Por Miriam Daher
Numa rua do Rio de Janeiro, cercada por edifícios modernos, havia um casarão do final do século 19, abandonado. O que fora um belo jardim com uma pequena fonte virara um enorme matagal. Seus belos gradis de ferro estavam enferrujando e perdendo peças de adornos inestimáveis. A bela edificação era tombada pelo Patrimônio Histórico.
Na vizinhança comentavam que havia nele um fantasma que tocava piano, quase sempre aos domingos. Alguns garantiam que escutavam o piano regularmente.
Crianças que moravam nas redondezas reuniram-se certa vez e combinaram de entrar no casarão num domingo qualquer. Vários desistiram por medo. Ficaram uns sete, que por estudarem música além de fazer esporte, junto aos deveres escolares, curiosos, resolveram marcar um domingo e se dirigir ao casarão para descobrir o mistério.
Em frente ao mesmo, transpuseram o pesado portão de entrada, retirando uma corrente enferrujada e entraram driblando o mato. A grande porta de madeira estava entreaberta e de cima escutava-se o som de um piano. Subiram duas escadas, sendo que a última era a do sótão, onde a música se aproximava. Naturalmente, de um piano velho lá guardado e escondido.
Lá chegando, viram um menino que estava de costas, a tocar divinamente. Deveria ter uns oito anos, como todos os ali presentes. Escutando o barulho de passos, a criança parou de tocar, virou-se e perguntou:
- Quem são vocês?
- Moramos aqui perto, nos edifícios vizinhos a sua casa. E você, quem é? Como se chama?
- Meu nome é Ernesto Nazareth e venho tocar meu piano de vez em quando.
- Você toca muito bem – disse Eudóxia. Quantos anos você tem?
- Fiz 150 anos em março de 2013!
Os cabelos das crianças ficaram em pé, de susto.
- Então você é mesmo um fantasma! – falou Marcelo.
- Sou sim.
- Tipo o Gaparzinho? - arriscou Yuka
- Claro, se vocês contarem a minha história.
- Por que você está fazendo isso? Assombrando as pessoas?
- Porque preciso resgatar 65 partituras minhas que ainda não gravaram. Não vou deixar de aparecer aqui enquanto não fizerem isso.
- E se nós te prometermos que, quando crescermos, pesquisaremos suas músicas que faltam e as gravaremos todas... Você descansaria?
- Como, se vocês ainda são crianças?
- Mas iremos crescer e todos aqui sabemos tocar um instrumento. Confia em nós!
- Muito bem, vou confiar. Cresçam logo e cumpram a promessa.
- Pode ir em paz, amigo. Em breve terás notícias nossas!
E foi assim que, poucos anos depois, Luiz Antônio de Almeida e Alexandre Dias dedicaram-se a pesquisar Ernesto Nazareth. Encontraram as partituras que faltavam e o próprio Alexandre tornou-se um grande intérprete seu, junto a Eudóxia de Barros, Arthur Moreira Lima, Yuka Shimizu, esses no piano, mais Marcelo Bratke, com sua Camerata Brasil. Dilermando, no violão e o saudoso Jacob, no bandolim.
Esses, as crianças do casarão...
Esses, as crianças do casarão...
MINIBIOGRAFIA DE ERNESTO NAZARETH
Foi um grande compositor e pianista brasileiro, nascido no
Rio de Janeiro em 20 de março de 1883. Suas peças
começaram a ser gravadas e suas partituras eram tocadas por toda “a cidade dos
pianos”, um título adequado para o Rio da Belle Époque. Compôs polcas, tangos
brasileiros valsas e chorinhos. Ficou mundialmente famoso com o tango “Odeon” e
o primeiro sucesso brasileiro nos Estados Unidos foi “Dengoso”.
Suas partituras foram encontradas quase que integralmente
faz pouco tempo e várias homenagens lhes foram
prestadas país afora e também pelo Instituto Moreira Sales.
Para saber mais, visite o site: www.ernestonazareth150anos.com.br
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