Escultura de Damiano Taurino |
Por Dhenifer Rocha
Meu corpo inerte adormece
Junto com a lua vermelha
Pendurada na janela
Meus dedos choram com a
graxa ainda marcada em
suas pontas e
na palma de minha mão
a sombra da dor carregada
em meu dorso, pesa,
as mãos deles estão sujas
não de graxa,
mas de vingança e ódio
O caos está à porta,
velozmente o corpo
toma a alma e os lábios
suplicam pela hora última
o amanhã adormece no
sofá da sala
e o vento sopra contra mim e
a favor deles
minha voz entoa súplicas de silêncio,
e
minha boca teme a sede saciada
com o pó da terra
Regada com o sangue derramado
das pobres e inúteis pessoas
a terra bebe e come toda
dor e sofrimento
devora a carcaça dos corpos
que eles ceifaram
mas a chuva cai e
lava toda a imundície
e lá estão minhas mãos
sujas de graxa
...
Não nasci aqui
Não nessa cama
Com lençóis manchados
Não nesse quarto
Sangrando pelas paredes
Não nessa solidão
Que jorra de meus olhos
Não nos fios brancos
Da cabeça daquele senhor
Que foge do urologista
Aqueles utensílios
Que carrego comigo
Pente navalha chave bússola
Não servem para nada
Não, nada serve
Nunca serviu
Atravessei toda a cidade
Para esbarrar nessa pedra
E ouvi-la cantando
Em dó maior
Mas nada disso adianta
Não nasci aqui
...
Não sou dona do meu pé
eles seguem a longa estrada
às vezes beirando o abismo
às beirando o nada
sou nômade em mim
pois mudo constantemente
o meu corpo e minha mente
nem sempre sou mulher
posso ser o que quiser
sou bicho do mato, homem bruto
inseto e até um fruto do mar
nem sempre sou humano
às vezes sou silêncio, vento
ou lua a brilhar
quando quero sou a pedra de Sísifo
afrodite ou cordas de Lira
sou a palavra
metade corpo
metade espada
nada em mim é previsível
sou as trevas
sou a luz
sou gravidade
a completa insanidade
me traduzo no silêncio
que teu corpo
todo invade
Sobre a autora
Dhenifer
Rocha, por ela mesma: é uma moça de 17 anos, que dedica grande
parte do seu tempo com a leitura, escrita e ama cantar na igreja. Futura
estudante de Direito (ou Letras, rs). Pretende publicar seu primeiro livro,
mais tardar em 2016.
muito bom
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