sábado, 5 de junho de 2010

Márcia Costa

Ela faria cem anos no dia 09 de junho. Mulher que deixou marcas, Patrícia Galvão (1910-1962) continua presente entre todos que de alguma forma a conheceram, seja porque conviveram com ela ou porque pesquisaram sua vida-obra. Independente de como o caminho das pessoas se cruza com o de Patrícia, arrisco dizer que é unânime o reconhecimento da pessoa no mínimo instigante que era.


Patrícia Galvão por Portinari

O centenário de nascimento de Patrícia Galvão surge como uma oportunidade de acrescentar outra faceta àquelas mais conhecidas – a de musa modernista e militante comunista: é a sua intensa e apaixonada contribuição para a a produção e difusão da literatura e do teatro do século XX no Brasil, tanto por meio de sua ação como agitadora, como atuando como jornalista cultural, além de sua produção como ficcionista, critica literária e de teatro, tradutora e diretora, atividades que manteve até pouco tempo antes de morrer, em Santos.

Santos, São Paulo, Brasília e várias cidades do país prestam homenagem a Patrícia em seu centenário. Nos meses de junho e julho, na Casa das Rosas, na capital, haverá apresentações, oficinas, reflexões e releituras das múltiplas facetas dessa poeta, intelectual, militante política e jornalista. Uma forma de conhecer um pouco mais da história, obras e pensamento de Pagu, convida Rudá K. Andrade, historiador, cineasta e neto de Patrícia.

Na abertura oficial das comemorações, em 9 de junho, a partir das 19 horas, a atriz Miriam Freeland (que interpretou Pagu na minissérie Um só Coração, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira) fará a leitura de cartas trocadas entre Pagu e personagens que revolucionaram o mundo das artes e da cultura no Brasil.

A professora Lúcia Maria Teixeira Furlani, que desde 1998 pesquisa a vida da musa do Modernismo, falará sobre as várias fases de Patrícia, uma mulher de vida tumultuada, agitadora política e cultural de vários tempos. “Afinal, quem era Pagu? Vamos passar por sua infância, pela adolescência quando já escandalizava as bem-pensantes famílias paulistanas com suas roupas e maquiagem, e até o seu romance proibido com o galã Olympio Guilherme. Em seguida, sua ‘adoção’ pelo casal Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, que terminou em novo escândalo quando Oswald de Andrade separou-se de Tarsila e acabou casando com a jovem normalista. O nascimento de seu filho Rudá, o encontro com Luiz Carlos Prestes, o ativismo político e até o final de sua vida,com a militância cultural, em Santos, casada com o escritor Geraldo Ferraz”, adianta.

Lúcia é autora de livros sobre Patrícia Galvão e fundadora do Centro Pagu Unisanta, que reúne um acervo de mais de 3 mil documentos. Junto com Geraldo Galvão Ferraz, filho de Pagu e Geraldo Ferraz, escreveu o livro Viva Pagu – Fotobiografia de Patrícia Galvão, com lançamento pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Editora Unisanta em 1º de julho, na Casa das Rosas Ainda como parte das comemorações do centenário, será inaugurada uma exposição no mesmo dia e local reunindo documentos e fotos inéditos da vida de Pagu, em parceria com a Universidade Santa Cecília, de Santos. Em Santos, em 16 de junho, será aberta a exposição Santos e Pagu no Museu do Café. O lançamento do livro de Lúcia e Geraldo Galvão será em 12 de agosto na Unisanta.

Junto com Juliana Neves, terei o prazer de participar dessa programação discutindo o papel de Patrícia no jornalismo. Neste campo, um dos trabalhos de maior expressão dela foi a criação, nos anos 40, junto com o companheiro e também jornalista Geraldo Ferraz, do Suplemento Cultural do jornal Diário de S. Paulo, tema da dissertação de mestrado de Juliana Neves na área de Ciências Sociais, publicada em livro em 2005 sob o título Geraldo Ferraz e Patrícia Galvão: a experiência do Suplemento Literário de Diário de São Paulo nos anos 40. Além de mostrar a atuação do casal no jornal, o livro é um retrato da cultura paulistana nos anos 40.

Depois que o Suplemento acabou, Patrícia e Ferraz vieram para Santos, onde mantiveram trabalho de mesmo nível. Ele, editor do jornal A Tribuna; ela, autora de colunas sobre teatro, televisão, literatura e crônicas sobre a cidade em um dos diários mais antigos do país. Na dissertação de mestrado em Comunicação Social que defendi em 2008 pesquisei em A Tribuna a atuação desta intelectual, que extrapola as páginas do jornal e se espalha por Santos, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris..., cidades que ela visitava para se atualizar e para encontrar amigos, com os quais dialogava sobre o universo cultural. Para a pesquisa acadêmica aprofundei-me sobre o estudo da coluna Literatura, e entrevistei cerca de 30 testemunhas da época. Inspirada pela proposta sociológica de investigação de Juliana, nos últimos dois anos ampliei a pesquisa para a atuação de Patrícia no âmbito do teatro e do seu cotidiano em Santos. Este material estará reunido no livro De Pagu a Patrícia, que pretendo lançar pelo Instituto Artefato Cultural em dezembro, mês do seu falecimento, uma forma de lembrar seu legado, que se mantém vivo e atual. Eu e Juliana Neves dividiremos a mesa Pagu no Jornalismo, na Casa das Rosas, no dia 29, às 20 horas.

A produção de Patrícia ao longo de 30 anos na imprensa está sendo reunida em uma obra de quatro volumes sob a coordenação do professor K. David Jackson, da Universidade de Yale. Este trabalho de fôlego, realizado pelo professor desde 2006, conta com o apoio do Centro Unisanta de Estudos Pagu (Santos). Jackson falará sobre o jornalismo realizado por Pagu em São Paulo e Santos no dia 1º de agosto, às 20h.

Entre outras atividades também na Casa das Rosas, estão a apresentação de Angu de Pagu, espetáculo que conta a história de diversas “Pagus” em seis momentos marcantes de sua vida, dirigido por Gal Martins. Entre as mesas redondas, cito Pagu no Cinema, conduzida por Rudá K. Andrade e Pedro Paulo Rocha. Haverá ainda palestras sobre a relação de Patrícia com o teatro, como Pagu na Dramaturgia, com Christiane Tricerri, e outra sobre o interesse de Pagu pelo teatro nos últimos dez anos de sua vida, ministrada por Lúcia Furlani. A primeira Edição Especial da Revista Cultural, lançada no local, será dedicada a Pagu.

Além da justa homenagem, a diversidade da programação traduz o próprio espírito de Patrícia, uma aventureira – no sentido em que ela mesma definia o escritor e intelectual de vanguarda – sempre arrebatada pela arte: “A minha possível irresponsabilidade recusa fechar a única porta para um mundo erigido de acordo com o nosso desejo. Que seria da vida sem poesia?”.

Para a programação completa, clique aqui.

1 comentários:

  1. Opaa!

    Agora sou eu quem diz: Beeleeeeza de programação em homenagem a Pagu.
    E a santista, mineira, mato grossense, Márcia Costa sempre envolvida.

    Eugênio Martins Júnior

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