Alessandro Atanes, para o Porto Literário
Não sei qual coincidência fez com que setembro concentrasse em Santos eventos de ponta (qualidade, tradição e diversidade). Já havia notado isso em anos anteriores, com a sequência setembrina entre Festival Santista de Teatro (Festa), Festival Música Nova e Festival Santista de Curta Metragens, o Curta Santos.
Em 2009, aos festivais representantes do cinema, do teatro e da música erudita contemporânea une-se a Tarrafa Literária, que pretende colocar Santos no mapa dos festivais e eventos literários do Brasil. Já que literatura é a matéria-prima desta coluna, não poderia deixar de celebrar este setembro.
A maratona começa com o Festa, hoje mesmo nesta terça-feira (01º), com a abertura no Teatro Municipal, e segue até dia 09 com apresentações ali, no Guarany e no Sesc Santos (programação completa aqui). Em um movimento de pesquisa, a 51ª edição do festival homenageia o dramaturgo santista Carlos Alberto Soffredini.
No meio do caminho do Festa, é a Tarrafa Literária que começa no dia 03, com um show do músico e escritor Arnaldo Antunes no Guarany, que concentra toda a programação. Entre os convidados: Ruy Castro, Heloisa Seixas, Ricardo Kotscho, Jeremy Mercer (escritor canadense, um jornalista mochileiro que em Paris viveu na livraria Shakespeare and Company), Milton Hatoum, André Laurentino, José Roberto Torero, Lourenço Mutarelli, Marcelo Mirisola, Jorge Caldeira, Laurentino Gomes (autor de 1808), Theo Ross (filósofo alemão), Márcia Tiburi, Mona Dorf, Xico Sá, Amyr Klink, Tim Winton (autor australiano e surfista), Matthew Shirts e Vladir Lemos. Entre os assuntos: “Os livros dentro dos livros”, “Ficção, a mentira sem culpas”, “Mentira: culpa da ficção”, “Jornalistas além muros”, “Filósofos além muros” e “Futebol e literatura, paixão nacional”. Os nomes podem levar um crítico mais chato a taxar o encontro como de celebridades da escrita, mas os temas, o que é mais importante, permitem ao público e à própria crítica conversar sobre questões do fazer literário, do isolamento da escrita e até perguntar por que o Brasil ainda não criou uma tradição literária de ficcionalizar o futebol. A programação com horários e datas pode ser conferida aqui. Todos os dias contam com programação infantil.
Com o objetivo de dar uma cara internacional ao evento, o organizador da Tarrafa Literária, José Luiz Tahan, da Realejo, conta que optou por não dedicar qualquer mesa ou espaço aos escritores aqui estabelecidos ou a temas locais. Para mim, poderia ter copiado o Curta Santos, que tem a mostra caiçara, com filmes produzidos na região. Nomes como Ademir Demarchi, publicado pela própria Realejo, Flávio Viegas Amoreira (publicado no Rio de Janeiro e em São Paulo) e Marcelo Ariel (que teve que montar sua própria editora para publicar), escritores já com circulação nacional, perderam a oportunidade de terem suas obras amplificadas no próprio lar ou ali colocadas em discussão. Que a Tarrafa (nome que se refere justamente à cultura local da pesca) ganhe fôlego para sua próxima edição e que sua organização possa criar uma fórmula para dar espaço à produção literária local inserida na produção nacional, longe de regionalismo, como são as obras dos três autores apontados acima, ou outros que possam surgir ou ser lembrados.
A 44ª edição do Música Nova começa no dia 05, em São Paulo, e chega a Santos um dia após o fim do Festa, no dia 10, com uma apresentação do Ensemble 2E2M no Sesc. A cidade, que por burrice governamental quase perdeu o festival há alguns anos, conta com apresentações nos dias 15, 16, 19 e 24 (programação aqui). Creio que ainda temos essas datas na cidade por respeito dos organizadores a Gilberto Mendes, compositor santista criador do evento. Já as atividades didáticas ocorrem todas em São Paulo.
Antes de acabar o Música Nova, é a vez da abertura do Curta Santos, no dia 15, no Sesc Santos. A programação do festival, que chega a sua sétima edição, ainda não está disponível no site, mas algumas coisas já estão acontecendo, como o anúncio dos selecionados na semana passada (clique aqui para conhecer os filmes).
Epílogo
É incrível como as agências de viagem não perceberam o nicho de mercado para vender pacotes turísticos culturais sobre Santos, ainda mais com atividades voltadas justamente para um público que costuma acompanhar as atividades do setor e que abre o bolso para comprar livros, revistas e DVDs. Creio que seria delicioso para um turista-leitor conhecer a Bolsa do Café às duas da tarde e seguir para o Guarany para conversar com o Xico Sá sobre futebol; ou para um ouvinte de música erudita comprar o livro de Gilberto Mendes na Realejo, jantar em um dos restaurantes da cidade e depois seguir para o Música Nova no Sesc. Enfim, um pouco de criatividade turística e um monte de “culturetes” de São Paulo, frequentadores deste tipo de evento, desceria a Serra o mês inteiro. É um público que não viria à cidade só no feriado prolongado da Independência para ir à praia. Mas tem gente satisfeita com que Santos se limite a sua faceta de cidade-dormitório-balneário-de-fim-de-semana.
Meu amigo Eugênio Martins, da Revista Ao Vivo, me mandou a seguinte mensagem sobre o Setembro Cultural:
ResponderExcluirCaro amigo,
você esqueceu de citar a Mostra Blues 2009, evento inédito realizado pelo Jazz, Bossa & Blues, Revista Ao Vivo, Sesc Santos Hering Harmônicas e Blues Time Records.
Acontece entre os dias 24 e 26 de setembro.
A programação é a seguinte:
Dia 24
Oficina de gaita com Rodrigo Morenno, na Harmônica Master às 15 horas.
Show com Caviars Blues Band na Lanchonete do Sesc às 21 horas com jam session com gaitistas de Santos.
Dia 25
Oficina de guitarra com Mauro Hector, no auditório do Sesc, às 15 horas.
Quem participar da oficina pode assistir a passagem de som do show do dia que será do guitarrista Big Gilson.
Dia 26
Oficina de guitarra com Big Joe Manfra, no auditório do Sesc, às 15 horas.
Quem participar da oficina pode assistir a passagem de som do show do dia que será da Big Joe Manfra Blues Band.
Abraços
Eugênio