segunda-feira, 19 de setembro de 2016

por Flávio Viegas Amoreira

Pintura de Quinquela Martin
I
Ancorados ao remanso das brisas
Zarpando alvejando o sombreado das nuvens
Todo barco é melancólica recordação ou alegre pressentimento
No marulhar do Tempo caligrafa poemas no alfabeto das ondas
Sereno deitado ao porto , na praticagem do instante que flui seguro e
gozozo... vai a nau coroando universo universo do zênite ao fundo
A embarcação no cansaço do casco , mesmo límpido convés azulado
Testemunha remotas paisagens , submerge de tempestades vencidas
Empávidos , rasgando o horizonte , veleiros brotando flores d´água
Límpida ou lúgubre a aurora malva ou açucena ao convés rendilhada
Todo barco é testemunha e profeta, manso ou voraz
É do viajante armadura expressando todo sentimento atlântico do mundo

II
Se as asas não querem rotas precisas
os ventos prometem novas esferas
se ao monte torna com a aposta de caminhos ainda indefesos de tua vista
não resiste ao desejo das hélices
vai turbilhonando no esforço dos lemes;
um barco nunca se compadece ao cansaço
nunca um réptil estagnado , soergue o albatroz ao cabo sem remanso

III
a nave é como a pena germinando na calosidade exangue das águas
conceitos refletidos em imagens puras
o rondear das ondas mais que a impenetrabilidade oca das pedras
o mar com a noite velam
e o texto veio-me com tempo certo
rasgando a testemunha que era o cais do meu batismo
fui ! barco tão íntimo desse meu corpo poroso de sargaços

IV
Isso amor! Navegar é seguir o rastro da fonte
vagido primitivo dos plânctons
torpor langoroso da espécie informe
prolongara-me barco das minhas cinzas
impregnado de mar
o mar saúda todas manhãs os que concebem vida do seu ventre

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