quinta-feira, 25 de junho de 2015

Spring Fever (Leslie Saeta)


Por Nane (Elian Vieira) 

INTRÍNSECA

A febre intermitente
Não vai, não fica
Frita meus neurônios
Cozinha minhas ideias
As vísceras, essas
Sarapatéis baianos
Prontas a serem devoradas
Pelos corvos de Allan Poe
Intrinsecamente revirada
Sinto o enjoo da ressaca
Jogada no mar revolto
Da minha própria enseada
Levada de encontro à pedra
Deixada deitada na areia
Vomitando disparidades
Dos pensamentos fritados
Lavas de fel abrandadas pelo mel
Mareando o estômago cozido
E queres que eu escreva o que
Além dessas minhas mazelas
Um fio tênue separando
Realidade e devaneio
Embriagados num mesmo espaço
Do cérebro viciado
Sirvo-me aos corvos de Allan Poe
Expondo meu corpo à milanesa
Extenuado e sem preconceito
Para que me comam e devorem
Antes que eu mesma me refaça
E deles me sirva
Comendo-os vivos e empenados
Quando a febre for embora (de vez)

[DES] MASCARADA

Caíram todos os meus arquétipos
Me vi nua e com frio
Sozinha, perdida sem meus estereótipos
Tão já enraizados em mim
Falsas identidades
No subterrâneo da cidade
Entre o esgoto e os ratos
Levadas no leito de concreto
A mãe, a filha, a irmã
A amiga, a bela, a fera
A louca, a puta, a insana
A santa, a moça, a criança
Restou a mulher nua
Sem máscara nenhuma
E se sem vergonha
Também sem direção
Fui tantas em uma só
Acreditei ter sido
Caiu sem aviso nenhum
A máscara de proteção
O rosto nu e sem maquiagem
Experimenta a liberdade (?)
Franqueada e nonsense
De uma realidade súbita
Por onde ir, não sei
Para onde olhar
O que fazer
Como viver
Caíram todos os meus arquétipos...

Minibio

Elian Vieira (Nane). Técnica de enfermagem, portelense e Tricolor de coração. Filha, mãe e avó apaixonada. "Eu me achava alguém normal, até que percebi que é a minha insanidade que me faz faz viver... "

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