Por Marcelo Ariel
Temos muitos veículos de imprensa e praticamente nenhum caderno , digno de ser chamado de cultural, somados todos os jornais publicados em todas as 9 cidades, são mais de 400 folhas impressas, em sua maioria, dedicadas à especulação político-partidária,propaganda oficial,colunismo social bajulatório e clonagem de matérias das agências de notícias. Vamos analisar, não profundamente, que eu não teria estômago para tanto, alguns dos veículos da chamada imprensa local, observando apenas, o modo como estes jornais tratam o tema'Cultura':
Começamos com um dos mais antigos ou o mais antigo deles, A TRIBUNA de Santos: Ali o caderno cultural é chamado de ' Galeria' , o que me remete ao modo como são chamados os setores de um shoping center e a uma galeria de artes, ao mesmo tempo, passemos a uma análise do conteúdo, nos últimos tempos, é frequente uma série de matérias listando filmes segundo suas temáticas, sem contudo indicar, as distribuidoras dos filmes,algo original sobre seus diretores ou atores ou maiores indicações de onde conseguir baixá-los, confesso que aí seria pedir demais... Sãos matérias de uma superficialidade que beira a leviandade e ocupam uma página inteira do caderno de variedades do jornal. As entrevistas são frequentemente superficiais e pautadas pelo cronograma de eventos da cidade de Santos, principalmente, o jornal é excessivamente provinciano, mas de um provincianismo sem inteligência, incapaz de aproveitar a vocação cosmopolita que toda grande cidade portuária possui. Flávio Viegas Amoreira escreve com regularidade, mas não possui uma coluna fixa, e seus textos, ocupam um espaço ínfimo se comparado ao espaço que é reservado para listinhas de filmes que a meu ver, estão cumprindo ali, a mesmíssima função das receitas de bolo, que eram publicadas na época do regime ditatorial, com a diferença de que a censura, agora é implícita e pautada pela omissão do trabalho de ótimos intelectuais, escritores e pensadores locais ou não. Escrevem no jornal, Rubens Ewald Filho,Arnaldo Jabôr,Alfredo Monte, mas ninguém ousa, ninguém arrisca um pensamento original e discordante do mercado do espetáculo, talvez Jabôr, mas a coluna dele, entra na seção dos clonados de outros jornais. O Bressane ou o Carlos Reichembach poderiam estar ali no lugar dele, junto com o Gilberto Mendes ( que é colunista do Estadão), o Ademir Demarchi ( que já foi crítico literário do Jornal do Brasil), o Paulo de Toledo e outros...Opa, estou caindo no impressionismo voluntarioso e dando receitas gratuitas de como fazer um caderno de cultura e esta não é minha intenção...O problema de A TRIBUNA é a acomodação a um tipo de pensamento alienante de classe média, um pensamento que confunde Conhecimento com informação superficial sobre as produções artísticas e Cultura com Eventos e Lazer, é o mesmo tipo de pensamento reinante nas administrações públicas das 9 cidades, o jornal reproduz a alienação do pensamento mercantilista de uma pseudo-elite, por isso, o pensamento sobre cinema está lá, mas como um detalhe rococó, um apêndice para os anúncios das salas exibidoras, estes sim, ocupam a página quase inteira e são a face visível da política cultural do jornal. Não sou louco e não estou desejando o fim dos anunciantes, mas seria interessante, o verdadeiro nascimento de um caderno de cultura. De uma crítica de literatura afinada com os criadores da atualidade e capaz de dialogar com os autores locais sem preconceitos, com honestidade e isenção, o que digo, sobre a literatura, vale para todos os outro segmentos artísticos, que o jornal cobre, apenas como eventos e não como acontecimentos, pelo ensaio no lugar da resenha, pela tomada de posição, no lugar na neutralidade como estilo, estou me referindo apenas a questão cultural e como ela é tratada pelo jornal em questão, evitar as polêmicas que envolveram o fim do Música Nova, a politica por trás do fundo de cultura de Santos,ignorar o renascimento da literatura local, que ganhou renome nacional e internacional,estes podem ter sido sintomas da falta de compromisso com a Cultura como um valôr, que transcende o econômico, aquilo que o crítico Theodor Adorno chamava de falta de interesse na vida do espírito, como sintoma do excesso de interesse nas banalidades e obviedades da vida social , o que podemos traduzir como, um fortalecimento do foco no social que é desprovido de uma estrutura societal. Continuarei esta matéria em breve, analisando os jornais publicados em Cubatão.
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» Jornalismo cultural em Santos e região, uma autópsia/Primeira parte:
quarta-feira, 29 de junho de 2011
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Até que enfim, alguém com coragem para falar a verdade sobre a nossa imprensa, que, no fundo, está na amargura e não vive mais de vender jornal e sim de eventos acoplados.
ResponderExcluiré nisso que me alegro! fico muito feliz em ver que alguem tem corajem o suficiente para expor um pensamento vivo e cristalino a respeito dessa midia mediocre e emburrecedora que teima em tratar as pessoas como se fossem apenas absorvedores de lixo seja lá de que especie de midia. esses jornalecos de nossa região deveriam observar com carinho um artigo como esse do marcelo ariel.
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