terça-feira, 15 de junho de 2010

Alessandro Atanes

Voltei a escrever na semana passada (Raízes portuárias) sobre como o porto de Santos é descrito por poetas que moram na cidade, de onde cantam a nostalgia da partida ao acompanhar continuamente embarques e desembarques de navios, sem partir em nenhum. Sentimento lírico semelhante encontrei em José Agustín Goytisolo (1928-1999) neste poema de seu terceiro livro, Claridad, publicado em 1961 em Valência:



O Sino

Nossa casa ficava perto
de uma passagem de nível. Sino
e os obstáculos desciam.

Do jardim eu seguia
os movimentos do guarda.
Gorro e bandeira encarnada.

Trens passando velozes
e os carros que aguardavam.
Eu assomado à varanda.

Queria saber aonde
os rudes trens iam.
O que há atrás das montanhas?

Só os das proximidades
paravam. Senhoras altas
com cestos as criadas.

E as crianças como eu?
Fui para o colégio. Na classe
segui ouvindo o sino.

A versão original:

La Campana

Nuestra casa estaba cerca
de un paso a nivel. Campana
y las barreras bajaban.

Desde el jardín yo seguía
los movimientos del guarda.
Gorra y bandera encarnada.

Trenes pasando veloces
y los autos que aguardaban.
Yo asomado a la baranda.

Queria saber adónde
los rudos trenes llevaban.
¿Que hay detrás de la montaña?

Sólo los de cercanías
paraban. Señoras altas
con cestos las criadas.

¿Y los niños como yo?
Me fui al colegio. En la aula
segui oyendo la campana.

Referência:
José Agustín Goytisolo. Poesía. Seleção, prólogo e notas Carme Riera. Coleção Letras Hispánicas. Madri, Espanha: Ediciones Cátedra, 2001.


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