Obra de Igor Morski |
Por Manoel Herzog
No século XVII o poeta barroco Gregório de Matos compôs este soneto:
“Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.
Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou, morro abrasado.
Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.
Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.”
Em 1930 estreia o filme O Anjo Azul, de Josef von Sternberg, clássico da fase expressionista/realista do cinema alemão, baseado no romance de Heirich Mann (irmão de Thomas). A película revelou a diva Marlene Dietrich, e seu tema, uma valsa melancólica, trazia a seguinte letra:
“...homens, qual mariposas
em minha luz vêm se aquecer
Se eles se queimam
nada posso fazer
Sou da cabeça aos pés
Feita para o amor...”
E em 1955 o genial Adoniram Barbosa revisita o tema dos graciosos insetos:
“As mariposa quando chega o frio
Fica dando volta em volta da lâmpida pra se esquentar
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra descansar
Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando volta em volta de mim
Toda noite só pra me beijar.”
As mariposas guardam com o humano uma profunda identidade: ambos somos movidos pela pulsão de morte de que falou Freud.
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários ao blog serão publicados desde que sejam assinados e não tenham conteúdo ofensivo.