Flávio Viegas Amoreira, em artigo publicado hoje em A Tribuna, encerra o produtivo ano traçando perspectivas e buscando horizontes
Sem nenhum qualquer rumo definido, jovens de todo o mundo em 2011 definiram que caminhos não mais seguir e que sociedade repudiam: não mais desigualdade, não mais governos subservientes ao capital, não mais opressão sob uma ordem que só favorece a crueldade do mercado. Protestos na Porta do Sol em Madri, nas ruas de Atenas, na periferia de Londres e o apogeu em Wall Street: uma Comuna de Paris globalizada, não de insatisfeitos, mas de fartos de consumismo, sociedade mercantilizada e opulência acintosa diante a miséria de bilhões de desvalidos em todo planeta.
Não eram jovens querendo como os novos burgueses inserção num sistema de compra e venda: rebeldes diante duma constatação, o comando das economias e governos não por uma democracia de fachada, sim por grande corporações. No Brasil , enquanto "indignados" miram a corrupção em Brasília, nas grande metrópoles a mocidade nota que os políticos são só expressão de grandes interesses do capitalismo, dos petrodólares, da indústria bélica e construtoras ávidas em destruição. Quem ainda imagina que parlamentos, ministérios, líderes nacionais ou títeres municipais mandam alguma coisa sem seguir a cartilha dessa grande rede de interesses financeiros e dos neo-bilionários da bolsa ou do concreto desarmando nossa autonomia e poder de decisão? Berlusconi, Sarkozy, Sarney: são vilões com rosto dum emaranhado de interesses escusos muito mais amplo, sutil e subterrâneo que definem estratégias para enfrentar crises e receituários draconianos para manter seu acesso à infra-estrutura e "enpoderamento" tomando de assalto a agenda global sem revelar a sordidez de suas faces.
2011 foi ante-sala para uma era de questionamento incessante, de corrosão de fatos antes consumados impostos pelo capitalismo nefasto e alternativas ainda difusas, mas com mesmo senso de "desnorteamento criativo". O conceito de progresso vai sendo substituído pelo de aprimoramento igualitário: todas as autoridades constituídas, certezas irremovíveis, padrões de desenvolvimento que não levem o Homem como meio e fim serão encurralados por uma sublevação não de cansaço, mas esgotamento dos modelos da plutocracia. Explosão demográfica, sustentabilidade, horizontalização do diálogo entre a sociedade e instituições: a política on-line das redes sociais e a fiscalização direta pelos cidadãos engajados são temas recorrentes a serem vivenciados por uma gerações com menos filhos, mais esclarecimento e uma existência sofisticada no conteúdo, expondo ao ridículo a ostentação e desperdício de energia ou idiotização de mentalidades.
Não queremos Belo Monte assim como não mais cidades caóticas vendendo ilusão de opulência; de nada servirá petróleo para mais carros se não contamos com planos de emergência para vazamentos em plataformas suntuosas somadas a ruas intransitáveis. Teria o Homem dentro de si o gene contendo sua própria destruição social e do seu habitat? Diante da ocupação de Wall Street, com surgimento de grupos anti-consumismo e casais abertamente anti-natalistas, mesmo com a poética ousadia dos meninos da USP, percebo que sob a camada de marasmo e aceitação um futuro ainda é possível para nossa espécie nesse pobre planeta saturado por tanto vandalismo organizado não por estudantes, mas por capitalistas engravatados. Nunca se leu tanto Thoreau, Whitman e pensadores do despojamento, liberdade radical e o casamento da Arte com a Natureza. Tenho Fé nos que chegam: estão fazendo barulho quando poderiam estar abraçados ao naufrágio duma economia egoísta que esperneia fazendo estrago no Ideal igualitário. "Quem procura, duvidará", diz Novalis. Um mundo escravizado aos sistemas fechados acabou...
Acompanhe Flávio Viegas Amoreira aqui.
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
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