Alessandro Atanes
Há duas semanas Santos ganhou um novo espaço cultural, o Estúdio Valongo, na Rua Visconde de Vergueiro, 6, coletivo formado pelos artistas Fabiola Notari, Márcia Santtos, Juliana Okuda e Fabricio Lopez, que já mantinha seu estúdio no mesmo prédio. Além dos residentes, a exposição de abertura conta também com a presença de Luise Weiss, Lídice Moura, Luciano Gonzaga e Edu Marin.
Nas paredes do Estúdio, imagens portuárias e marítimas: uma pintura de Luciano Gonzaga com um guindaste levantando a saia de uma mulher e uma reimpressão de cartazes tipo lambe-lambe que Fabrício Lopez produziu há dois anos e espalhou por ruas do Valongo e da Vila Madalena em São Paulo com versos de Vicente de Carvalho, “Mar, belo mar selvagem”, e Flávio Viegas Amoreira, “Chuva no mar é desejo”.
As paredes do estúdio foram cobertas também com as páginas de Porto, Valongo e Mont-Serrat.Santos, jornal de fotografias destes locais tiradas por Edu Marin. De jornal, o trabalho mantém apenas o suporte, isto é, folhas de papel jornal dobradas entre si, mas, além da assinatura que aparece apenas na última página em letra miúda, não há qualquer coisa escrita ali, transformando o objeto cotidiano e descartável em uma publicação que vale mesmo a pena guardar, como na imagem abaixo, que ocupa as páginas centrais.
É bem interessante como a fotografia de Marin dialoga com a imagem abaixo, de outra origem, uma gravura do poeta Alberto Martins, da série que fez para ilustrar seu livro Cais, de 2002.
Mas acredito que as imagens de Edu Marin mantenham um diálogo ainda mais forte com a própria poesia de Alberto Martins. É só cotejar as fotos abaixo com o poema Da Ponta da Praia:
Epílogo
Escrevi uma vez sobre como os poemas de chegada ao Porto de Santos escritos por Pablo Neruda, Elizabeth Bishop e Blaise Cendrars mantêm a mesma estrutura narrativa, desde a aproximação ao Porto, passando pela sucessão de paisagens até a chegada ao cais, como se respondessem a um apelo narrativo sugerido pelo espaço portuário. Talvez a proximidade entre a obra de Marin e a de Martins também surja do fato de ambas responderem a este apelo dos cascos e das ferrugens no cais.
Referências:
Alberto Martins. Cais. São Paulo: Editora 34, 2002.
Edu Marin. Porto, Valongo e Mont-Serrat, 2005.
Há duas semanas Santos ganhou um novo espaço cultural, o Estúdio Valongo, na Rua Visconde de Vergueiro, 6, coletivo formado pelos artistas Fabiola Notari, Márcia Santtos, Juliana Okuda e Fabricio Lopez, que já mantinha seu estúdio no mesmo prédio. Além dos residentes, a exposição de abertura conta também com a presença de Luise Weiss, Lídice Moura, Luciano Gonzaga e Edu Marin.
Nas paredes do Estúdio, imagens portuárias e marítimas: uma pintura de Luciano Gonzaga com um guindaste levantando a saia de uma mulher e uma reimpressão de cartazes tipo lambe-lambe que Fabrício Lopez produziu há dois anos e espalhou por ruas do Valongo e da Vila Madalena em São Paulo com versos de Vicente de Carvalho, “Mar, belo mar selvagem”, e Flávio Viegas Amoreira, “Chuva no mar é desejo”.
As paredes do estúdio foram cobertas também com as páginas de Porto, Valongo e Mont-Serrat.Santos, jornal de fotografias destes locais tiradas por Edu Marin. De jornal, o trabalho mantém apenas o suporte, isto é, folhas de papel jornal dobradas entre si, mas, além da assinatura que aparece apenas na última página em letra miúda, não há qualquer coisa escrita ali, transformando o objeto cotidiano e descartável em uma publicação que vale mesmo a pena guardar, como na imagem abaixo, que ocupa as páginas centrais.
É bem interessante como a fotografia de Marin dialoga com a imagem abaixo, de outra origem, uma gravura do poeta Alberto Martins, da série que fez para ilustrar seu livro Cais, de 2002.
Mas acredito que as imagens de Edu Marin mantenham um diálogo ainda mais forte com a própria poesia de Alberto Martins. É só cotejar as fotos abaixo com o poema Da Ponta da Praia:
Da Ponta da Praia
Tão perto de tocar
o instante quase-já
de toda viagem;
no entanto, rente à praia
é tanto rente ao fundo
que só percebo
o espesso casco negro
brilhando à tona
um segundo. E depois?
Viagem houve de fato?
Ou tudo não passa
de um golpe
do acaso?
Mas –
e o casco?
É úmido. Está coberto
de cracas e a ferrugem
que rói as chapas
rói a carga
é visível
da Ponta da Praia
a olho nu.
Da calçada vejo
a quina de aço
– feito cunha –
na paisagem:
a Pouca Farinha
o forte em ruínas
o Góes... e por aí vai,
devorando a outra margem.
Boa viagem.
Epílogo
Escrevi uma vez sobre como os poemas de chegada ao Porto de Santos escritos por Pablo Neruda, Elizabeth Bishop e Blaise Cendrars mantêm a mesma estrutura narrativa, desde a aproximação ao Porto, passando pela sucessão de paisagens até a chegada ao cais, como se respondessem a um apelo narrativo sugerido pelo espaço portuário. Talvez a proximidade entre a obra de Marin e a de Martins também surja do fato de ambas responderem a este apelo dos cascos e das ferrugens no cais.
Referências:
Alberto Martins. Cais. São Paulo: Editora 34, 2002.
Edu Marin. Porto, Valongo e Mont-Serrat, 2005.
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