Uma crônica de Ademir Demarchi
Nos próximos dias 15, 16 e 17, Curitiba abrigará o evento ZOONA – encontro literário de Curitiba, que reunirá mais de 30 escritores, poetas, performers e artistas, de diferentes localidades, em homenagem às obras dos escritores Valêncio Xavier e Wilson Bueno. Acontecerão mesas-redondas, performances, mostra de vídeos, intervenções, lançamentos de livros e publicações, leituras de poesia e prosa, exposição documental e lançamento do suplemento literário vagau – edição exclusiva do evento, que é organizado por escritores e artistas, daí o seu diferencial de abordagem, diferentemente do que se faz habitualmente nas universidades.
A homenagem objetiva apresentar trabalhos inventivos que correspondam ao legado crítico e experimental de Valêncio Xavier e Wilson Bueno. Entre os convidados das mesas-redondas estão os escritores Luis Ruffato (SP), Paulo Venturelli (PR), Raquel Stolf (SC), Victor Sosa (México) e Luis Serguilha (Portugal). Documentário, entrevista, videoarte, videopoema e filmes do Valêncio Xavier comporão a mostra de vídeo ZOONA, além de curtas de ficção de diversos diretores. Programação aqui.
Enquanto o evento não acontece, já se pode ver a exposição apegos:, que vai até 17 no Museu da Gravura Cidade de Curitiba. Estive lá, curioso porque conheci esses escritores e de Valêncio Xavier publiquei o único, que ele reconheceu como tal, poema, na revista Babel. Ele não se reconhecia poeta, mas um criador de ficções ilustradas que não se continham no texto apenas, incorporando todo tipo de informação visual, daí seu apreço também pelo cinema, tendo feito vários curtas e médias metragens.
O primeiro impacto que recebi foi de que toda a exposição estava numa sala de 4 x 4 metros aproximadamente, pois eu, com a fantasia de grandiosidade que tenho e pelo apreço a eles, talvez imaginava algo bem maior. Foi um desapego. Várias fotos, textos manuscritos, objetos, quadros e todo tipo de coisa que somente escritor e artista guarda estava lá, como sinais do que foi sua obra. A exposição parece pequena mas tem uma grandiosidade exponencial na medida em que se trata mal a memória dos escritores e artistas do país.
Por isso minha segunda e maior surpresa foi entrar num sebo após a visita à exposição e descobrir que os livros de Valêncio Xavier estavam à venda, apontando mais um indício de que o Estado não tem interesse em adquirir acervos formados por intelectuais para constituir bibliotecas. Talvez o Estado não tenha nem mesmo política cultural, que se dirá alcance para reconhecer a importância de uma biblioteca formada por um escritor ou artista, com livros garimpados um a um formando ela mesma uma espécie de obra crítica, de leitura do mundo, que transmite uma experiência. A família do escritor até que tentou dar um destino público à sua biblioteca, no entanto não encontrou interesse por parte das instituições públicas. Trata-se, também, de uma poupança familiar, constituída a muito custo, assim é justo que os livros tenham voltado a circular, indo para um sebo, para que encontrem novos leitores e produzam novos significados e reflexões sobre a vida humana.
Muitos dos livros do Valêncio vieram comigo, até mesmo alguns que dei a ele e que estão esgotados, como exemplares da revista Babel. Esses livros, como celulas e átomos se espalharam como ele, vindo a compor outras bilbiotecas. E assim vai a vida. Ou a morte.
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sexta-feira, 8 de abril de 2011
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