Márcia Costa entrevista Márcio Barreto

Em seu videoblog Arte e Fato, publicado no Jornal da Orla, a jornalista Márcia Costa fala da Mostra de Música Contemporânea e da estreia da peça Atro Coração.


A seguir, uma entrevista feita pela jornalista com o diretor de Atro Coração, Márcio Barreto, que atua na peça ao lado de Crhisty-Ane Amici:

Comecemos pelo nome: por que Atro Coração?
Atro significa negro, lúgubre, aziago, infausto, funesto. Relaciona-se na peça com o lado obscuro do amor, as sensações e sentimentos escondidos na profundidade do que somos, nossa inconsciência e perplexidade quando amamos.

De que se trata o roteiro?
Basicamente a peça conta a história de amor entre um músico desconhecido e uma bailarina. Mas por de traz dessa história há outra que nos remete a dois símbolos míticos presentes em diversas religiões: Lilith, a primeira mulher de Adão, quando expulsa do Paraíso é conduzida pelo anjo Gabriel ao lado escuro da Lua. Ela invade seus sonhos e o seduz. Como castigo por seu amor são levados à condição humana, vagando sem a memória de suas vidas passadas até que se encontram.

Como foi o processo de criação da peça?
O texto foi escrito há 19 anos a partir de uma livre adaptação das obras Romeu e Julieta e Otelo (William Shakespeare), O Colecionador (John Fowles), A Lua na Sarjeta (David Goodis) e Cenas de um Casamento (Ingmar Bergman). Após a tentativa da primeira montagem (1993), com a atriz Christy-Ane Amici, perdi o texto original. 17 anos depois, reencontrei-a através das redes sociais em um grupo de amigos que atuavam juntos na época. Disse-lhe que havia perdido o texto. Grata foi a surpresa quando ela comentou que tinha ainda uma cópia. Decidimos tentar novamente montar a peça. Voltamos a ensaiar e o texto foi sendo reescrito através das indagações e descobertas que surgiam. Um ano depois, tivemos que parar os ensaios devido às mudanças típicas da vida de todos nós, exatamente como ocorrera há quase vinte anos. Não desistimos e começamos a ensaiar novamente no começo desse ano. O processo criativo foi calcado na pesquisa, na reflexão e na experimentação em torno do seguinte questionamento: não importa o que é o amor, mas o que fazemos com ele. A peça pode fazer com que o público olhe para si e reflita sobre esse sentimento tão nosso e enigmático que é o amor.

O que Atro Coração traz como contribuição ou diferencial para a produção teatral da região?
Estamos a procura de uma arte que expresse nossa identidade coletiva, nossas memórias e planos futuros, onde o cinema, música, dança, e literatura possam convergir para a dramaticidade da cena, mostrando as personagens por dentro de seus sentimentos, sonhos e pensamentos. Um teatro que possibilite a reflexão, que faça com que olhemos para nós, para dentro de nossas dúvidas. A maior contribuição que podemos dar é justamente uma pergunta: o que procuramos expressar e mudar com nossa arte? Como diferencial Atro Coração utiliza os conceitos da Arte Contemporânea Caiçara, tais como o entrelaçamento de linguagens, o minimalismo e a junção entre a ancestralidade e a contemporaneidade.

Você é um artista que busca transitar por várias artes, como a música, o vídeo, a literatura, a dança. Como é adentrar o mundo do teatro? Que diferenças e ou peculiaridades você tem encontrado nesta linguagem artística?
Na verdade, depois da literatura, o teatro foi minha primeira escola. Comecei aos 12 anos nos grupos amadores que, na década de 80, pululavam em criatividade na região. Trabalhei em peças como O Guará do Lago Encantado, Tem Cupim na Torre da Igreja, Perto de Lugar Nenhum, entre outras. O fato de transitar por diferentes linguagens se deve a esse encontro. Na música também é assim. Meu trabalho como músico e compositor também está presente com o grupo Percutindo Mundos que participa da peça criando as ambiências e paisagens sonoras do texto. O vídeo e a fotografia possibilitam que pensamentos, memórias e sentimentos tornem-se visíveis e interajam com o público.

Atuar e dirigir uma peça tem sido um desafio grande?
Um imenso desafio que tem feito com que eu me revire por dentro. Separar-se entre atuação e direção não é nada fácil, mas os desafios são sempre bem-vindos, pois nos obrigam a sair de nossa área de conforto, procurar soluções para as dificuldades e continuar em nossa busca. Preferia ter apenas dirigido a peça, mas após algumas tentativas com outros atores, acabei tendo que atuar ou não a montaríamos. Inicialmente, gostaria de trabalhar com um elenco onde vários atores se revezassem nas duas personagens.

Qual é a trajetória de Crhisty-Ane Amici no teatro?
Christy-Ane Amici vem da dança. Começou no teatro coreografando e logo se viu como atriz. Participou de festivais, ganhou prêmios e fez parte de um momento muito importante na cena teatral da região. Depois de um tempo afastou-se dos palcos voltando agora com Atro Coração. Christy-Ane é uma atriz dedicada e minuciosa em seu trabalho, capaz de dar vida aos mínimos detalhes da personagem. Sua atuação é cativante, cheia de matizes, verdadeira e forte.

Qual foi o resultado deste seu trabalho em parceria com ela?
Trabalhar com ela é crescer a cada dia, vencer desafios e aprender a não desistir. O trabalho permitiu que refletíssemos sobre nós enquanto artistas e seres humanos.

Por que vale a pena ver Atro Coração? Faça um convite ao público.
Atro Coração lança um olhar sobre quem somos quando amamos, quando a vida não faz mais sentido e nos perguntamos: até onde chega o amor? Uma peça que nos remete aos nossos símbolos mais profundos, amor, ódio, sonho, realidade, loucura, medo e desejo.

A seguir, um trailer da peça:



Serviço
Atro Coração – 16/07 às 21 h – Teatro Guarany – Centro Histórico – Santos /SP.
Convites antecipados na bilheteria do Teatro Guarany a partir das 14 h – todos os dias.
R$ 20,00 – classe artística e estudantes pagam meia.
R$ 5,00 - Sócios e usuários do SESC