terça-feira, 29 de março de 2011

Ademir Demarchi

Sem pretensões de discussões estéticas e motivações que não as de divertir, essa peça tem cumprido um importante papel de formação de público e está se mantendo em cartaz na região de Santos com dezenas de apresentações cumprindo seu objetivo de divertir. O sucesso da montagem ressalta também o trabalho da companhia Casa3deArtes que já tem 8 anos e dezenas de produções.

A peça é engraçada, com a ótima performance dos 3 atores que a mantêm no palco e tem conquistado o público com a receita antiga de travestimento de homens em papeis femininos, uso dos clichês e estereótipos da cultura de massa, sobretudo cinema, cujas divas inspiram a produção.

Se a peça não tem pretensões de discussão estética, tem sim demonstradas preocupações com a técnica: a engraçada trilha sonora feita por Nívio Motta, o apurado figurino de Kadu Veríssimo, também autor do texto e ator juntamente com Junior Brassalotti e Luiz Fernando Almeida, a maquiagem superlativa que ressalta o histrionismo bufão dos atores, feita por Fernando Pompeu, técnicas de circo na encenação, projeção de cinema mesclando-se com o teatro na iluminação de André Leahun e Marcelo Wallez e a direção competente de André Leahun.

O texto é uma assumida paródia dos filmes clássicos O Que Terá Acontecido a Baby Jane e A Malvada, em que despontam Bette Davis, Joan Crawford e Anne Baxter, com amplo destaque para as malvadas personificadas por Bette Davis que “baixa” em Junior Brassalotti como uma estátua que mira o céu como um espelho em que se vê.

Brassalotti é doce, a maldade parece não caber em sua prática, além disso como a peça se assume como clichê do clichê, não há mais necessidade de impingir maldade na personificação desse eco de Bette Davis. Por isso Brassalotti, nessa peça, quando mira o infinito em um de seus figurinos de vestidos longos em que tão bem cabe transcende Bette Davis para, por instantes, se tornar uma espécie de estátua grega.

Já Kadu Veríssimo é o escracho total e sua personificação diz tanto ao público que a peça faz questão de explorar momentos solo como se tudo fosse uma jam session em que os risos se amplificam quando isso acontece.

Luiz Fernando Almeida como mãe, secretária e empregada da malvada rouba a cena em vários momentos com suas caras impagáveis, exaltadas pela eficiente maquiagem, uma delas em que parece um peixe balofo a ponto de nem mais enxergarmos seu corpo por estar a cara toda dentro da água do aquário patético que ele sugere encenar.

O argumento teve como base de pesquisa o denominado “teatro besteirol”, que fez 30 anos de existência em 2010 depois de ter sido criado no Rio de Janeiro, justamente inspirado nas produções hollywwodianas e nas antigas chanchadas do cinema brasileiro, assim como nos programas de auditório. Dos dois filmes citados, se fundem em três personagens da peça duas irmãs que se odeiam, Rosy e Betty Blue, mais a mãe, que são suficientes para construir esse texto em que a busca da fama e do sucesso moldam os personagens para dar base para o ridículo humano que se transforma em riso.

Outra das receitas do sucesso da peça é a referência constante a locais, pessoas da cidade e fatos recentes e conhecidos por todos, que são citados e ridicularizados com censo de humor irônico nos delírios das personagens. Isso garante o riso e uma intimidade com o público que aproxima atores e espectadores.

Não pude assistir às apresentações no foyer do Teatro Municipal, onde tenho certeza que a peça teve seu melhor momento, incorporando a improvisação e a proximidade com o público para obter seus melhores resultados de animação e riso. A apresentação no palco do Teatro Municipal, neste fim de semana, por isso, perdeu um pouco desse encanto dado o tamanho do palco e a distância da platéia, tendo momentos que parecia se arrastar, o que sugere que essa peça é indicada para espaços pequenos para obter o melhor aproveitamento conseguido com a proximidade do público.

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