terça-feira, 18 de maio de 2010

Alessandro Atanes, para o PortoGente

Comentei há pouco tempo uma série de diálogos do escritor argentino Jorge Luis Borges, com três volumes lançados pela editora Hedra em sua coleção de livros de bolso. Da mesma editora, trato agora da coleção Poesias de Espanha: das origens à Guerra Civil, com quatro volumes, cada um com uma seleção de poemas escritos nas quatro línguas oficiais da Espanha: espanhol, basco, galego e catalão, sempre em edições bilíngues em português.

Do volume catalão, apresento dois poemas com o tema marítimo. O primeiro é À beira-mar, de Jacint Verdaguer (1845-1902), cujos versos finais falam das ondas. A tradução é do autor da seleção, Fábio Aristimunho Vargas:

Com as do mar ou as do tempo um dia
hei de rodar ao fundo;
por que, por que, enganosa poesia,
me ensinas a fazer mundos?

Por que escrever na areia os versos meus?
Quando em tuas singelas
páginas, ó praia do mar dos céus,
os farei com estrelas?

O seguinte é uma canção popular do século XVI, O marinheiro, na qual uma princesa é raptada à beira mar e lamenta seu destino frente às duas irmãs, casadas com um rei e um príncipe, mas ao final o marinheiro se revela príncipe da Inglaterra. Fiquemos com as primeiros e os últimos versos da canção que, de acordo com a edição, pode ser ouvida aqui:

Está na beira do mar uma donzela
que borda em um lenço a flor mais bela;
quando está a meio bordado lhe falta seda.

Vê chegar um marinheiro que o mar navega:
(...)
“De três irmãs que nós somos sou a mais bela;
uma é casada com um rei, a outra é princesa;
e eu, coitada de mim!, sou marinheira.

Uma tem vestido de ouro, a outra de seda
e eu, coitada de mim!, de sarja negra.

Vai em uma carruagem de ouro, a outra de prata
e eu, coitada de mim!, em uma barca.”

“Não és marinheira, não: serás rainha,
pois eu sou o filho do rei da Inglaterra,
há sete anos vago o mundo, por ti, donzela.”

Epílogo
Além de trazer os poemas em português e na língua original, os volumes trazem uma apresentação geral da coleção com uma mini-história de cada uma das línguas e uma introdução sobre a seleção, além de um quadro sinótico (uma comparação cronológico-literária entre as quatro línguas espanholas), um guia das ortografias e perfis biográficos de todos os autores selecionados. Um belo trabalho de Fábio Aristimunho Vargas, que contou com o apoio do Instituto Ramon Llull, de língua e cultura catalãs. Vargas, mestre e especialista e direito internacional, é poeta e tradutor e mantém o blog Medianeiro.

Referência:
Vários autores. Poesia catalã: das origens à Guerra Civil. Organização e tradução: Fábio Aristimunho Vargas. São Paulo: Hedra, 2009.

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