Cristiane Carvalho, do Artefato Cultural, entrevistou o empresário Rui Calisto, santista que mora em Portugal e lá deve publicar uma biografia de do poeta Martins Fontes. Acompanhe o diálogo abaixo:
1) Como você conheceu a obra de Martins Fontes?
RC: A literatura de Martins Fontes está na minha vida desde os meus sete anos de idade, pois meus pais liam para mim o “Verão” (e livros de outros poetas também), antes de dormir. Depois, quando cheguei aos dezoito anos, comecei a comprar tudo o que encontrava sobre, e de, Martins Fontes (adquiri também tudo de Vicente de Carvalho, Fábio Montenegro, Paulo Gonçalves, Rui Ribeiro Couto, Benedicto Calixto etc).
2) Quando surgiu a idéia de escrever a biografia?
RC: Em 1990 senti necessidade de escrever algo sobre o Poeta, a princípio pensei num artigo para a imprensa, depois, com as pesquisas, a coisa começou a tomar corpo e percebi que tinha material para uma Biografia. Fui “escavando”, procurando e encontrando preciosidades. Fiquei completamente estupefacto com a vida maravilhosa que teve, com suas amizades, com seu talento literário, com sua bondade enquanto médico, enfim… O início da pesquisa para a escrita da Biografia de Martins Fontes foi, exactamente, a 23 de Junho de 1990, data natalícia do Poeta.
3) O que Portugal tem a ver com a biografia?
RC: Martins Fontes teve os seus livros vendidos (bem vendidos) em Portugal. Possuiu grandes amigos em terras lusitanas: escritores, médicos, políticos etc. Pertenceu ao grande mundo que é a Academia das Ciências de Lisboa e foi agraciado com comendas do governo português pela sua labuta médica e talento literário numa época em que só eram distinguidos os reais valores.
4) Por que está levando tanto tempo para ser lançada?
RC: Como deve imaginar, pesquisar a vida e a obra de um vulto gigantesco como Martins Fontes requer paciência e cuidado. É preciso fazer com que a publicação que venha a surgir dessa pesquisa seja – de facto – merecedora de carregar em si a vida dessa potência cultural, médica e humana, portanto, o tempo neste caso é relativo. O importante é informar correctamente os leitores. Elucidá-los o melhor possível. Fazê-los compreender quem foi Martins Fontes. E – principalmente – que essa publicação (Biografia) traga a todos o prazer de o conhecer, de o voltar a ler, de o respeitar enquanto grande Poeta que é, e enquanto imenso médico que foi.
5) Que principais curiosidades sobre Martins Fontes você poderia adiantar para os leitores?
RC: Martins Fontes foi um exímio sonetista, além de ter um talento muito grande para escrever qualquer género poético. Não foi à toa que o filólogo Silveira Bueno classificou-o como “o melhor Poeta da Língua Portuguesa” depois de Camões. Foi também um excelente médico, reconhecido como “O Humanitário Irmão de Toda a Gente!”. Aliás, a sua frase “Como é Bom Ser Bom!” é histórica e repetida por milhares de pessoas do mundo lusófono.
6) Que principais diferenças existe na breve biografia de Edith Pires?
RC: A minha amiga Edith não efectuou pesquisas cuidadosas, em parte porque nunca teve tempo para elas, sempre foi uma mulher de muito envolvimento com projectos humanitários, o que fez com que a pesquisa ficasse em terceiro plano. Limitou-se a repetir os erros de antigos historiadores. Mas valeu a intensão. O que fica é o seu grande amor pelo Poeta. Não se pode querer escrever sobre uma figura esponencial como Martins Fontes sem entrar a fundo naquilo que o próprio escreveu, e sem efectuar uma longa caminhada em pesquisas.
7) Fale um pouco sobre “A Cigarra e a Formiga”.
RC: O Martins Fontes colocou no livro “Verão” dois poemas (“Profissão de Fé” e “O Pão”) que são a sua visão sobre a mítica história da cigarra e da formiga. O que fiz foi escrever uma peça de teatro (toda a prosa é minha, por isso a co-autoria) inserindo as estrofes desses poemas como “falas” das personagens.
8) Por que “A Cigarra e a Formiga” não teve divulgação no Brasil, quando se trata de dois autores brasileiros?
RC: O departamento jornalístico da editora informou a imprensa brasileira (incluindo a de Santos) sobre o lançamento (Feira do Livro de Lisboa) e a primeira apresentação em livraria (com o grande actor Ruy de Carvalho), o que aconteceu foi simples: não quiseram dar a notícia! Aliás, durante todo o tempo que duraram as pesquisas no Brasil (Junho de 1990 a Dezembro de 1999) nenhum órgão de imprensa fez uma séria reportagem, o que saíu foi simplesmente pela boa vontade de alguns colegas na área. Deixo aqui também outra nota triste: a classe política e empresarial de Santos em momento algum se manifestou para oferecer qualquer tipo de apoio, e olhe que eu conversei pessoalmente com prefeitos, presidentes de câmara, vereadores, abastados empresários, ninguém apoiou. Todas as despesas foram pagas por mim. Literalmente. Lembro-me até de um vereador (ligado a um hospital local) que usou e abusou da minha boa vontade e do nome do Martins fontes na campanha, para conseguir eleger-se, o que aconteceu. E depois do “prato cheio” deixou de ter tempo para o meu projecto, e todas as promessas de apoio escoaram-se pelo ralo.
9) Haverá lançamento em Santos?
RC: A biografia de Martins Fontes será lançada em Lisboa, em edição portuguesa. Assim como foi “A Cigarra e a Formiga”. Estou em negociações com uma editora brasileira para fazermos então uma edição no Brasil. Tudo a seu tempo.
10) Quais outros projetos você tem em vista?
RC: Em se tratando do Martins Fontes os projectos em andamento são: 1) reedição de sua obra completa (devidamente organizada. O que nunca foi feito); 2) edição de volumes de correspondência activa e passiva; 3) edição da Fotobiografia (comprei de coleccionadores centenas de fotografias de 1990 até hoje); e mais alguns que, por enquanto, não comento. Em se tratando de mim mesmo: 1) fortalecer as minhas editoras e a minha livraria; 2) Continuar a editar a minha prosa (aquela que nada tem a ver com o Martins Fontes) e a minha poesia; e mais alguns que, por enquanto, também não comento.
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