segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Por Marcelo Ariel


Atenção, estranhem e entranhem tudo, aviso que não utilizo a acentuação ortográfica vigente, mas uma acentuação anárquica e como diria o Chacrinha não estou aqui para explicar, mas para confundir. Dito isto, vamos em frente, aqui ressuscito a antiga coluna que assinava num antigo site de cultura e pensamento que foi editado em Santos nos anos 90-00. O site está desativado, pensando nele percebo agora que minhas colunas ali foram muito mal escritas, era um momento em que havia no meu clone apenas uma desesperada ansiedade de filosofar e desconstruir. Hoje, refém liberto de vários processos de desilusão, ele escreve com mais nitidez sobre os mesmos temas, somos apenas uma repetição da vida e irradiação onírica do pensamento de deuses inexistentes e por isso absolutamente reais. Repetimo-nos sempre como farsa da farsa, diz a História, e por isso ela é autêntica como um pôr do Sol de catálogo. Aqui estamos escrevendo sobre estes temas abstratos de tão concretos, como quem brinca de jogo de damas com peças de xadrez, de modo cifrado, mas nítido. Dito isto, ele desafia qualquer um a saber qual é o enigma do vazio que é no fundo o tema desta minha primeira  coluna,  o enigma do  vazio cultural, não existe outro dentro dele, é justamente esta ausência de Outro que o credencia a ser e estar agora em qualquer esquina. Com a falência dos sonhos de consumo da New Classe Média fundaremos a presença do diferente, principalmente em nós e ele e a História se tornam uma miragem tão inofensiva quanto os Shopping Centers depois de um Ciclone. A educação pelo Ciclone deveria ser o titulo desta nossa primeira coluna, mas optamos por este outro nome. Atenção, o Brasil não está dividido nem multiplicado, está subtraído, longe de sua dimensão utópica, havia gente torcendo para a Alemanha no meio da eleição e não eram os profissionais da revolta canalizada mas não canibalizada. Em breve ‘ O Festim Canibal e a Faixa de Gaza para todos, não apenas para os índios

O hotel do vazio cultural se chama edital


Passo sem passar por todos os editais e o que vejo é a resplandecente luz do vazio cultural, Patrícia Galvão contra  Pagu, sobrevivendo ao projétil e ao projeto (Ver Mário de Andrade como arquiteto do setor cultural-educacional),  já nos dizia que por trás destas miragens chamadas de ‘Teatro Social’- leia-se ‘políticas de inclusão na tradução de hoje’ - viceja a exaltação da mimese burra  de uma sociedade de controle. Nazistas sonhavam com o cheque em branco para a Cultura como a maior expressão de uma política de controle sistemático da produção cultural, vamos ampliar nossa visão e ver por dentro das zonas de exclusão, as aldeias enterradas de tribos assassinadas, ou seja, processos originais de autonomia esperando para serem ressuscitados desde Canudos no Xingu até outros lugares, como sites libertários mais acessados e alguns apps quânticos para além do Multiverso,  em toda parte os espíritos estão  fazendo este ensurdecedor  minuto  de silêncio.

Vamos falar de cinema, ou seja, de poesia


A Polícia, os bandidos e os  Editais estão atirando em todas as direções  e aqui e ali aparecem sementes extraordinárias que originam plantas-catálogo de editoras como a Patuá de São Paulo,  meus fantasminhas camaradas, louvemos  e cantemos a difícil Independência paradoxal dos editores-poetas como Eduardo Lacerda e Vanderley Mendonça, que sejam louvados pelos silêncios dos silêncios  das Nuvens. Quando chegarem os editais para os livros de luz estaremos longe. Os Irmãos Dardenne não querem mais filmar um documentário sobre Lula da Silva, agora que ele ganha uma aura trágica, Sokurov não quer mais fazer o filme sobre Getúlio Vargas, agora que ele se torna a referência para o PMDB Pós-moderno, ou seja para o PT. A dica de filme do mês é A DANÇA DA REALIDADE de Alejandro Jodorowski, disponível para ver em streaming na rede.

Mortos mais vivos do que os vivos, apesar da ausência


Leminski nas canções por Estrela e Téo e no catálogo-educação da Cia das Letras, ouçam Leminskanções, é o disco do momento. Outro disco do momento, anotem e baixem é ‘ Mestiça’ de Jurema Paes, são casos de transfiguração do legado, coisa que o Brasil ainda não sabe fazer, mas as Marias Bonitas da canção estão cantando a bola faz tempo. Você que está lendo está coluna centenas de anos depois da morte do Real, preste atenção, meu amigo ou amiga, o Google continua sem saber quem é você, leia Jiddu Krishnamurti, procure no seu chip, você vai gostar dos discos dele. Pausa para tirar as botas de Van Gogh do fundo do mar. Se você, meu leitor culto, disse Campos de Carvalho, acaba de ganhar o troféu Itaú Cultural de sacação voluntária do que está rolando desde o começo, um hibridismo feroz de Gláuber Rocha com Campos de Carvalho.

Pensar é perigoso


Os poetas não estão fora do mundo, nem em outro mundo...

Parece ser um péssimo senso comum o que afirma que os poetas vivem fora da realidade, desligados dela ou em outro mundo. Um poeta não conseguiria escrever um bom poema se vivesse fora da matriz de todos os poemas, se vivesse fora do real, é justamente o oposto que se dá entre os poetas. Eles vivem 'muito dentro do real', caso contrário, como conseguiriam escrever sobre uma cadeira, um ninho de pássaros ou um incêndio como se estivessem imersos e imantados por estas coisas. É mais fácil levantar um muro do que escrever um bom poema. Poetas e escritores trabalham com a solidão e não para a solidão e escrevem mais com a sensibilidade do que com uma caneta, aliás a caneta apenas cava a sensibilidade ou o aspecto sensível das coisas, suas camadas que podem ser digamos raspadas por uma frase que pareça vir direto delas mesmas e não apenas do eu do poeta. Trata-se de viver a imanência como uma obsessão. Ora uma pessoa que se deixa absorver pela atividade de seu trabalho, um carteiro ou um médico até o ponto de se esquecer de si, o que é terrível do ponto de vista do ser que é a lembrança de si que permite a presença do Outro e não o esquecimento que torna o Outro um tormento, uma oposição contínua, ora estas pessoas vivem uma espécie de imanência negativa onde um fragmento do mundo toma o lugar de uma gama variada que se confunde com o todo, o poeta tem uma natural inclinação para transfigurar esta imanência negativa em uma percepção física do mundo do ser-no-mundo, do nomeno do fenômeno, não é um escafandrista, tampouco um astronauta na calçada, é alguém interessado no mundo e em seu acontecer, apenas isso e quem está interessado no mundo jamais viveria fora dele.


UMA LÁGRIMA NO ORVALHO PARA O POETA EDSON BUENO DE CAMARGO

Até a próxima coluna, que em 2015 todos os meses sejam junho de 2014.



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