu esta mulher que anda comigo?” Te saúdo e agradeço tua ajuda em meu começo. E nosso paradoxo: “Tens um inimigo, deseja-lhe uma paixão”. Réus confessos, sempre incorremos nesse aprendizado, sina e ventura: o desvario da paixão.
Literatura é algo elevado, difícil, nenhum entretenimento. Essa doce sina, se não é fardo, é júbilo, memória e noviciado que a ti dedico em nome dessa paixão. Hilda Hilst, quanto mais brilho, mais do enigma nos aproximamos. Você agora do mistério fez imagem tua. Uma geração de escritores surgiu, “Geração 00”, todos nós temos em comum o mesmo amor por ti que nos acolheu por nossas diferenças e alma exalando literatura.
Hilda Hilst, por Mora Fuentes
Repasso Hilda, nesse espaço mais importante da internet, que chamava de catacumbas de demônios dostoievskyanos: CRONÓPIOS, minha carta de 22 julho de 2000.
Minha sozinhez, Hilda, é solitude específica: as anatomias dum corpo já tão somente só me trazem vazio sem Alma: não há desejo que sustente por si só o Amor: o Amor que tenho em mim precisa estar fincado por andaimes num terreno poderoso, sem a movediça e fugaz satisfação da carne. “Desde sempre redescoberto amor em mim”, assim reúno trecho de teu “Júbilo”. Aguardo e-mail de Yuri e vamos a Campinas ainda nesse inverno dum novo século que se anuncia.Beijos, Flávio Viegas Amoreira
“Caro Flávio, a Vida mostra-se a nós como uma prova de bastão: passo aos que tomarem a Literatura com dor e ventura de seguir a prova. Seguiremos a Solidão compartilhada e mesmo encantamento pela Beleza como âncoras. Olha aí o Mar de Santos onde vivi os primeiros 7 anos de minha trajetória em busca do inefável, sabe que não uso a palavra morte sem essa busca: quando faço Poesia já antecipo o que seja Eterno: sair do corpo ao encantamento. Aguardo você com Yuri aqui em Campinas. Vocês repõem “estoque” de jovens escritores que tanta falta fazem na hora do vinho: mesma saudável loucura. Beijos, por carta mesmo. Não entrarei nessa coisa que surge, internet”.Hilda Hilst
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Hilda Hilst, mais maldita e brilhante escritora poeta brasileira: descobriram internacionalmente Clarice; espero e luto por tua re-descoberta: tua Obra é um canto de libertação. Se te fechaste antes dos 40 anos para o mundo externo, imagino que não suportaria a estupidez reinante numa sociedade insensível a Arte se chegasse aos 80 nesse outono. De Sérgio Milliet a Caio Fernando Abreu, muitos se foram ao planeta reservado aos poetas, Marduk, como dizias. Ainda Lygia Fagundes Telles te relembra e nossos dois maiores compositores brasileiros, Gilberto Mendes e teu primo Almeida Prado, que musicaram poemas imortais, também resistem na Fé laica: nossa Arte. Agora você não é mais seu corpo, é a luz do universo que tanto buscas-te: o excesso de amor pelos homens, a transgressão militante contra hipocrisia reinante, o pedido dum amor supremo e o temor da loucura por extravasar sentimento por todos os poros, tudo é agora embriaguez sideral, Hilda. Há um peso na exigência da Literatura e a vontade de viver ´com e sem´ esse imperativo gozozo de reter o instante pela observação obsessiva das coisas, que na maturidade me aproxima mais de tua angústia entre ser concha reclusa ou onda rompendo ao abismo da existência. Contigo só não habituei-me aos animais domésticos: sou por demais urbano e oceânico para me apartar do rumor das ruas e desejo de apaixonar-me em demasia.
Foste a mais bela intelectual brasileira e deixas-te todo deslumbre na palavra, que é menos tentadora e perpétua que a Beleza, mesmo sendo incansável como tu buscador dela nos rostos raros que não fatigam de serem contemplados. Não seria a Arte mesmo sublimação dessa nossa impossibilidade, Hilda? Reter ela, a indomável Beleza? Teus livros foram todos relançados, o Instituto Moreira Salles zela com apuro por teu legado e uma legião de jovens te cultua. Agora mesmo a atriz Rosaly Papadopol acaba de ser premiada pela APCA pela magistral interpretação de teus textos num teatro ali no mesmo centro de Sampa onde iluminaste com tua aflição híbrida de ser céu e terra. “Sou eu esta mulher que anda comigo?” Te saúdo e agradeço tua ajuda em meu começo. E nosso paradoxo: “Tens um inimigo, deseja-lhe uma paixão”. Réus confessos, sempre incorremos nesse aprendizado, sina e ventura: o desvario da paixão.
Literatura é algo elevado, difícil, nenhum entretenimento. Essa doce sina, se não é fardo, é júbilo, memória e noviciado que a ti dedico em nome dessa paixão. Hilda Hilst, quanto mais brilho, mais do enigma nos aproximamos. Você agora do mistério fez imagem tua. Uma geração de escritores surgiu, “Geração 00”, todos nós temos em comum o mesmo amor por ti que nos acolheu por nossas diferenças e alma exalando literatura.
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