sexta-feira, 19 de junho de 2015

Obra de Igor Morski


Por Manoel Herzog

No século XVII o poeta barroco Gregório de Matos compôs este soneto:

“Ó tu do meu amor fiel traslado 
Mariposa entre as chamas consumida, 
Pois se à força do ardor perdes a vida, 
A violência do fogo me há prostrado.

Tu de amante o teu fim hás encontrado, 
Essa flama girando apetecida; 
Eu girando uma penha endurecida, 
No fogo que exalou, morro abrasado.

Ambos de firmes anelando chamas, 
Tu a vida deixas, eu a morte imploro 
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.

Mas ai! que a diferença entre nós choro, 
Pois acabando tu ao fogo, que amas, 
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.”


Em 1930 estreia o filme O Anjo Azul, de Josef von Sternberg, clássico da fase expressionista/realista do cinema alemão, baseado no romance de Heirich Mann (irmão de Thomas). A película revelou a diva Marlene Dietrich, e seu tema, uma valsa melancólica, trazia a seguinte letra:

“...homens, qual mariposas
em minha luz vêm se aquecer
Se eles se queimam
nada posso fazer
Sou da cabeça aos pés
Feita para o amor...”


E em 1955 o genial Adoniram Barbosa revisita o tema dos graciosos insetos:

“As mariposa quando chega o frio
Fica dando volta em volta da lâmpida pra se esquentar
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra descansar

Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando volta em volta de mim
Toda noite só pra me beijar.”

As mariposas guardam com o humano uma profunda identidade: ambos somos movidos pela pulsão de morte de que falou Freud. 

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