A página do dia 2 de outubro de 1994 |
Um mago é confrontado por dois correligionários do Mestre Pron por ter previsto sua vitória nas eleições, enquanto a soma dos votos acabaria lhe dando a terceira colocação. Essa é a situação inicial de “No que vai dar isso”, de Plínio Marcos, texto publicado em 2 de outubro de 1994, no extinto caderno Mais!, da Folha de São Paulo, um dia antes do primeiro turno das eleições que levariam Fernando Henrique Cardoso à presidência do Brasil.
Exigindo satisfações do mago, eles acabam por ouvir o seguinte sobre FHC:
“Está eleito. Mas não ganhou. Perdeu. Perdeu de forma fragorosa. Perdeu sua dignidade, seu auto-respeito, seu amor próprio. Vendeu sua alma ao diabo. Traiu seus antigos amigos, seus ex-colegas, seus princípios. Jogou todo um passado de lutas respeitável no lixo. Ficou claro que ele não passa de mais um intelectual ridículo, um marginal de classe média querendo ganhar status através da cultura. Ele se elege presidente. Tá. Mas não ganhou nada. Terá o desprezo da própria mulher, dos novos amigos, não terá opinião própria. Será um estúpido boneco de ventríloquo sentado no joelho de um gorducho senador baiano, ou no joelho de um puxador de cordéis dos programas de televisão. Está liquidado. Perdeu. Vai virar um panaca como aquele que pintava o bigode e os cabelos. Vaidoso, vai escrever um libreto sobre o Plano Real e pressionar os velhotes caducos da Academia Brasileira de Letras, até conseguir a cadeira da próxima vítima que sucumbir. Triste fim vai ter esse pavão de bunda fria e do bicão grande. A história um dia falará da derrota de sua alma. De como é torpe sua traição aos seus princípios.
O que o mago disse sobre Eneias |
Sobre Lula, responde: “Pobre sapo. Vai ficar longos anos chiando de fora. Sem saber o que o futuro lhe reserva.” Até aí, nada demais, uma inteligenciazinha mediana conseguiria traçar - e até aumentar - esses dois perfis sem muito problema.
Tudo isso acima é para dar contraste com o que vem a seguir, o lado profético do texto de Plínio: a “vitória” de Eneias, o mestre Pron, que aconteceria fora das eleições:
“Esperar. Continuar berrando seu nome com entusiasmo… Eu sou… Eu sou… Talvez seja a única pessoa no país que pode afirmar que é. Que é ele mesmo. Ridículo. Nazistóide. Maluco. Mas ele pode gritar que ele é. O mestre Pron. Pode berrar também que quer ordem. Que exige ordem. Que tem… teve um minuto e pouquinho na TV… Com três minutos ele se elegia. Eu sou… Meu nome é… Ordem. E marcou. Cresceu… Vai se impondo. Está no inconsciente coletivo do povo. Todo mundo ri dele. Mas sabe seu nome… E tem sua imagem marcada. O mestre Pron ganhou. Foi o único vencedor. O tipo de aranha que criou é forte, marca fundo nas pessoas. Como o Jânio… como Hitler…
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários ao blog serão publicados desde que sejam assinados e não tenham conteúdo ofensivo.